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AMINHA MISSÃO JUNTO AO PE. JOSÉ DE ANCHIETA
A minha missão junto ao Pe. José de Anchieta
Henrique Pompilio de Araujo

Resumo:
Anchieta teve uma vida muito dificil no Brasil, mas ele teve ajuda de outros padres. Naquele tempo eu estava reencarnado e o ajudei muito.

A MINHA MISSÃO JUNTO AO PADRE JOSÉ DE ANCHIETA
Henrique P. de Araújo – A minha reencarnação junto ao Pe. José de Anchieta. Obs. A história do Brasil não conta este fato que foi muito doloroso para nós.
     Eu renasci na Espanha ainda e ali fiz os cursos fundamentais para a preparação. Nascera como filho de comerciantes. Eles tinham vários filhos e eu acabei sendo o mais novo. Quase todos os meus irmãos seguiram a carreira do pai e as meninas se casaram bem cedo. Assim que terminei os estudos preliminares, pedi aos meus pais para ir estudar em Coimbra. Eles não relutaram muito e tudo foi feito para que eu fosse pra lá.
     Em Coimbra eu me preparei e comecei os meus estudos. Era um estudante muito aplicado e os professores gostavam muito da minha pessoa. Terminei o curso de teologia, mas não fui pra lugar algum. Como eu fora um aluno aplicado, fui convidado para trabalhar no próprio instituto e isto me honrou muito. Ali eu trabalhei por vários anos até que ouvi rumores de que uma nova expedição viria para o Brasil. Era uma expedição de braços para o trabalho e religiosos que o governo português estava preparando para explorar e catequizar os índios no Brasil. Segundo me informaram, era uma colônia que ficava no fim do mundo, que havia muito perigo ali, existiam animais ferozes e um pessoal chamado índio, que até comiam carne humana. Muita gente não queria ir para o Brasil e o governo português tinha dificuldade em ajuntar o pessoal para a navegação. Teve até mesmo que obrigar muitos presos a ir para lá. Eles já estavam condenados mesmo e se morressem não fariam falta em Portugal.
     Eu me empolguei muito com esta viagem. Soube que nesta caravana viriam alguns padres conhecidos meus. Entre eles estaria o Padre José de Anchieta, um noviço espanhol muito falado em Portugal. E assim foi feito. Eu me integrei neste grupo religioso. Vinham sete padres nesta missão e nós seguimos na Frota do segundo Governador Geral do Brasil, Duarte da Costa. Foram mais de dois meses de viagem pelo mar. Eu nunca tinha adentrado o mar para nada e confesso sinceramente que estava muito enjoado daquele balanço do navio. A princípio vomitei muito, mas eles tinham uns remédios amargos que acabavam com a ânsia de vômito. Fui me acostumando. Aportamos em Salvador, mas não demoramos muito e partimos para Capitania de São Vicente.
     A viagem de São Salvador não foi nada agradável. Partimos no mês de outubro, época de grandes chuvas, ventos e temporais. Iam ao sul dois barcos. Em um ia o Pe. Leonardo com outros padres e no outro o Pe. José de Anchieta e eu. Saímos tranquilos de salvador. Conosco viajavam vários braçais. Tarde da noite um forte vendaval nos atingiu. Ondas gigantescas apareceram no mar. O pequeno navio ficou todo agitado. As luzes a base de óleo se apagaram todas. E ficamos dançando no meio do mar. Dizem que padre não tem medo de morrer, mas eu já estava é desesperado. Já estava me vendo como comida de tubarão. Será que tubarão gosta de padres? Eu não queria nem saber do que estava me esperando. Segurei numa parte do navio e me ajoelhei pedindo proteção ao mestre Jesus. O barco empinou todinho de bico pra cima, depois virou e empinou a parte de trás. Assim eu era arrastado ora para frente, ora para trás. Não sei por que, mas nestas horas a gente esquece até o nome dos santos, quanto mais das rezas. Eu havia esquecido até o Pai Nosso. Este sofrimento demorou muito tempo. Eu não sabia onde estava Anchieta, nem queria saber. Queria era encontrar um buraco para meter a minha cabeça. Foi então que senti um estrondo enorme. Eu logo pensei: pronto, acabou tudo. Estamos mortos, mas... a coisa estava apenas começando. O navio despedaçou-se todo no mar e ficou somente pedaços de madeira boiando. A escuridão era total. Ouvi gritos de um lado e outro. Senti o gelo da água em meu corpo e sabia que estava boiando. Comecei a nadar, sem saber para onde, pois a escuridão era total. Nem me lembrei de salvar ninguém, como? Eu também estava morrendo – pensei. Não sabia para onde ia, quando vi algumas luzinhas. Só então percebi que estava nadando a toa, pois o local era bem raso e estávamos num banco de pedras do mar. Fui caminhando bem devagar por aquelas pedras pensando que era Jesus Cristo que estava ali para me receber, só sendo, pois eu já estava morto... mas... a surpresa, a maioria dos padres já estava ali, todos sãos e salvos. O dia estava amanhecendo. Foi a primeira vez que eu agradeci por não ser Jesus que estava ali, mas os padres, pois agora eu sabia que ainda estava vivo. Eu não disse nada pra ninguém. Envergonhado por ser tão covarde num momento tão difícil, eu me sentei numa pedra e fiquei refletindo. Eu não tinha coragem nem pra morrer, que vergonha para um padre como eu. Com o tempo os outros foram chegando. Ninguém ousava falar nada, acho que estavam todos envergonhados como eu.
     Mas todos nós sentíamos muito medo ainda pela fama do Brasil daquele tempo. Diziam que haviam feras perigosíssimas e índios antropófagos. Eu ainda não estava muito seguro. Primeiro foram as terríveis ondas do mar que por pouco não nos levaram, agora poderia ser o perigo das feras da região e dos índios comedores e carne humana. As feras não apareceram, mas os índios começaram a surgir de todas os lados. Eu pensei logo comigo: não adiantou muito fugir dos tubarões, se vamos ser assados de índios, mas era outra covardia a minha: os índios era todos muito dóceis e nos ajudaram o tempo todo.
     Devagar nós nos levantamos e começamos a juntar os pedaços do que sobrou do nosso barco. Por incrível que pareça o outro barco estava com apenas algumas avarias. Tudo colocado em terra, começamos a consertar o outro barco. Os índios nos ajudaram o tempo todo. O único que não fazia nada era Anchieta. Ele foi o porta voz entre nós e os índios.
     Os índios descobriram que alguns de nós era para eles aquilo que dão o nome de pajé e se interessaram muito por José de Anchieta. Logo Anchieta sumiu com alguns deles e foram até a Taba. La havia uma menina muito doente e Anchieta resolveu batizá-la. A menina pareceu melhorar um pouco. Anchieta retornou. Colocamos tudo neste único barco e partimos. A viagem foi muito tranquila até Guarapary, mas soubemos no caminho que a indiazinha havia morrido.
     Anchieta ficou sendo o chefe dos padres ali, na Igreja de SantAna. Construímos um grande casarão, a capela de Santana e passamos a cultivar pequenas hortas.
     Anchieta andava muito por toda aquela região. Alguns padres o acompanhavam. Eu também o acompanhava de vez em quando, mas o meu interesse mesmo era parar em um determinado lugar e plantar roça, horta, criar alguns animais. Eu até sonhava com isto.
     Com a expulsão dos franceses do Rio de Janeiro, o padre José de Anchieta resolveu ali criar uma sede religiosa. E foi por volta de 1578 que ele começou um trabalho entre o Rio de Janeiro e Reritiba uma aldeia no Espirito Santo. Num lugar chamado Guarapari, ele fez uma casa paroquial. Era tudo mato ali, um terreno arenoso com uma mata rala. Como era um caminho, ele acreditava que ali seria um lugar de repouso e deu certo, pois vários padres paravam ali e o pequeno núcleo cresceu. Como ele não poderia ficar naquele lugar, resolveu nomear um padre para ficar como Inspetor dos outros padres. Dois nomes foram escolhidos: um era eu e outro do padre Alemão (apelido). Feita a eleição, o meu nome foi o escolhido. Anchieta então me deixou cuidando daquele local. Ali existia uma pequena biblioteca, bem rudimentar ainda, pois quase não existiam livros, um pequeno altar para a celebração da missa, alguns animais, uma pequena lavoura. Eu teria que fazer o resto.
     Eu me senti muito feliz com aqueles trabalhos. Anchieta foi embora para trabalhar em outros locais. Ele era muito interessado em levar a religião aos indígenas. Eu não tinha muita paciência, pois os índios aceitavam tudo na hora e diziam que iam cumprir tudo o que falávamos, mas saindo dali eles faziam tudo como antes.
     Naquele local eu rezava a missa todos os dias, ou encarregava outro padre de fazer o serviço. Em seguida íamos trabalhar na horta, na lavoura e tratar dos animais. Toda semana passava por ali alguns padres e também algumas pessoas. Tínhamos que dar a pousada a todos estes andarilhos.
     Eu fazia um bom trabalho como inspetor dos padres, mas o padre Alemão criou muita inveja contra mim. Eu conversava com ele, dava conselho e nada. Tinha muita raiva de mim. Ele queria o cargo que ora estava comigo. Algumas vezes eu o surrava, pois não aguentava as suas investidas. Outras vezes eu o prendia e deixava lá de castigo por dois ou três dias. Foi o único inimigo que tive naquela vida. Não suportei mais e o deserdei dali.
     Eu me lembro perfeitamente. Eu e alguns padres o pegamos e o levamos para o carroção que passaria e iria para o Rio de Janeiro. Então eu o vi subir à força ao carroção e sentar na boleia ao lado do dirigente. Ele foi. Eu o vi subindo o morro, virou a cabeça para trás e me olhava com aquele olhar de ódio. Eu o vi até sumir no morrinho. Então voltamos para casa. Eu estava muito arrependido, mas não sabia mais o que fazer e ele estava atrapalhando o andamento dos trabalhos. Não tivemos mais inimigos ali.
     O nosso acampamento não ficava na cidade. Esta casa paroquial ficava na estrada, bem perto de Guarapari. Mais tarde esta casa transformou-se em um convento.
     Eu já estava bem velho e alquebrado. Trabalhava muito, pois naquele tempo nada era fácil. A vida era muito difícil, mas acredito que fiz um bom trabalho.
     O nosso amigo Anchieta vem a falecer. Houve uma grande dor por todos nós, pois nós o amávamos. Ele era como um verdadeiro pai para todos nós. Não tivemos como ir vê-lo nos últimos momentos, pois a notícia nos chegou tarde e para ir lá teríamos que viajar mais de 7 léguas a cavalo. Não era nada fácil. Fizemos uma missa em sua homenagem.
     O cansaço tomou conta de mim. Eu estava muito fraco e acabei pegando algumas doenças e logo dei por encerrado o meu trabalho naquele lugar. Vim a desencarnar logo, nem cheguei a nomear um sucessor e isto ficou a cargo dos outros padres.














Biografia:
Henrique Pompilio de Araújo, nascido em Campo Mourão PR e radicado em Cuiabá MT. Começou a escrever desde cedo. Professor aposentado, bacharel em Direito e Teologia. Trabalhou em diversas escolas em Cuiabá e alguns jornais do Estado. Publicou sua primeira obra em 1977: Secos & Molhados - Poemas. Ultimamente publicou outros livros: "Flores do Além" Poemas, "Contos da Espiritualidade" - Contos, "Nas curvas da vida" Memórias, "Cinquenta contos" Contos. Há muitas obras ainda esperando edição.
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