Recortando marcas de “surf wear” e criando adesivos com plástico ‘Contact” transparente eu não estava fazendo algo inútil, estava seguindo uma modinha. Além de reverenciar marcas de roupas e acessórios de surf que eu nunca iria usar, estava fazendo propaganda grátis.
Mesmo morando longe da praia e nunca ter subido nem em uma prancha de isopor, gostava de ler as revistas Fluir, Visual, Costa Sul etc. Todas estas revistas passavam por uma implacável linha de produção: ler, recortar, plastificar e colar numa pasta preta. Ainda assim, apesar do processo industrial, eu não era um surfista.
Entretanto, minha origem tropical e meu talento natural para pegar onda teriam que ser provados. E a oportunidade surgiu. Mongaguá (Litoral Sul de São Paulo) não tinha ondas muito grandes, pelo contrário, arrebentavam ondas suficientes para “pegar jacaré”. Mas, finalmente, surgiu a tão esperada ocasião para eu acordar bem cedo e “cair n’água”. Além de tudo, era fora de temporada, portanto a praia estaria vazia e a ventania levantaria volumes de água mais... havaianos.
Não tive dúvidas, larguei o emprego no supermercado e parti pra Mongaguá. Rumo ao terminal rodoviário do Jabaquara, eu e meu amigo com mochilas e pranchas debaixo do braço, foi o suficiente para posarmos de surfistas. Porém, isto ainda era muito diferente de “dropar” as ondas.
À noite em Mongaguá, a cerveja manteve os hábitos etílicos, no entanto o efeito impulsionou a expectativa de amanhecer com um mar perfeito. Para quem nunca surfou nem sequer numa “longboard”, ficar em pé na prancha já seria algo a comemorar.
No dia seguinte, a exigência de entubar a onda perfeita logo foi substituída por um ‘rodeio em alto-mar’. O que parece o nome de um filme é a desesperada tentativa de permanecer alguns segundos sobre a prancha.
Diante da dificuldade ignorada, os próximos dias limitaram-se a planejar como ‘destruir’ a onda perfeita. Durante o dia, caímos na real de que estávamos em Mongaguá, não no Havaí. Mesmo assim, como fôssemos surfistas experientes, ficamos aguardando uma ondinha decente depois da arrebentação.
Como prêmio de consolação a dois “surfistas frustrados”, sobrou o retorno com mochila nas costas e pranchas debaixo do braço. Tudo pose.
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