Bertioga, litoral de São Paulo, alguns dias na praia, ninguém é de ferro. Sol, cerveja, descanso, até que a minha irmã teve uma “brilhante” ideia: conhecer uma tribo de índios totalmente isolada. Tudo bem, isso traria enriquecimento cultural. Tem mais, para guarulhense programa de índio nunca é exagero.
Avistamos a Mata Atlântica, eu não via a hora de surpreender os nativos num raro ritual, como nos livros de História. Uma flechada ou outra não significava nada, pois a expectativa da aventura era grande. Fomos aproximando, nada de aborígenes. Quanto mais passava o tempo, eu me sentia mais Bispo Sardinha e menos Orlando Villas-Bôas.
Para quem esperava um contato antropológico (não antropofágico), até um ameaçador caldeirão borbulhante era válido. Porém, o cenário era de um vazio desolador. Mas vamos lá, os autóctones devem ter notado nossa presença e estão escondidos. Certamente, percebem a ameaça que o homem branco representa, teorizei.
Seguimos no encalço dos silvícolas. A frustração veio ao dobrarmos a primeira esquina: supostos índios de calções Adidas, bicicleta Barraforte e camisas de times de futebol. Distante de lá, onde devia haver uma sangrenta guerra de arco e flecha, uma turma disputava uma animada partida de futebol. Novamente, calções Adidas e camisas de times de futebol. As únicas que faziam sentido eram do Guarani e da Chapecoense.
A perda do aspecto desbravador da nossa expedição foi pior. Avistamos residências de alvenaria e uma picape Hilux, pilotada por um ágil pajé, dobrando uma esquina. Estávamos conformados com peles vermelhas altamente socializados e integrados ao mercado de consumo. O cúmulo daquilo tudo, era a presença da Rede Globo. Aquele teatro todo era uma espécie de “macumba pra turista” armado para a filmagem televisiva. No máximo, presenciaríamos cocares da 25 de Março. Definitivamente, eu não encontraria nenhuma “virgem dos lábios de mel” e “dos cabelos mais negros que a asa da graúna”. Eu bem que desconfiava de José de Alencar.
O jeito era fugir daquele programa de índio, não literal. Quanto a minha irmã, eu sei que, quando ela inventar algum passeio, eu vou conhecer um quilombo albino ou anões campeões de basquete. Índios...
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