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ESTÁGIO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: NOVIDADES E DESCOBERTAS
Bruna Camelo

Resumo:
O presente artigo originou-se a partir da realização do Estágio na Educação Infantil do curso de Pedagogia da Universidade de Caxias do Sul, realizado em uma escola particular do município de São Marcos/RS. Tem por finalidade apresentar as reflexões e o resultado das experiências obtidas durante o período de observação e docência, tratando especialmente do papel do professor na Educação Infantil e também de algumas práticas adotadas no contexto do projeto interdisciplinar desenvolvido para aplicação com uma turma de berçário, onde o foco é a experimentação. Aborda ainda a visão da estagiária perante a realização deste estágio, momento de dúvidas, aprendizado e novidades, mostrando como foi importante este período para a formação acadêmica e profissional. Por fim, traz uma reflexão sobre a validade do estágio articulando com as conclusões obtidas a partir da pesquisa bibliográfica realizada para a escrita deste artigo, tendo como alguns autores principais, Kishimoto (2008), Barbosa e Horn (2008) e os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (1998).

Palavras-chave: Educação Infantil, experimentação, docência, estágio, vivências educacionais, creche.

Introdução
     
Este artigo originou-se a partir da realização do Estágio na Educação Infantil do curso de Pedagogia da Universidade de Caxias do Sul- UCS, na Escola de Educação Infantil Pintando o Se7e, localizada no município de São Marcos/RS. Discute o estágio como um primeiro exercício de docência a partir de algumas etapas que foram propostas durante as aulas para que pudéssemos concluir com êxito este momento de aprendizado como apresento a seguir.
Em um primeiro momento realizei a visita de observação na escola, sendo quinze horas para ter um panorama geral da instituição e da turma em que iria realizar a prática de estágio. Tudo isso tendo como base um roteiro de observação fornecido pela orientadora para focar em pontos principais necessários a observação atenta da realidade apresentada.
No segundo momento realizei a escrita de um documento intitulado “Análise da Realidade”, onde ali pude colocar todas as impressões que tive ao adentrar em uma escola de Educação Infantil, anotando aspectos relevantes do espaço e da turma escolhida. Ao final, encaminhei os primeiros passos para a escolha do tema do projeto interdisciplinar. O Projeto se intitulou “Um mundo de texturas e sensações”, onde o tema era justamente as vivências de diversas texturas e sensações que uma turma de Berçário II, com crianças de três anos precisam durante este período da vida.
Tivemos o período de quarenta e cinco horas para estudar e criar os Planos de Aula que seriam desenvolvidos durante a prática de estágio posteriormente. Fomos orientadas pela professora que nos motivava dando ideias inovadoras e criativas para que as aulas fossem dinâmicas e prazerosas.
Durante o período de docência, que foi realizado entre os meses de maio e de junho, totalizando sessenta horas, foram aplicados os planos de aula desenvolvidos para a turma, sendo momentos de muita novidade, aprendizado e crescimento profissional.
Por fim, a escrita deste artigo proporciona refletir e registrar a importância de todas as experiências vivenciadas, destacando o papel do professor na Educação Infantil e as práticas de experimentação que realizei com as crianças, ancorados por referenciais teóricos como Kishimoto (2008), Barbosa e Horn (2008) e os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (1998).

1 Importância de reflexões anteriores para posterior prática

Neste primeiro capítulo discutirei como seu deu o momento da Análise da Realidade articulado com a importância que o estágio tem para a formação acadêmica e profissional.
     Durante a realização deste estágio pude construir um posicionamento crítico a respeito do espaço escolar visitado onde o objetivo primordial era refletir sobre o momento de estágio curricular na Educação Infantil do curso de Pedagogia, em especial sobre a relação entre teoria e prática necessária para a prática docente e os elementos que compõem a formação docente. Para tal relação se fez necessária a construção de um pensamento reflexivo a luz das teorias estudas, e é fundamental para esta etapa acadêmica como uma oportunidade de fortalecer os vínculos com a profissão escolhida buscando a escola como lugar de constante aprendizado.
No momento destinado a observação na instituição de ensino, pude compreender como se dá o funcionamento de uma Escola de Educação Infantil, afinal nunca estive em uma e nem tive experiências anteriores. Isso foi de grande valia para minha formação, pois consegui entender diversos aspectos que precisam ser considerados para uma boa atuação com turmas de crianças pequenas aliando essa percepção ao conhecimento da rotina no dia a dia da escola e das necessidades dos alunos e dos professores.
Ali consegui tecer relações com toda a teoria estudada durante o curso, pensando em como um professor de educação infantil precisa se identificar com a profissão para poder fazer um trabalho satisfatório e prazeroso. Por isso, relaciono momento de observação anterior a prática com à construção da identidade docente, pois a experiência de observar e estar atento ao todo no estágio é essencial, além da prática em si. Pimenta (2004, p. 62) nos trás que “o estágio é por excelência, um lugar de reflexão sobre a construção e o fortalecimento da identidade.“ Ou seja, é neste momento da formação acadêmica que poderemos construir uma visão crítica acerca da docência, criando vínculos e esclarecendo muitas das dúvidas que acumulamos durante a formação acadêmica. Além de presenciar o dia a dia de uma escola de educação infantil, confrontei-me com diversas situações que serão enfrentadas quando atuar de fato na área.
Para se construir a identidade docente é necessário observar como ela vai sendo constituída ao longo da vida, através das experiências, da história pessoal, na coletividade e também na sociedade. De acordo com Dubar citado por Pimenta ( 2004, p. 63) “todo ser humano busca por identificar-se em meio aos movimentos de sua existência”. Afinal, é em todos os momentos da vida que vamos descobrindo nossas aptidões e também vamos construindo nossa visão de mundo e de trabalho, assim, criando a identidade própria, o que nos faz refletir acerca das escolhas que fazemos ao longo da vida.
a identidade humana não é dada, de uma vez por todas, no ato do nascimento: constrói-se na infância e deve reconstruir-se sempre ao longo da vida. O indivíduo nunca constrói [sua identidade] sozinho: depende tanto dos julgamentos do outros, como das suas próprias orientações e autodefinições. [Assim] a identidade é produto de sucessivas socializações. (DUBAR apud PIMENTA,2004 p.63).
Assim podemos constatar que estamos sempre em transformação e refletindo sobre nossas vivências, procurando aprender o que o mundo social nos impõe e criando, a partir disso, uma identidade própria. Trazendo para o campo profissional, buscamos nos identificar a partir das concepções trazidas pela sociedade que estão ligadas às condições de trabalho, ao reconhecimento e a valorização que a sociedade confere à categoria profissional.
Todas as experiências que vivemos tanto na universidade e fora dela, como no momento dos estágios, ajudam a construir a identidade docente. Quando uma escola abre suas portas para um aluno estagiário está contribuindo para a formação de um professor crítico e reflexivo de suas práticas, ao mesmo tempo em que concede a esse aluno a oportunidade de conhecer melhor o funcionamento da instituição bem como o cotidiano escolar e a realidade vivida. Assim, concluímos que para se identificar com a profissão são necessárias muitas experiências, não somente estudando teorias, mas especialmente na prática onde estas serão aplicadas.
Para compreender melhor como esta identidade do profissional da educação vai sendo construída ao longo de sua trajetória, se faz pertinente observar todas as formas de socialização presentes na vida cotidiana. Como nos diz Tardif:
A personalidade do trabalhador, suas emoções, sua afetividade fazem parte integrante do processo de trabalho: a própria pessoa, com suas qualidades, seus defeitos, sua sensibilidade, em suma, tudo o que ela é, torna-se, de certa maneira, um instrumento do trabalho. (TARDIF, 2007, p. 142).
Pensar sobre o dia a dia de um professor torna-se tarefa importante quando notamos que a personalidade dele é um dos instrumentos de seu trabalho, pois além de dominar os conteúdos a serem trabalhados, ele se envolve com seus alunos, com suas histórias, mobiliza vontades e incentiva a torná-las realidade. Usa metodologias que buscam fortalecer os laços entre professor e aluno para que o aprendizado ocorra de maneira prazerosa e lúdica. Tudo isto, faz com que a identificação com a profissão seja maior e esteja sempre em construção.
Tendo em vista a importância do estágio na formação profissional, torna-se fundamental observar o espaço escolar para compreender todos os aspectos envolvidos na instituição. Faz-se necessário pensar na observação como sendo uma das principais ferramentas para a construção de um olhar apurado e reflexivo.
Assim ao finalizar os dias destinados à observação, consegui estabelecer relações e verificar qual seria o tema do posterior projeto que desenvolveria para ser aplicado durante a atuação docente. Constatei, juntamente com a professora titular da turma, que seria pertinente trabalhar com diferentes texturas e materiais para que as crianças conhecessem e manipulassem coisas que estão presentes em seu dia a dia, além de aprenderem de forma prazerosa e divertida.
Esta foi uma experiência muito importante antes de iniciar a prática em si, pois foi neste momento que enxerguei onde está toda a teoria estudada, além de conhecer uma realidade totalmente nova para mim e que me fez refletir diversas coisas a respeito desta etapa de escolarização. Vi que é preciso muita identificação por parte do professor para trabalhar na Educação Infantil como explicado acima.


2 Projeto Interdisciplinar e Planejamentos: Algumas considerações para o exercício da docência na educação infantil
     Este segundo subtítulo tem por finalidade apontar algumas considerações acerca do planejamento realizado para a prática de estágio e sua importância para a constituição da identidade docente.
     O tema escolhido para minha prática de estágio teve como ponto de partida conversas com a professora titular da turma, onde me relatou que a necessidade das crianças nesta faixa etária (três anos) é justamente a experimentação de diversas formas de texturas e sensações. As crianças eram muito ativas e curiosas em que tudo precisavam tocar, cheirar e manusear para descobrirem o mundo que os rodeia. Sobre este assunto, Kishimoto dá um exemplo da importância dessas práticas em sala de aula:
A criança utiliza os órgãos sensoriais para explorar e conhecer o mundo dos objetos. Quando coloca o brinquedo na boca, experimenta a sensação de duro, mole, o que amplia suas experiências sensoriais e a encaminha para a compreensão de conceitos. Texturas, cores, odores, sabores, sons são experiências que a criança adquire no contato com móbiles coloridos, sonoros, saquinhos de ervas aromáticas e brinquedos de diferentes densidades e formas. Objetos domésticos de uso cotidiano são importantes itens para ampliar as experiências sensoriais. Objetos feitos com materiais naturais ou de metal, como bucha, escova de dente nova, pente de madeira ou borracha, sino e outros, dentro de um grande cesto de vime com base plana e sem alças, servem para a exploração livre das crianças pequenas. (KISHIMOTO, 2008, p.03).
Oferecer diferentes materiais as crianças é uma maneira de ampliar a capacidade de expressão delas e contemplar as inúmeras possibilidades que se apresentam diante das atividades que envolvem os sentidos. Sendo assim, pensei em desenvolver um projeto que proporcionasse um mundo de texturas e sensações. Quando oferecemos atividades que exercitam os sentidos, estamos possibilitando um desenvolvimento amplo e prazeroso em que as crianças ampliam a capacidade de explorar texturas, sabores, cheiros e cores de diferentes formas.
O planejamento partiu do princípio de que, através da exploração de diferentes materiais os pequenos ampliam a capacidade de expressão e o conhecimento do mundo. Os objetos e materiais disponibilizados as crianças proporcionam experiências diversificadas e novas descobertas. Sendo assim, foi muito relevante o trabalho com sensações no berçário, num sentido de fornecer estímulos para a aprendizagem das crianças.
Sempre lembrando os pilares da Educação Infantil apontados pelo RCNEI, que são as interações e brincadeiras é possível criar condições favoráveis para uma aprendizagem lúdica que amplie o conhecimento da criança pequena, valorizando tudo o que acontece dentro da sala de aula. Além disso, a ludicidade é extremamente importante para desenvolver a criatividade e as novas descobertas desta fase da vida. Aprender brincando sempre torna a ida a escola um momento de alegria e muito esperado pelas crianças. A respeito deste assunto, Santos afirma que:
A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento. (SANTOS, 1997, p. 12).
Por isso neste projeto priorizou-se o contato com os colegas, com a professora e com os materiais oferecidos de forma interativa e tranquila, visando o bem estar naquele momento em que novas descobertas foram sendo construídas a fim de explorarem muitas variedades de materiais para sentirem suas texturas e sensações ao experimentarem. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, pg. 27) nos sinaliza esta questão ao dizer que: “As crianças de zero a três anos devem experimentar e utilizar os recursos que dispõe para a satisfação de suas necessidades essenciais, expressando seus desejos, sentimentos, vontades, desagrados, e agindo com progressiva autonomia.” Assim poderiam se expressar, criar novas possibilidades de interação, experimentar e dialogar ampliando suas capacidades de independência e de autonomia.
A constatação de que esse era o caminho necessário para o exercício da docência na educação infantil partiu dos pressupostos explicitados no RCNEI. Além disso, estudei variadas formas para elaborar os Planos de Aula, ancorado pela metodologia de projetos e nas rotinas na escola e na turma de Berçário.
Assim organizasse as atividades de maneira a respeitar estes horários pré-estabelecidos, a fim de otimizar o tempo e deixar as crianças seguras e tranquilas durante a tarde. Afinal, a importância das rotinas na educação infantil,
provém da possibilidade de construir uma visão própria como concretização paradigmática de uma concepção de educação e do cuidado. É possível afirmar que elas sintetizam o projeto pedagógico das instituições e apresentam a proposta de ação educativa dos profissionais. A rotina é usada, muitas vezes, como cartão de visitas da instituição, quando da apresentação desta aos pais ou à comunidade, ou como um dos pontos centrais de avaliação da programação educacional. (BARBOSA, 2006, p. 35).
Por isso, todas as atividades que desenvolvi durante a docência foram realizadas de acordo com a rotina, visando o bem estar das crianças e suas necessidades. Afinal a rotina é uma maneira de organizar o tempo de todos os que estão envolvidos com a escola.
Sobre a relevância de se trabalhar por meio de Projetos Pedagógicos na Educação Infantil, ressalto que é uma forma de organizar um trabalho pedagógico que seja significativo tanto para o professor como para os alunos. É uma maneira de facilitar a construção de um plano de aula com objetivos claros e compreensíveis. Barbosa e Horn (2008, p. 73) pontuam com muita propriedade como os projetos se destacam em um planejamento: “Os projetos ordenam, resgatam, organizam e enriquecem as atividades cotidianas, além de serem instrumentos de registro que materializam as práticas e servem para uma constante avaliação e revisão das propostas pedagógicas nas escolas”. Assim, esta é uma ferramenta que possibilita um pensar crítico voltado para as boas práticas escolares e uma construção do conhecimento que vise o cuidado e educação como partes essenciais da Educação Infantil.
Complemento ainda dizendo que esta maneira de trabalhar na Educação Infantil traz muitos benefícios tanto para o aluno quanto para o professor que além de uma organização do planejamento, vê a criança como parte central do processo de aprendizagem. Barbosa e Horn salientam:
A pedagogia de projetos vê a criança como um ser capaz, competente, com um imenso potencial e desejo de crescer. Alguém que se interessa, pensa, duvida, procura soluções, tenta outra vez, quer compreender o mundo a sua volta e dele participar, alguém aberto ao novo e ao diferente. (BARBOSA e HORN, 2008, p. 87).
Portanto, esta metodologia oferece às crianças o papel de protagonista das aprendizagens em sala de aula, indo além dos conteúdos, dando espaço para a forma de fazer, para seus conhecimentos prévios. Além disso, as crianças aprendem a trabalhar em grupo fazendo com que se estreitem os laços de amizade e coleguismo. Muito importante também, pois permite a experimentação, observação, dramatizações, o que para as crianças pequenas é útil ao desenvolvimento sadio, despertando a imaginação e os sentidos.

3 Docência e sua Relação com Texturas e Sensações

     Neste subtítulo, procurarei explicitar alguns exemplos que foram vivenciados durante a prática de estágio, relacionando com a teoria estudada para esclarecer como os bebês e a docente em formação vivenciaram texturas e sensações ao longo da docência.
A princípio tudo parecia muito difícil, fiquei um pouco receosa de colocar em prática todas aquelas ideias que estavam contidas nos planos de aula. Tudo era muito novo e fiquei preocupada para que desse tudo certo. Pensava se as crianças iriam gostar das atividades, se iriam fazer muita sujeira, entre outras coisas. Porém conforme ia propondo as atividades pude notar que texturizar e sentir a infância era algo muito novo e emocionante para mim:
O adulto não controla o pensamento infantil. As crianças aprendem muito além dos momentos que o adulto estabelece em seu planejamento e orientação. As crianças aprendem em seus próprios percursos, com seus pares, nas interações com as coisas, e, também, nas transmissões da cultura e dos adultos. (CARVALHO e FOCHI, 2016, p. 158).
Depois de finalizada cada aula, pude perceber que deu muita bagunça, afinal experimentar diferentes materiais como a argila, por exemplo, foi um verdadeiro desafio para a “estagiária de primeira viagem”. Porém, ver os resultados e as carinhas de felicidade das crianças me deixou mais tranquila para seguir com as aulas que estavam apenas no início. Notei que tudo poderia se transformar em uma aula prazerosa e interessante, até mesmo uma borboleta voando pela sala, isso porque o extraordinário tem um papel fundamental para o desenvolvimento das crianças, uma vez que dá voz a novidade e cria um ambiente divertido e problematizador, indo além do programado.
     Experimentar, tocar, sentir cheiros, gostos, ouvir sons são recursos cotidianos que podem servir de base para diversas aprendizagens. Foi o que vivi “docentemente” neste estágio. Afinal, crianças de três anos estão descobrindo o mundo e tem uma curiosidade e uma sede de aprender enormes. Como nos aponta Bassedas (1999, p. 26), “é por isso que necessitamos proporcionar situações de jogo, experiência e manipulação de objetos diversos, bem como a realização de experiências adequadas ao nível de compreensão dos meninos e meninas dessa idade”.
Por isso proporcionei o contato com diferentes materiais, como no dia em que produzimos a massinha de modelar comestível.
Foi uma experiência enriquecedora tanto para mim como para os alunos. Esta era uma das aulas mais aguardadas por mim e posso dizer que valeu a pena esperar.
A preparação das crianças para começar a mexer nos ingredientes foi o início das surpresas. Coloquei em todas elas as toucas próprias para isso, afinal estávamos no refeitório. Ficaram empolgadas e falavam: “Profe, vamos fazer o que?”, “Massinha? Legal!”, “Olha profe, sou cozinheiro”, entre outras falas. Iniciamos misturando os ingredientes, deixei com que me ajudassem. Então tudo ficou mais divertido. E na hora de colocar o corante foi um alvoroço. Queriam colocar todas as cores no pedaço de massa. Amassavam, brincavam, misturavam as cores enquanto me contavam: “Profe, estou fazendo uma minhoca, uma não, muitas!”, “Carro, meu carro!”, “Profe, aqui tem uma árvore”...
Quando falei que poderiam levar para casa sua massinha, ficaram satisfeitos mesmo, diziam que levariam para a mãe ver e brincar também. Assim mandei para cada um, a massinha dentro de um saco plástico com a receita grampeada.
Este é um dos muitos exemplos que poderia citar aqui, porém me detive neste dia, pois foi um dos que eu como estagiária na educação infantil me senti parte integrante daquele espaço, vivenciando todas as etapas do meu planejamento e vendo que no final tudo saiu melhor do que o esperado. Nesta, assim como nas demais atividades que vivenciei pude perceber como o professor da educação infantil precisa ter um cuidado com tudo que o cerca dentro de sua sala de aula com seus alunos, pois
o trabalho direto com crianças pequenas exige que o professor tenha uma competência polivalente. Ser polivalente significa que ao professor cabe trabalhar com conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes das diversas áreas de conhecimento. Este caráter polivalente demanda, por sua vez, uma formação bastante ampla do profissional que deve tornar-se, ele também, um aprendiz, refletindo constantemente sobre sua prática, debatendo com seus pares, dialogando com as famílias e a comunidade e buscando informações necessárias para o trabalho que desenvolve. (BRASIL, 1998, p. 41).
Assim vivenciando o dia a dia de uma turma de Berçário pude compreender melhor a função primordial do professor que passa o dia todo com essas crianças, observando seu desenvolvimento, suas descobertas, suas necessidades, conquistas e desafios apresentados. Pois educar e cuidar de crianças pequenas exige do profissional essa competência para diversas situações, lembrando sempre que o cuidado está atrelado a educação.
Também cabe acrescentar os momentos de brincadeira livre que se deram durante este período. Momentos em que as crianças puderam brincar sem nenhuma preocupação, imaginando, interagindo com os colegas e com a estagiária também pois, além de levar os brinquedos para a sala de aula, participei ativamente das brincadeiras, envolvendo-me como alguém que está disposta a brincar junto com elas. Afinal, acredito que o professor precisa interagir com as crianças neste momento também, questionando, participando e entrando na história como personagem.
Entender suas brincadeiras é possibilitar que representem papéis que escolheram para brincar independentemente do sexo. Que elas e eles possam brincar de casinha, boneca ou panelinhas, jogar futebol, saltar, correr, pular e subir em árvores. Brincar de herói ou bandido, recriando os heróis que fazem parte do seu cotidiano, de sua sociedade [...] Garanto que todo mundo brinca se você brinca. (CRAIDY, 2001, p. 102).
Brincar junto com as crianças faz com que elas tenham mais confiança no professor, que aprendam com suas brincadeiras também, de um jeito natural e divertido. A criança que brinca, desenvolve sua criatividade e no futuro conseguirá lidar mais facilmente com suas emoções e resolver problemas de forma criativa e inteligente.
Cabe ressaltar que os brinquedos oferecidos todos os dias eram diferentes para que as crianças não se cansassem e pudessem experimentar diferentes materiais. Assim como nas atividades desenvolvidas. Ao brincar com blocos, por exemplo, estavam desenvolvendo a noção de empilhar, pressionar, etc. Além de outros materiais como os panelas velhas, colheres, entre outros instrumentos utilizados no dia a dia que serviam para despertar a curiosidade e imaginação durante a brincadeira.
Seguindo com a prática imaginativa, agora trazendo para o contexto da literatura, todos os dias eu levava uma caixa que continha livros de diferentes texturas e formatos para que as crianças escolhessem aquele que serviria para a contação da história do dia. Tudo atrelado ao tema do projeto, os livros serviram para exploração das crianças que tocaram, mexeram escutaram os sons que alguns dos livros traziam. Além disso, é de grande valia incentivar as crianças desde pequenas a terem gosto pela leitura, mesmo essas que ainda não sabem ler, pois ao crescerem terão mais curiosidade nos livros. Para as crianças pequenas,
ao redor dos três anos, o conto de fadas passam a despertar o interesse infantil: histórias que auxiliam a criança a organizar suas experiências de vida, lidar com receios e alegrias, com conquistas e perdas, enfim, com sentimentos contraditórios. Além disso, os contos de fadas, com seus seres mágicos e seus finais exemplares (em que o mal sempre é punido) são histórias que possibilitam às crianças de qualquer contexto-social, econômico, cultural, étnico, racial- a vivência de uma experiência sem precedentes. (CRAIDY, 2001, p.85).
Sendo assim, proporcionei o contato com livros de diferentes temas, não somente o conto de fadas, em que notei grande interesse por parte dos alunos, que esperavam ansiosamente para saber qual história o colega iria escolher. Cito o exemplo de um dos dias em que um menino escolheu o livro com a história de um trator, então faziam os barulhos da máquina, me ajudando a contar a história de forma interativa e empolgante.
Para finalizar, acredito que em todos os momentos da docência houve texturas e sensações significativas, tanto para os alunos quanto para mim. Enquanto estagiária, atuando neste espaço educacional, trouxe e vivi experiências, todos os dias que envolveram novidades, dúvidas, angústias que me faziam interpretar e refletir sobre a minha prática docente. Eu era a responsável por aquelas crianças e por fazer com que tudo ocorresse de maneira satisfatória e tranquila. Ainda assim, aprendi mais sobre ser docente e ser criança.

4 Considerações Finais

Ao concluir este estágio noto que consegui aprofundar os estudos acerca do cotidiano da Educação Infantil de maneira satisfatória e esclarecedora, afinal, este foi um momento de muito aprendizado. Teve grande relevância para a minha formação acadêmica, pois, a partir dela pude compreender todos os aspectos que estão envolvidos no cuidado e educação de crianças pequenas, relacionando diretamente com as disciplinas cursadas até então na universidade. Essa reflexão em forma de registro permitiu construir novas perspectivas e conhecimentos para futura atuação docente.
Tudo o que foi desenvolvido durante a prática deste estágio teve como pontos básicos de partida alguns referenciais teóricos indicados pela orientadora, sendo consultados diariamente para que ao final pudesse fazer a escrita deste artigo acadêmico com propriedade e conhecimentos necessários. Ao relacionar alguns autores ao tema escolhido para o Projeto Interdisciplinar, pode-se fazer um aprofundamento acerca do tema e ter maiores conhecimentos para melhor realizar a prática estabelecida. Em diferentes momentos foi necessário retomar aspectos teóricos estudados ao longo do curso de Pedagogia, especialmente aqueles relacionados com a Educação Infantil. Que é um dos campos de atuação do profissional Pedagogo.
Pude compreender que em todos os momentos deste estágio, fez-se necessário ressaltar a importância da interdisciplinaridade, onde todas as áreas do conhecimento estudadas até então durante a minha formação contribuíram de forma significativa para o percurso desta experiência. Além de estar em um espaço totalmente desconhecido por mim até o momento, logo que adentrei na escola e fiz as observações, constatei que muito poderia aprender ali, buscando apoio nos referenciais e principalmente vivendo de forma muito intensa o dia a dia de uma escola de educação infantil, onde senti-me totalmente parte integrante do processo de aprendizagem daquelas crianças com quem convivi durante este período.
Ressalto ainda o carinho que recebi das crianças e de toda a equipe de professores e gestão, que me incentivavam todos os dias, buscando esclarecer todas as dúvidas que surgiram ao longo destes dias. Enfim, esta foi uma experiência riquíssima de aprendizado e construção de vínculos com a docência, pois no momento em que entrava na escola e na sala de aula, vivia aquele momento como sendo único, dando o melhor de mim em tudo que fiz. Aproveitei muito bem a oportunidade, ficará marcada para sempre em minha memória.

Referências

BARBOSA, Maria Carmen Silveira e HORN, Maria da Graça Souza. Projetos pedagógicos na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008.

BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Por amor e por força: rotinas na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2006.

BASSEDAS, Eulàlia; HUGUET, Teresa; SOLÉ, Isabel. Aprender e ensinar na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 1999.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Vol. 2. Formação pessoal e social. Brasília, 1998.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Vol. 1. Introdução. Brasília, 1998.

CARVALHO, Rodrigo e FOCHI, Paulo. “O muro serve para separar os grandes dos pequenos”: narrativas para pensar uma pedagogia do cotidiano na educação infantil. Canoas: Textura, 2016.

CRAIDY, Carmen Maria; KAERCHER, Gládis. Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001.

KISHIMOTO, Tizuco Morchida (org.) Jogo, brincadeira e educação. São Paulo: Cortez, 2008.

PIMENTA, Selma e LIMA, Maria do Socorro- Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, 2004.

SANTOS, Santa Marli Pires. O lúdico na formação do educador. Rio de Janeiro: Valps. 1997.

STECANELA, Nilda. Roteiro para elaboração de artigo. In: Anais do X Seminário Escola e pesquisa: um encontro possível. Caxias do Sul, 2010.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.


Biografia:
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