Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
O ESPANTO QUE NOS ALIMENTA
Manoel Rodrigues de Abreu Matos

Havia decidido que, pelo menos temporariamente, iria parar de escrever, pois estava focado em outros objetivos. Mas, nossa vida não é ritmada por um manual, mesmo que tenhamos objetivos bem traçados, eventualidades acontecem e, de repente, percebemo-nos fazendo coisas das quais jamais imaginamos. Isso é legal, diferencia-nos das máquinas que podem ser programadas para exercerem uma única atividade durante muito ou todo o tempo.
Conosco, para o bem e alegria, o acaso pode, por alguns minutos, horas, dias ou mesmo meses, tornar-se o centro da nossa atenção. Algo desse tipo me ocorreu hoje. Comprei um jornal e, por descuido, ele caiu na rua sem que eu percebesse. Só me dei conta quando entrei no carro. Ainda resistir em procurá-lo, mas como se tratava de uma leitura obrigatória, mesmo que já estando na era digital, a leitura do impresso não pode faltar. A leitura é para nós, o que a água é para os peixes, o que o Eduardo é para a Mônica, o que o feijão é para o arroz, o que a salsicha é para o pão. O grande pedagogo Paulo Freire já havia falado sobre a importância do ato de ler. Ler não somente a palavra, mas ler o mundo que precede as palavras. Infelizmente, são poucas as pessoas que concordam com Freire. A maioria prefere mesmo é ser conduzida pelas informações e ideologias propagadas pela mídia e pelas pessoas de má fé.
Uma característica importante que estamos deixando morrer é o espanto diante dos fenômenos que deveriam causar em nós um tremendo susto ou, no mínimo, deixar-nos reflexivos. O poeta Ferreira Gullar, quando perguntado o que o fazia escrever tanto, a resposta foi curta e rápida: “o espanto” e completou: “quem não percebe o mundo a sua volta, certamente não terá o que colocar no papel.
Sobre o jornal perdido, fiz o percurso de volta e acabei o encontrando já todo pisoteado em uma calçada. Era o centro de uma cidade bem movimentada, diversos pares de pés indo e vindo, mas nenhuma curiosidade para dá vida àquele jornal que estava caído, solitário, sendo maltratado. Possivelmente, enquanto os pés maltravam o pobre jornal que só queria ser lido, as mãos seguiam ocupadas manuseando os aparelhos de celular, enquanto os olhos dos transeuntes focavam nos produtos em promoção nas diversas vitrines das lojas. Consegui salvar o jornal daquele abandono e sofrimento e, claro, ganhei um companheiro para dialogarmos durante o percurso de volta para minha casa.


Biografia:
Número de vezes que este texto foi lido: 61649


Outros títulos do mesmo autor

Crônicas O ESPANTO QUE NOS ALIMENTA Manoel Rodrigues de Abreu Matos
Crônicas A IRRACIONALIDADE PARCELADA Manoel Rodrigues de Abreu Matos
Crônicas CAMINHOS PARA O FIM Manoel Rodrigues de Abreu Matos
Crônicas ESTAR OU NÃO ESTAR, EIS A QUESTÃO Manoel Rodrigues de Abreu Matos
Poesias SER HUMANO: irracional Manoel Rodrigues de Abreu Matos
Poesias Aquele Carro em Chamas: o espetáculo Manoel Rodrigues de Abreu Matos
Crônicas O dia em que passei a gostar das narrativas de terror Manoel Rodrigues de Abreu Matos
Crônicas Por que Seremos um País de Idosos? Manoel Rodrigues de Abreu Matos


Publicações de número 1 até 8 de um total de 8.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Jazz (ou Música e Tomates) - Sérgio Vale 62874 Visitas
O pseudodemocrático prêmio literário Portugal Telecom - R.Roldan-Roldan 62849 Visitas
Resumo - Direito da Criança e do Adolescente - Isadora Welzel 62827 Visitas
A Aia - Eça de Queiroz 62800 Visitas
A SEMIOSE NA SEMIÓTICA DE PEIRCE - ELVAIR GROSSI 62796 Visitas
O Senhor dos Sonhos - Sérgio Vale 62731 Visitas
Minha Amiga Ana - J. Miguel 62696 Visitas
Hoje - Waly Salomão (in memorian) 62695 Visitas
Mistério - Flávio Villa-Lobos 62639 Visitas
Faça alguém feliz - 62624 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última