Um católico praticante. Uma visão distanciada do universo evangélico. Assistir de camarote uma guerra sem trégua entre um grande contingente de facções religiosas evangélicas, todas se dizendo ser a detentora da verdade – é um grande privilegio.
“Estes protestantes vivem brigando entre si, e só se unem quando é para atacar a igreja católica!”
Devo ignorar esta afirmação ou então contestá-la?
Como poderia – posicionar-me contra a verdade?
Dois sistemas doutrinários completamente antagônicos: Calvinismo e Arminianismo. Doutrinas distintas, armas verbais, guerra de palavras, pessoas cativas em caixas de concreto.
Adventistas a guarda do sábado. Testemunhas de Jeová a não permissão da transfusão de sangue. Mais motivo para embates, mais separações no corpo de Cristo!
Basta somente a ponta do iceberg. As minúcias ficam a cargo daqueles que têm sede de verdade.
Como poderia não lembrar-me da história dos Iorubás da África ocidental?
Não sei se é o mesmo Exu dos terreiros brasileiros, só sei que os Iorubás narram uma história referente a Exu, a divindade da discórdia.
Certa feita este estranho deus vinha caminhando por uma trilha entre dois campos. Ele viu, em cada um dos campos, um fazendeiro trabalhando e resolveu fazer uma brincadeira com eles. Pegou um chapéu vermelho de um lado, branco do outro, verde na frente e preto atrás, assim, quando os dois fazendeiros amigos voltaram para casa e um deles disse:
– Você viu o velho que passou hoje de chapéu branco?
O outro replicou:
– Ora, mas o chapéu era vermelho!
O primeiro retorquiu:
– Nada disso, era branco!
– Mas era vermelho – insistiu o amigo – eu o vi com meus próprios olhos!
– Bem, você deve estar cego – declarou o primeiro.
– Você deve estar bêbado – afirmou o outro.
E assim a discussão continuou e os dois chegaram às vias de fato.
Quando começaram a se ferir, foram levados pelos vizinhos para serem julgados. Exu estava entre a multidão na hora do julgamento e, quando o juiz já não sabia o que fazer, o velho trapaceiro se revelou, disse o que fizera e mostrou o chapéu.
– Eles só podiam mesmo brigar – disse ele. – Eu queria que isso acontecesse. Criar confusão é o que eu mais gosto!
Se atualmente esta divindade tem como campo de ação o universo cristão eu não sei, eu só sei que o meu Deus não é Deus de confusão, mas sim de paz (1 Coríntios 14/33).
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