Hoje, em decorrência do advento da internet, a cidade e o campo recebem as informações de modo simultâneo. É claro que ainda existem pessoas desenformadas, mas isso, somente nos lugares mais longínquos, aonde ainda não chegara o sinal de alguma operadora.
A mesma coisa ocorrera com o profano e o sagrado.
Eu sou dum tempo em que se identificava um cristão pelo brilho do evangelho estampado em seu rosto. Na atualidade, isso é uma tarefa impossível, uma vez que o puro e o impuro se fundiram nas mãos de um alquimista maligno, chamado Satanás. Hoje se o pastor de uma igreja vive no pecado as suas ovelhas não repreendem, pelo contrário: de modo prazeroso seguem as práticas pecaminosas de seu líder. E o contrário também acontece como no conto “O Rei Sábio” de Khalil Gibran.
Era uma vez, na longínqua cidade de Wirani, um rei que governava os seus súditos com poder e sabedoria. O povo o temia por seu poder e o amava por sua sabedoria.
No coração daquela cidade, havia um poço de água fresca e cristalina. Dela bebiam todos os seus habitantes e até mesmo o rei e os seus cortesãos, pois era o único da localidade.
Certa noite, quando todos dormiam, uma bruxa entrou na cidade e derramou sete gotas de um misterioso líquido no poço, dizendo:
— A partir de agora, quem beber desta água ficará louco.
Na manhã seguinte, todos os habitantes do reino, salvo o rei e o seu lorde camareiro, beberam do poço e enlouqueceram, tal como a bruxa havia predito.
E, naquele dia, nas ruas estreitas e nas praças do mercado, as pessoas não paravam de sussurrar entre si:
— O rei está louco! Nosso rei e o lorde camareiro perderam a razão.
Certamente, não podemos ser governados por um rei louco. Devemos destroná-lo.
Naquela noite, o rei mandou que enchessem uma grande taça com a água do poço. E quando a trouxeram, bebeu da água abundantemente e entregou a copa ao lorde camareiro, para que do líquido também bebesse.
E houve um grande regozijo na longínqua cidade de Wirani, porque o seu rei e o lorde camareiro haviam recobrado a razão (Contos Breves, Khalil Gibran).
Esse conto tem tudo a ver – com o cristianismo de nossos dias, não é mesmo?
|