Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
A sociedade videogame
(É um questão de todos contra todos)
Roberto Queiroz

Termina o carnaval, começa o ano (como reza a tradição tupiniquínica deste país Peter Pan). E mal acabou a festa de momo nos deparamos com mais uma triste tragédia - e este ano de 2019 já se mostrou terrível só nesse primeiro trimestre no quesito "tragédias em larga escala". Refiro-me ao massacre ocorrido no colégio em Suzano, cidade paulista.

Entretanto, mais terrível ainda do que a própria tragédia em si mesmo é um fato que venho acompanhando de forma persistente nos últimos anos ao redor do mundo: estamos nos transformando numa sociedade videogame.

Ligue a tv da sua casa e aposto que não conseguirá ficar míseras 24 horas sem ver uma tragédia ou desastre ou atentado terrorista ocorrendo em algum ponto do planeta terra. Nos tornamos destruidores em massa e numa escala que remete à dos jogos em rede (tão queridos por adolescentes frequentadores de lan houses). Os games preferidos dessa geração são aqueles em que pessoas matam pessoas gratuita e indiscriminadamente, diferente da minha época em que o barato mesmo era jogar Frostbite e Freeway no Atari. Eu sei... É macabro, porém muito real.

Lembro de ter ficado perplexo ao ler numa matéria de jornal que a empresa que fabricava o sistema de disparo de misséis e treinava os profissionais que seriam responsáveis por tirar as vidas de cidades inteiras era a mesma que fabricava o tão querido e desejado Playstation. Mais uma vez: eu sei... Continua mórbido.

Vivemos numa realidade inventada por pessoas maquiavélicas que desejam a todo custo a eliminação ou destruição do seu semelhante. Se o próprio conceito de amizade tornou-se deturpado após a invenção das redes sociais, imaginem então a sanha de quem deseja tirar do jogo qualquer pessoa que não condiga com suas certezas e opiniões.

Onde iremos parar já passou de pergunta desesperada à mero delírio dos poucos habitantes lúcidos que ainda lutam para sobreviver em meio à barbárie.

Tornamo-nos um mundo que trata a violência como algo divertido, banal. E o ponto mais extremo disso é a maneira como a indústria de cinema e a mídia em geral apropriaram-se dessa mentalidade para criar um universo doentio, travestido de entretenimento.

Pergunto-me a todo momento o que sobrará para as próximas gerações, que já nascem completamente esfaceladas pela falta de um sistema de ensino legítimo e perspectivas de sobrevivência válidas. Lutamos sofregamente para continuarmos relevantes. Sentimentos como alegria e reconhecimento deram lugar a uma competição - e essa é uma palavra que pautará todo este século XXI - irritante e injusta, pois seus jogadores não se encontram em igualdade de condições.

Somos (falo dos lúcidos, dos sobreviventes) pequenos Davis falhos e incompetentes guerreando inutilmente contra Golias mecanizados, com superpoderes, versões aprimoradas do outrora Deus ex machina. Falar em injustiça é pouco. É covardia mesmo!

Ou como disse certo intelectual outro dia desses para um jornal de grande circulação: "vivemos o triunfo da mentira".

Não é mais uma questão de "até quando?" ou "dias melhores virão". Trata-se de encararmos os fatos de frente ao invés de permanecermos observadores distantes de toda esta desgraça diária e contínua.

O problema: fazer a sociedade entender isso. E querer mudar.


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
Número de vezes que este texto foi lido: 59457


Outros títulos do mesmo autor

Artigos O triunfo da mentira Roberto Queiroz
Artigos O ator mais icônico da minha geração Roberto Queiroz
Artigos Clássico revisitado Roberto Queiroz
Artigos 50 anos de uma história bem contada Roberto Queiroz
Artigos Defina relevância Roberto Queiroz
Artigos A invenção do século que passou Roberto Queiroz
Artigos Um banquinho, um violão, um adeus Roberto Queiroz
Artigos Quem detém o conhecimento? Roberto Queiroz
Artigos Cada um no seu quintal Roberto Queiroz
Artigos Vendendo a alma Roberto Queiroz

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 11 até 20 de um total de 188.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
É TEMPO DE NATAL! - Saulo Piva Romero 60236 Visitas
Naquela Rua - Graça Queiroz 60193 Visitas
Um conto instrumental - valmir viana 60175 Visitas
Vida Amarrada II - Lenda Dupiniquim - J. Miguel 60152 Visitas
PÃO, CIRCO E AMOR - Lailton Araújo 60152 Visitas
441 anos de Sepetiba – Comemorar e lembrar para evoluir? - Bianca de Moura Wild 60128 Visitas
RESENHAS JORNAL 2 - paulo ricardo azmbuja fogaça 60116 Visitas
Viver! - Machado de Assis 60089 Visitas
"Caminantes" - CRISTIANE GRANDO 60087 Visitas
O Desafio do Brincar na Atualidade - Daiane schmitt 60084 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última