Alguém já disse um dia que amigo que é amigo, não apenas elogia: critica também.
Tudo certo. Mas só avacalhar com a gente, em nome de uma suposta imparcialidade, de uma suposta intimidade, de um suposto amor fraternal, também não dá.
Tem várias maneiras de ser sincero. Você pode elogiar meu sapato, minhas meias, minhas calças, meu cinto, minhas cuecas (minhas cuecas não, que é boiolice!), minha camisa, meu perfume (o que que é?), mas não. Vem dizer que os óculos que eu estou usando é brega.
Puxa vida! Tem dezenove itens com que a gente está se apresentando e ele escolhe um só, um mísero item, para dizer que não tá legal. Ah não!
Eu nem estou falando de questões anatômicas do tipo “que bronzeado bonito”, “perdeste a barriga”, “pareces bem mais novo”, etc.
Dá até para escrever um livro “Elogio forçado : A lipo-aspiração do ego”.
Não vem dizer que é paranóia, que é mania de perseguição.
Não é mania, estão me perseguindo mesmo.
Tem uma parábola em que Jesus, diante de um cão morto e em decomposição, e todos reclamando do que viam e do cheiro que sentiam, ele simplesmente enalteceu os dentes brancos do animal, dizendo que pareciam marfim.
Então, pessoal. Não dá para seguir esse exemplo.
Olha, deixa para lá essa parábola, senão daqui a pouco meus amigos vão dizer que eu estou fedendo mais que cachorro morto e que meus dentes parecem marfim, não pela brancura, mas pela saliência.
O que eu quero dizer é que, por favor, não se preocupem em ser sinceros comigo, quando o assunto for a minha individualidade. Podem mentir. Elogiem gratuitamente. Elogiem muito. Elogiem desmedidamente. Não se constranjam que eu consigo administrar essa elevação artificial de auto-estima, tipo o que o Banco Central faz com a moeda.
Mark Twain já disse : “Com um elogio eu vivo três meses”.
Estou nessa, me ajudem, com quatrocentos elogios eu vou até os oitenta anos.
Sérgio Lisboa
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