Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Thaís, tudo é sexo -I
Lúcia Barbosa Jorge Henrique

Resumo:
Trecho do romance "Thaís, tudo é sexo", publicado em livro de mesmo nome

........


THAÍS
          
     Esta noite eu tive um sonho. É muito difícil começar. Este começo está ridículo: esta noite eu tive um sonho. Mas é verdade, esta noite eu, realmente, tive um sonho, sonhei com a Virgem Maria. Costumo me perguntar: por que virgem? Não seria melhor, Maria. Os católicos sempre me deram medo. Tive aulas de catecismo. Fiz primeira comunhão toda vestida de branco. O branco é o símbolo da pureza. E o que é pureza? É pensar e não fazer? Porque pensar todo mundo pensa e quem diz que não pensa, mente. Os católicos dizem: peca-se em pensamentos, palavras e obras. Pensar também é pecado. Olha só que coisa confusa! Você pensa e tem que dizer para você mesmo que não pensou. Já que não me deram saída, resolvi ser uma pecadora completa. Para mim, não existe mais ou menos. Existe mais. Existe menos. Sempre gostei dos extremos.
     Adoro meu nome, Thaís. Quando escrevo nunca floreio o T. Prefiro riscar simplesmente o traço vertical e em seguida o horizontal. Olha que letra incrível! Em pé é uma árvore; deitada, um homem teso. E o H! Vê se não é o T deitado com outra haste? E agora, quem está comendo quem? Presta atenção se não é uma foda em pé! E se deitarmos o H. Aí vira um papai-e-mamãe. Vê se eu não tenho razão? Por que um joguinho de bola é chamado de “racha”? Racha?! Que é homônimo do atributo feminino mais cobiçado pelo homem, isso está na cara. Mas por quê? E “pelada”? Sei lá! Será que só eu penso nessas coisas.
     Ainda bem que Deus fez os pensamentos invioláveis. Imagina se quando pensássemos, aparecesse um letreiro em nossa testa. Imagina isso na minha primeira comunhão. Eu, com 7 anos, toda vestida de branco, só pensando no porque dos padres usarem saia. Todo mundo sabe por que mulher usa saia. É mais fácil para tudo. Para mim, as mulheres se dividem em duas categorias: as que usam saia e as que usam calça. As de saia são as que gostam, as que estão sempre prontas. Só entende do que estou falando quem tem sensibilidade aguçada nesse terreno, e explicar a quem não tem, adianta muito pouco. Nunca vi nada. Nunca ninguém me ensinou nada. Adorava, quando pequena, escutar meus pais no quarto. Fazia-o escondida. Entendia tudo. O som virava filme em minha mente. Neste campo, sou um talento nato. Não gosto de falar assim, mas não há como explicar. Existe algo inexplicável, tenho que admitir.
     Tudo na vida que se aprende sozinho e de forma prematura é genialidade. Se você, com 4 anos, aprende a er, é gênio; se aprende a tocar piano, é gênio; mas se seu conhecimento nato é no campo sexual, aí a coisa muda de figura. Precocidade para tudo é inteligência, mas, para sexo, é tara. Sempre tive problema com isso. Minha irmã Malu, quando tem oportunidade, me chama de puta ou de tarada. Ela mexe na minha ferida e eu mexo na dela; na dela não, na ferida delas. Um dia, a coisa ficou preta entre mim e Malu:
     — Papai te vigia porque você é tarada.
     — E ele não te dá a mínima porque você não é filha dele. Você é filha de alguém que comeu mamãe na calada da noite. Foi uma coisa tão insignificante que ela nem se deu conta, quando viu estava grávida.
     Arrependi-me do que disse, magoei minha mãe. Ela subiu para o quarto chorando. Estou aberta à crítica, desculpa esfarrapada não convence. Claro que sabia que atingiria também a Tereza. É assim que a chamo na maioria das vezes, acho que já disse isso antes. Muita coisa que sinto, a culpo. Como quis, precisei, implorei em pensamento o seu carinho, o seu afago, o seu chamego! Isso nunca veio. Verdade seja dita, ela também não os dava a Malu. Comprava tudo para Malu. Tudo mesmo, mas só isso. Eu quando queria alguma coisa como um perfume, um creme, tinha que pegar no quarto dela. Depois de um tempo, comecei a perceber que ela gostava de dividir o que é seu comigo. Gostava que eu usasse, que eu pegasse, que eu mexesse. E as coisas aconteciam sem muito nexo. Será que ela dava tudo para Malu porque queria vê-la distante?... Eu, pelo contrário, tinha sempre que estar por perto. Um dia peguei uma blusa emprestada. Tudo dela é lindo. Usei e dei a Dolores para lavar. Mamãe tirou a blusa das mãos de Dolores e disse: “não precisa, está limpa”. Pegou-a e      cheirou, o prazer em sentir meu cheiro foi visível. O quarto dela era continuidade do meu. O que não tinha no meu, tinha no dela. Ela nunca me negava nada, absolutamente nada. Eu tinha que ficar de cá para lá e de lá para cá. Ela fazia papel da péssima mãe e eu da ótima filha. Tudo loucura, mas era assim.
     Ótima filha! Como sou cretina a ponto de falar isto. Quando pequena, para sentir o toque do meu pai, ter seu corpo junto ao meu, ia para a porta do quarto dos meus pais. Sabia que ele havia chegado, já o tinha escutado estacionando o carro. Esperava ele subir as escadas, aí, lá na porta, tudo coisa de artista, deitava e fingia dormir. Ele achava que eu estava ali por descaso dela. Pegava-me no colo e socava a porta. Como ele iria saber que a porta não estava trancada? Como ele iria virar a maçaneta? Eu estava no seu colo! Era isso que eu queria: senti-lo perto. Aquele colo era tudo para mim. Coitada! Quantas brigas eu causei, quantas desavenças!
     Agora eu posso falar de mim sem chocá-lo. Eu gosto de homem desde que nasci. Mas de homem — não de garoto — com barba, pêlo. Adoro-os por puro maravilhamento. É sso mesmo, não tentem me corrigir. Maravilhosos, sem entendimento. Para que entendê-los? São indecifráveis, imutáveis, nascem de um jeito e morrem do mesmo. São olhos, nunca ouvidos. Os melhores são os que gostam de mulher. Acha absurdo o que estou falando? Não é, conheço-os bem. É fácil de reconhecer. Os que gostam, os olhos procuram rapidamente qualidade em uma mulher; os que não gostam, os olhos vão direto em cima do defeito. Tenho prazer em seduzi-los; é estimulante, faz bem ao ego. Gosto de ser a luxúria total. Também acho que a maioria das pessoas é como eu e pensa que não. Somos todos iguais. É muito difícil encontrar alguém que não se possa seduzir. Tem que se ter cuidado, nada na vida é de graça. Há momentos que sou puro sexo. Pulsa sexo por todos os meus poros, é descontrole total; outros, quero instigar, desafiar, transgredir, na hora em que a sacanagem toma conta de tudo, eu deliro, me divirto, me sinto dona da situação.
     Sou égua selvagem, não sou domesticável. Graciosamente, só tenho uma aparente resignação.


Continua.....




                                      Romance com 232 pgs.




Você gostou? Quer criticar? Fique à vontade.
lbjh0111@gmail.com
     





Biografia:
Lúcia B. Jorge Henrique é mineira de nascimento e niteroiense de coração. É economista e especializou-se em Mercado de Capitais. Trabalhou nesta área durante quinze anos. É casada e mãe de Polyana. Como profissional do mercado e mãe, optou em abandonar a carreira e dedicar-se à educação de sua filha. No circo de horrores que o Estado do Rio de Janeiro vive, em uma tarde ensolarada de uma sexta-feira, foi seqüestrada à vista de todos que passavam, por três jovens armados que entendem ser o seqüestro uma forma fácil de ganhar a vida. Frases textuais dos marginais: — Tia, é mole pegar mulher, ela não reage, só dá uns gritinhos. Aí a gente dá umas porradas e ela fica logo quieta. Depois de dezoito horas de cativeiro e ter vivido no limiar da vida e da morte nasceu a ânsia de exteriorizar pensamentos e emoções através da palavra escrita.
Número de vezes que este texto foi lido: 52852


Outros títulos do mesmo autor

Romance Thaís, tudo é sexo -II Lúcia Barbosa Jorge Henrique
Romance O Sedutor - II Lúcia Barbosa Jorge Henrique
Romance Thaís, tudo é sexo -I Lúcia Barbosa Jorge Henrique
Romance O Sedutor - I Lúcia Barbosa Jorge Henrique


Publicações de número 1 até 4 de um total de 4.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 69000 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57911 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 56750 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55824 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 55080 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 55027 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 54895 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54878 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54786 Visitas
Coisas - Rogério Freitas 54756 Visitas

Páginas: Próxima Última