Não conheço ninguém que já tenha tido a honra de ter um gênero literário inspirado em seu nome além de Nikola Tesla. O engenheiro elétrico e inventor nasceu na Sérvia, em Smiljian, no ano de 1856. Devido as suas grandes contribuições científicas e teorizações acerca da energia elétrica, acabou despertando os escritores de ficção para a escrita de histórias que englobassem a relação da sociedade com a energia elétrica.
Meu primeiro contato com o gênero Teslapunk veio com uma antologia organizada pelo Maurício Coelho, prolífico escritor e tradutor, além de antologista. Assim como outros subgêneros da ficção científica a exemplo do steampunk, dieselpunk, solarpunk e o famoso cyberpunk, as narrativas se desenvolvessem explorando a interferência da tecnologia na vida humana, muitas vezes, de modo negativo.
Em mais uma antologia do selo Cavalo Café, a obra Teslapunk: Tempestades Elétricas, Maurício Coelho acertou a mão escolhendo dez contos para participar de mais uma antologia, sendo o próprio organizador um fã da temática e publicando também um conto. A Editora Porto de Lenha trouxe uma ótima edição, tem orelhas, ilustração de Rafael Danesin, papel do miolo amarelado, ilustrações internas, página de abertura com fotos e biografia dos autores, prefácio e posfácio. O que faz do livro um show de editoração.
O prefácio é escritor pelo Prof. Dr. Alexander Meireles da Silva. Professor da UFG, mestre e doutor em Literatura. Aqui ficamos sabendo um pouco mais sobre a origem do gênero literário e sua relação com a produção contemporânea. O Teslapunk se insere nas propostas punk de contestação, mas não deixa de ser um tipo de Retrofuturismo. Além disso, vemos a influência de Tesla na cultura pop.
O primeiro conto da antologia é o mesmo do ilustrador, Tunguska, 30 de junho de 1908. Já li um outro conto do colega escritor numa antologia de cyberpunk. O texto investe muito na metaficção, ou seja, você obrigatoriamente deve ter muita leitura anterior para entender. Para mim, não foi difícil pegar as referências, mas o leitor médio não vai pescar. Não darei spoilers. O conto só peca nisso mesmo, merecia mais páginas.
O conto seguinte é o trabalho de estreia do Gabriel Mascarenhas, é o melhor da antologia, na minha opinião. Teletransfoto traz um clima de ficção policial dentro de uma história Teslapunk. O conto é tão bom que você sente uma nostalgia, você se sente transportado para as antigas narrativas Pulp Fiction, quando talento e originalidade eram essenciais para se contar boas história. Parabenizo ao autor, foi genial.
Pedro Graeff nos traz um Teslapunk e narrativa histórica, uma mistura que casou muito bem em Guerra Fria. Através de uma ação cotidiana, memórias de guerras travadas a muito tempo são destrinchadas. O uso da energia elétrica como força bélica Segunda Guerra Mundial mudou as relações beligerantes. Como estudante de História eu curti esse conto demais.
Armistício de Sangue é escrito pelo Daguito Rodrigues. Além de escritor, o autor é repórter e roteirista. Algo que influenciou bastante seu conto. Foi o segundo que mais gostei. Vi aqui uma contestação política e um questionamento existencial ousado e que faz muita falta nas produções de hoje. Aqui, um policial está tentando dar conta do salvamento de reféns numa faculdade, mas nada será o que você pensa.
João Augusto de Nardo é um escritor de terror sem igual. É editor da Revista Aterrorizante. Em seu conto Barracão 13, temos uma narrativa muito curta, mesmo em primeira pessoa, senti que faltou explorar mais. A história gira em torno de um rebelde que acaba descobrindo planos do governo que incluem poderosas máquinas assassinas. Caio Fraga traz um conto interessantes, com direito a viagem no tempo e tudo mais. O segredo do tempo vai te parecer confuso até o fim. Mas quando chegar lá, o autor vai te surpreender.
Raios e escuridão é o conto do Adnelson Campos. Flerta bastante com o paranormal. Até o fim da história não sabemos quem influência a mente de Tesla em suas criações, o que nos faz pensar quais seriam as consequências direta desse contato. Jonnata Henrique é poeta e contista de mão cheia. Aqui ele misturou Teslapunk com faroeste. No conto a Centelha de Zeus, faroeste em Oeste Rochoso traz a mobilização de uma cidade inteira atrás de um estranho artefato que pode gerar energia elétrica ilimitada.
B. B. Jenitez é um autor que eu já conheço da Revista Somnium. Seus contos sempre tem um quê de narrativa experimental. Eu gosto muito das suas propostas narrativas. É inspirador como a forma do conto altera a nossa percepção dos acontecimentos da narrativa. No conto Passaporte para Magônia, escritos apócrifos de Tesla revelam experiências únicas e que evidenciam contato com formas de vida não humanas.
O conto que publiquei nessa antologia, minha estreia no gênero Teslapunk foi uma história ambientada num Brasil em plena ditadura, onde energia elétrica é usada como forma de controle e segregação da população. Em Dançando sobre as faíscas, Watts é um homem que está adentrando um terreno perigoso: o do traficante de energia. Mais seus objetivos vão muito mais além da necessidade energética.
O conto do organizador Maurício Coelho traz várias questões à tona, dentre elas as criptomoedas e a questão da imigração ilegal. Cidade Luz se passa em Belém do Pará, o protagonista Plínio contata o angolano Lévy para executar um roubo a criptomoedas. O imigrante até tenta se desvencilhar da proposta, mas o outro é mais insistente. No fim, o roubo ocorre com graves consequências para um deles.
O posfácio é escrito por um autor da velha guarda, o Prof. Dr. Edgar Indalecio Smaniotto. Antropólogo, filósofo, e ainda mestre e doutor em Ciências Sociais. Pesquisador de diversos aspectos da ficção científica como o transumanismo. Aqui conhecemos um pouco mais sobre as origens de Tesla e sobre a ciência acerca da eletricidade. Aspectos de sua psique e de sua vida são importantes para entender e até produzir ficção no Teslapunk.
Com todas essas informações, esse livro se torna obrigatório em sua coleção. Além da leitura de onze conto incríveis, você conhece um pouco sobre a biografia de um grande cientista moderno, um novo subgênero da ficção científica, tudo isso num único livro com edição pra lá de ótima. O Maurício além do talento é muito eficiente e talentoso, gostei de trabalhar com ele nessa antologia.
Para adquirir o livro acesse:
http://portodelenha.com/livraria/conto/85-teslapunk.html
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