Quando nasci um anjo torto, desses que vivem nas sombras me disse: Luiz,seja como seus pais: você nasceu com a síndrome de Gabriela, e, portanto, contente-se com isso. Sem casa, sem emprego, sem instrução. Seja tão desestruturado quanto eles. Quem nasce na senzala, nunca terá acesso sequer, aos portões da Casagrande. Mas não entendi o anjo torto e lhe disse: anjo, o mundo é vasto, vasto é o mundo, não sou Raimundo, não sou uma rima, portanto, serei diferente. O anjo não contente, dizia que eu encontraria muitas outras pedras pelo caminho que passasse. Paguei pra vê. De certa forma o anjo estava certo. E eis que triste e decepcionado com a vida o anjo me aparece e diz: e agora Luiz, a festa acabou, o povo sumiu, e agora Luiz. A noite esfriou o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia. Mas eis que um sopro de esperança encontrei, e vi que tudo vale a pena quando a alma não é pequena; perde-se a batalha, mas nunca a guerra. Terei dificuldades, mas a vida é dura pra quem é mole.
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