Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Lembranças da caserna
LUIZ CARLOS SOUZA SANTOS

Lembranças da caserna
          O militarismo deixa marcas indeléveis no ser humano. A percepção de mundo passa a ser vista de outra maneira. Ademais, o vocabulário amplia-se com palavras nunca vistas antes, isto é: Bisonho, monstro, mocorongo, rancho, pernoite, alvorada, vai pagar, dentre outras. Sem falar algumas frases proferidas por algum praça filósofo que se eternizam, como: “A polícia é uma fábrica de loucos”. Sim, marcas indeléveis, elas não saem, por mais que você queira. Os sonhos ou pesadelos que o digam. Qual recruta que não sonhou com sua arma falhando ou recebendo um tiro, e acordando desesperado durante a noite?
        Dessas marcas indeléveis, a que permanece até hoje, é o porquê de sentir tanta fome no recrutamento. As três refeições diárias não eram suficiente para suprir a fome que eu e alguns colegas sentíamos. Sem falar que sem proventos para um lanche, éramos obrigados invadir a chácara do major para furtarmos goiaba verde.
        Com a chegada do serviço de quarto de hora: (expressão militar que traduz o período de duas horas em que uma sentinela está em seu posto), via ali a solução para minha fome descomunal. Percebi que dois colegas de situação financeira invejável tinham certa dificuldade para acordar nas madrugadas, visto que no decorrer do dia o traquejo era surreal. Com isso, avisei aos colegas que se alguém estivesse doente ou cansado, ou de alguma forma impossibilitado de tirar o seu serviço de quarto de hora, eu estaria pronto, já fardado com o bichoforme. Só era chamar. Não deu outra, os colegas de alcunha “Curiri” e “Mondrongo” se tornaram clientes assíduos naquela empreitada. Até que um dia algo de inusitado acontecera. Já cansado de pagar a bagatela de míseros “dois reais” um dos colegas me acorda na madrugada solicitando meus serviços nos portões das armas. De imediato acordei e como de costume aguardava o valor acordado entre as partes, quando me surpreendi com o pagamento. Era um pacote de biscoito recheado. Dizia ele que não tinha mais dinheiro para pagar, e a única coisa que restara foi aquele pacote de biscoito. E eu, como não fugia ao serviço, desloquei-me ao portão das armas com meu pacote de biscoito.


Biografia:
-
Número de vezes que este texto foi lido: 52855


Outros títulos do mesmo autor

Contos Relato de um covidfóbico Luiz carlos souza santos
Contos O poder simbólico das coisas Luiz carlos souza santos
Contos O peixe da semana santa Luiz carlos souza santos
Contos Cela especial Luiz carlos souza santos
Contos Soldado Praquino Luiz carlos souza santos
Contos Sargento Severino Luiz carlos souza santos
Contos Um certo anjo torto LUIZ CARLOS SOUZA SANTOS
Contos Lembranças da caserna LUIZ CARLOS SOUZA SANTOS
Contos A abordagem LUIZ CARLOS SOUZA SANTOS
Contos O níquel LUIZ CARLOS SOUZA SANTOS

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 21 até 30 de um total de 37.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
Desabafo - 54265 Visitas
O Senhor dos Sonhos - Sérgio Vale 54232 Visitas
Jornada pela falha - José Raphael Daher 54099 Visitas
Depressivo - PauloRockCesar 54074 Visitas
A menina e o desenho - 54066 Visitas
MENINA - 54048 Visitas
sei quem sou? - 54039 Visitas
Vivo com.. - 54031 Visitas
eu sei quem sou - 54023 Visitas
Viver! - Machado de Assis 53999 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última