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ESTAR OU NÃO ESTAR, EIS A QUESTÃO
Manoel Rodrigues de Abreu Matos

É verdade que a sociedade contemporânea é mais desenvolvida que as anteriores. Tornamos o mundo menor, aumentamos a capacidade de diálogo entre os diversos povos e potencializamos novas descobertas que possam vir a contribuir para melhorar nossa vida, além das que já realizamos. Com mais de 200 000 anos de história, o ser humano já descobriu e aprendeu incontáveis coisas, mas ainda não se descobriu enquanto humano. Como tal, deveria prezar pela relação uns com os outros, tendo como elo o diálogo e a reflexão, capacidades que nos diferenciam das demais espécies.
Na contra mão disso, nas ultimas décadas presenciamos o crescimento incontrolável do individualismo e o silênciamento das pessoas, quando deveria ser o contrário. Inexplicavelmente, à medida que nos tornamos mais conectados virtualmente, diminui a interação presencial e as pessoas passam ser controladas pelas redes sociais. É notório, como já criticado por algumas pessoas que ainda conseguem pensar fora da caixa, a mudança na forma de as pessoas se comunicarem. Em um restaurante, por exemplo, passaram a ser normais o silêncio entre os presentes e o som dos cliques. Cliques esses que podem ser das conversas nas redes sociais ou das fotos que tão logo tiradas já recebem as curtidas e os comentários. Na maioria das vezes, certamente, as pessoas nem observam ou contemplam o local onde estão, preocupam tão somente com as fotos que vão povoar as nuvens. Fico pensando o que Hamlet diria disso tudo. Provavelmente, sendo ele uma pessoa muito direta e prática, diria que as redes sociais refletem a solidão da modernidade. Hamlet concluiria sua fala alegando que há algo de podre na sociedade. A podridão a que ele se referiria, provavelmente, seria a insana necessidade que temos de falar o tempo todo, de sermos vistos, curtidos e comentados. Não temos paciência para ouvir o próximo, nossos problemas são sempre mais urgentes e mais importantes que os dos outros. Esse caos parece não nos preocupar mais, já se transformou em realidade e ganhou o status de normalidade. Contudo, uma cena me chamou bastante à atenção. Em uma noite de festa junina, em uma pequena cidade do interior da Bahia, uma banda tocava um velho e bom arrasta pé, muita gente dançando, outros bebendo e mais alguns observando apenas. Como não sou muito bom na arte da dança, estava na plateia. Observei, em meio à multidão, um jovem que utilizava um fone de ouvido tipo headdfone. E não estava desligado, pois ainda foi possível ver as luzes variando de cor na parte interna do fone. Fiquei observando aquele jovem por uns 60 minutos até que ele se perdeu na multidão. Ainda não consegui entendê-lo, pois estava em uma festa, centenas de pessoas, músicas ao vivo, mas aquele jovem parecia não comungar dessa ideia. De fato, o jovem intrigante estava ou não na festa? De novo penso em Hamlet e em seu eterno questionamento “ser ou não ser, eis a questão” que poderia ser adaptada para “estar ou não estar, eis a questão”. Aquele jovem poderia estar em qualquer lugar virtualmente naquele momento, mas, por certo, na festa junina ele não estava mesmo.


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