Bate a perna,bate o braço.
Bate a porta.Arreda,mas não abre.
Esperneia, mas não chora.
O vento esgueira e depois cansa.
Por ser homem, procura a porta e dança.
O vôo é curto e não é de prata.
A caçada é brava e lá voam pedaços de sonhos.
Não morre de costas, não morre de frente.
Mas apanha sem dó.
Tão mansa é a cor, tão densa é a bruma.
São os nogueirais que dançam ao vento!
Corre sangue, mas não arreda - costura.
Quem corre é boi de cordão.
O grito é no escuro, a paulada, na cabeça.
Segura a bandeira, trança no corpo,
mas não deixa a pátria fugir!
Se a pátria morreu
faça-a ressurgir dentro do
verbete.Páprica, arroz doce,
grito na paturilha !
Mas não deixa morrer.
Desfaz este nó,
grilhão de mel,
tal tempero em pó, feito com pimentão
vermelho, como o bravo sangue.
Pela porta do tempo, corre solto,
com vara curta e botas e bonés.
E lá,só sem primeira comunhão.
Tudo à soleira da porta,
pedindo pra entrar.
São rascunhos de memória curta.
Ela, na cadeira de cedro,
cheirando a jasmim e eu sem manhã para entrar.
Que récita sem dó!
São barganhas de bonecas
que já lá nasceram estrelas sem falas.
Mas eu derrubo a fada e mato meu sonho.
Guerreiro de pano!
Reis que não aguardam a brisa.
"Reis comem rainhas no vasto jogo de tabuleiro do xadrez fogoso; enquanto lá pelas tantas o calmo príncipe faina a princesa na bela cama. E quase morrem em dueto formoso. É um pega-pega de coiotes, de pólvora seca, e estátuas curiosas.E disse o rei:É a boa linhaça da juventude que me falta!
Mas não abre mais esta porta.E deita comigo e faz deste pranto um castiçal de amor."
Aquela pêssega me levou cem anos de minha vida,
rodopiando bandeiras e roçando na sombra.
Me levou minha idade,
um cordão de ouro,
um facho de luz,
três bonecas de palha, uma caixa de música.
Uma espada de prata e uma matilha de cães.
Chuma saudade,chuma até doer.
Até meus vintens de prata levou.
Até calças rasgadas!
E só deixou pó
para alçar saudade.
Levou minha dona embora.
Tal homem levou!
Bom guerreiro, dono da morte,
pluma e esvoaça, corta a maçã
como uma afiada faca lantejoula.
Deixou,por vontade, uma foto
- ele de certo, ela de pajém,
eu vestido de pó e um
reino todo em guerra.
Quando chega a hora chinesa, de manhã,
É a hora da meia-noite, hora de troca dos dias.
O que ficou lá para trás segue para frente.
Quem morreu ontem por lá, vai renascer hoje por aqui.
Diz a lenda nebulosa.
É a hora chinesa!
Quando ela chega, do outro lado do mundo,
que fica do lado de cá, ou no meio, ou no ontem,
todos vão ao grande lago iuminado por tochas
e adornado por flores.
E jogam lembranças e adeus para aqueles que não foram e não partiram, pois todos vivem a hora chinesa.
Meio aqui, meio lá.
E um grande barco passa ao largo levando os que chegaram
e esperando os que vão partir.
Não me peça as horas
dentro do tempo.
Agora é do outro lado de lá,
quando
surge a manhã marcando sete
Agora é do outro lado de cá,
quando
morre aqui o dia
marcando sete e um.
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