AMAREURINA
Paracetamol, antiinflamatório, buscopan, bactrin; múltiplos remédios que carrego desde os nove anos. Taquicardia, inflamações nos rins; cirurgias foram duas, uma para a ponte de safena e outra no estômago. No entanto o que mais incomoda são as excreções, dores insuportáveis para expelir pequenas gotas dessa bendita urina; sempre quando é expelido me sinto aliviado. Endocrinologistas, nefrologistas, os melhores do país, sempre dizendo que estou curado; nenhum diagnóstico novo senhor Tômas. Eles não sabem o que sinto, são muitas dores. Minha família diz que é psicológico e que não estou doente. Com o passar dos meses meus pais, meus filhos e esposa abandonaram a casa. Fiquei sozinho naquela imensa residência.
As noites eram tão longas, nunca tinha sono. Folheando alguns livros de química do meu pai, observei que havia um artigo tratando sobre os componentes químicos da urina, aquele líquido que tenho dificuldade para expelir. Não consegui ler, pois estava bastante velho aquele artigo com mais de 50 anos. Num momento de cochilo tive um sonho; alguém me dizendo algo. Beba sua urina... Beba sua urina..., aí está a sua cura. Nesse mesmo instante acordei e comecei a recolher pequenas gotas e percebi que quanto mais bebia, mais me sentia aliviado. Trinta dias se passaram nada mais senti; a urina fluía do meu ser, sem dor, sem transtorno; estava curado. No entanto continuei bebendo aquele líquido perfeito, remédio abençoado. Aquela que amo, Amareurina.
LUIZ CARLOS SOUZA SANTOS
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