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Maturidade
MARA LUIZA GONÇALVES FREITAS

Há um momento da vida em que simplesmente a dor não causa mais dor e nem a dificuldade abala o psíquico, porque a experiência em naufrágios anestesia a alma. De repente, um gigante nasce dentro de si mesmo e se percebe que as cicatrizes no corpo, no coração e no espírito são apenas tatuagens que decoram a pele. De repente, cada lágrima derramada, se torna um bálsamo que torna a alma mais longeva e uma lente que amplia a beleza da estrada que todo ser humano percorre ao longo da ventura da vida.

Esse momento é a maturidade.

Eu tenho 41 anos e hoje, madura, escrevo que como uma loba, eu sou capaz de curar minhas feridas, de caçar e de sobreviver ao inverso rigoroso. Eu me permito sempre vencer, mesmo que me cacem e tentem arrancar minha pele. Não devo nada para a opinião da matilha e simplesmente sinto e me recuso a me adequar ao padrão, que envolve inclusive a habilidade de sentir mágoa e luto, sem que isso me engesse. Amo, vivo, mas também sei dizer adeus, quando é hora de seguir adiante.

Uma loba solitária tem valores, sabe o que quer, busca seu sustento e sobrevive. Sangra, se cura e se levanta, porque a única coisa capaz de subjuga-la é a sua própria vontade. Por esse motivo, eu me orgulho dos meus tropeços, das minhas decisões, dos meus erros, dos meus acertos, no meu legado, do meus valores, ética e moral: afinal foram eles o fogo implacável, que em meio a alegrias e dores dilacerantes, me forjaram.

Agora eu estou pronta.
Para a vida.
Para a guerra.
Para o amor.
Para a morte.
Para a tormenta.
Para a prosperidade.
Para a aventura.
Para simplesmente decidir o que é realmente melhor para eu mesma.

É claro que ainda faltam umas coisas para tornar a alegoria mais concreta, mas até os 50 eu consigo. Afinal, estou lambendo minhas últimas feridas e trocando de pele. A primavera chega em breve e eu preciso me preparar para a temporada de caça. Há de se recompor a energia, sem se abrir mão da elegância, da ética e da justiça.

O institinto, o espírito, o motivo de presença na ventura humana, afinal, nunca morrem. E enfim, toda a caminhada fez com que eu reconhecesse os motivos que me levaram a calçar os sapatos que eu calcei e porque tive que usar os mapas que usei. Eu não seria quem eu sei se não fossem tais condicionantes.


Biografia:
Só uma brasileira.
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Crônicas Maturidade MARA LUIZA GONÇALVES FREITAS


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