O Costa & Silva se estende elevado cortando o centro velho ao meio, de um lado e do outro lado janelas espremidas entre paredes perfiladas que encurtam o horizonte. Nas sacadas, quase nada, pessoas quase nunca, às vezes alguma roupa pendurada, janelas fechadas e vasos sem flores. Na avenida carros passam e passam, largam para trás apenas o ruído, apenas a fumaça, os olhares indiferentes e apressados dos que passam.Elementos compondo uma coisa uniforme, um corpo único e monótono.Não há curvas ou sinuosidade, o espaço é espremido e esticado em uma incólume linha reta. Lá embaixo sob as sombras do C & S, em meio à tétrica paisagem, olhares perdidos de esperança.Ocultos em meio à sombra rostos perdidos no tempo são um ponto cego na paisagem. Rostos sem dono, rostos sem pessoas, pessoas sem pessoas. A noite é fria como a paisagem, não há calor, não há sentimento, há apenas o estático movimento dos carros que passam lá em cima e embaixo.Paredes e janelas, paredes que aprisionam e segregam, janelas que mesmo abertas estão fechadas. Gente? ou mobília velha descartada, guardados no porão são corpos (cansados) ocultos dos que passam. O chão frio como leito, manchetes nos jornais e notícias como abrigo. Solidão infinita e indisfarçável e frascos com a água ardente, um antídoto. Olhares vagos e sem horizonte, à noite sob o viaduto dormir sem adormecer.
Gladyston Costa
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