Ah que coisa boa, quando lembro dela; minha avózinha. Quando eu tinha uns oito anos, todo final de semana, após o café da tarde, na área de lazer do seu prédio, minha avó me levava, e eu pequena, e feliz, ficava no balancê, o qual parecia que me transportava para um outro mundo, um mundo em que só existia eu, aquele mato no horizonte, um cheiro de chuva, de vida saudável e minha avó, que ficava tricotando e me espiando. Ela tricotava sentada naquele banco arredondado e confortável esperando eu alcançar a cada impulso para frente a mais alta adrenalina, o mais alto sonho, uma liberdade sem explicação; ser solta, leve, como voar, só que se segurando. Sabia que não iria cair, porque além de eu me segurar, ela, minha avó estava ali sentada, também e me fitando, com um ar de sorriso nos lábios me encorajando a realizar mais e mais força e me superar. O tempo que ficava me balançando era do café da tarde até o anoitecer. Acho que seria sem graça se eu começasse a brincar antes desse horário. Hoje, após quase vinte anos, me recordo desse tempo, dessa necessidade, dessa alegria com hora marcada e essencial. Minha infância, assim como esse tempo no balancê passou. Mas, a presença dela esteve comigo até a fase adulta. Recordo também, que quando viajamos de avião e houve um momento de turbulência era ela quem estava do meu lado, segurando a minha mão direita bem forte e confiante. Engraçado, nesse momento estávamos literalmente em voo, voando dentro de um avião, e assim como no balancê, em que seus olhos me faziam ir mais longe, aquele aperto em minha mão fez com que aquele avião voltasse a se reerguer, tenho certeza. Sinto que hoje de onde quer que ela esteja, ela continua me observando, acho até que me ajuda nesse balancê, que é a vida, me impulsionando rumo àquele mundo que antes eu acreditava existir e que hoje, a gente quase não imagina que exista. Hoje, percebo que o papel de minha avó é o de me trazer esperança, é o de acreditar em mim e entender que há tempo para tudo, desde de querer voar, o qual é muito importante, mas também o de me preparar para o voo rumo àquele lugar que no fundo sabemos que existe.
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