Acho que uma das maiores proezas das redes sociais é sua capacidade sem igual para propagação de disparates e banalidades- e isso em uma escala jamais vista, tanto no quesito velocidade quando no de quantidade.
Até eu, que sequer sou um sujeito tão popular e gregário assim, recebo minha cota por dia. Algumas dessas mensagens, mesmo quando um tanto triviais, são até simpáticas. Uma das fotos mais bonitas de uma praia sob a luz da lua que já vi veio junto com um desejo de “Boa Noite” em letras garrafais. Já outras são um tanto difíceis de engolir...
Algumas conseguem ser tão melosas quanto música do Ray Conniff- e tão kitsch quanto as capas de seus álbuns! Em geral são pequenas imagens de anjinhos, bichinhos, xícaras de café ou crianças cujas cabeças constituem 1/3 do corpo, acompanhadas de sentenças repletas de sentimentalismo digno de um folhetim mal escrito. Essas são a maioria, mas não todas... não é raro receber textos mais longos, com pretensões à parábola com lição construtiva.
Hoje mesmo, pouco antes do almoço, recebi um desses. Seria cansativo reproduzir palavra por palavra, mas de forma resumida tratava, após expressa recomendação de “Para refletir”, de um suposto milionário sem esposa ou filhos e de nome não revelado, que convidou seus muitos empregados (se os mesmos tinham ou não carteira assinada não é informado no texto) para um jantar e oferece a todos uma Bíblia ou um maço de dinheiro, à escolha de cada um.
Todos os empregados, cada um por um motivo diferente, desde não saber ler até precisar do dinheiro para cuidar da esposa doente, escolhem o punhado de dinheiro, exceto um rapaz, o qual escolhe a Bíblia após um longo discurso de virtuosidade religiosa e acaba por descobrir, no interior do livro, um vultoso cheque e o testamento onde o milionário lhe deixava como herança tudo que possuía. O texto termina com alguns chavões, veladamente (ou nem tanto) exortando o leitor a seguir os preceitos religiosos da religião daquele que elaborou o escrito.
Não me entendam mal... nada tenho contra fábulas, parábolas, novelas exemplares ou demais escritos que encerrem lições, valores ou preceitos. Tenho meu pé atrás é com essas banalizações melodramáticas que tanto pululam de um celular para o outro, e que de alguma forma acabam encontrando um caminho até o meu. Infelizmente.
Após terminar de ler tão distinta peça de proselitismo religioso e conservador escamoteada de mensagem edificante, a qual deixa passar em branco, sem maiores questionamentos, algo como a esposa doente não ter acesso a um serviço de saúde público de qualidade, limitei-me a perguntar para quem enviou-me o texto se, basicamente, a lição passada era “tenha fé e receba bens materiais”. Não recebi resposta.
Aposto, entretanto, que vou receber mais mensagens como essa. Não tenho a menor dúvida.
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