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Sintomas do Tempo
T. Richter

A tal linha de sombra descrita por Joseph Conrad chega para todos, ou quase. O único remédio para não envelhecer é morrer jovem, algo, convenhamos, pior que o male em si. E como Conrad explicou em seu livro, a aproximação dessa linha sombria traz seus sinais. 

Algo como aquela avó de um amigo da vizinhança onde você cresceu, que trazia lanche quando vocês jogavam videogame naquelas tardes após a escola. Você cresce, vai jogando cada vez menos, mas ela ainda está lá, e você a ajuda a carregar as compras quando a vê na rua e coisas assim. 

Então, quando você está lá pelo começo dos “trinta anos” (um pouco mais, um pouco menos... varia de caso a caso), te contam que ela está internada. Pouco depois vem a saber do falecimento dela. E parece que foram ontem aquelas tardes de 8 bits. 

E esse tipo de situação vai se repetindo, cada vez com mais freqüência. 

Sim, é parte da vida, eu sei. Eu conheço tal retórica, “ciclo sem fim” e essa conversa toda, mas não acho que seja fácil alguém perceber que um dos sinais do seu próprio envelhecimento, de que o tempo também passa para você, é a perda, gradual porém cada vez mais constante, de pessoas, sejam elas próximas ou nem tanto assim, que sempre estiveram “lá”. 

Essa “mudança no cenário” (pois já não foi dito que o mundo é um palco?) que vai ocorrendo é um dos traços mais fortes do correr do tempo... gente que, desde que você se entende por gente, estava “lá”, no cenário da sua vida, e, cada vez mais frequentemente, vai “sumindo”.  

E, desapercebidamente, você acaba aos poucos ocupando o lugar das outras pessoas no “palco”. Nem se atenta de imediato, mas quando se repara é você quem está na churrasqueira assando a carne, enquanto seu pai está sentado em uma mesa próxima, porque não agüenta mais ficar tanto tempo em pé. E mais alguns churrascos depois a cadeira está vazia. 

E aquela música “A Lista” do Oswaldo Montenegro vai começando a fazer todo sentido. 

T. Richter, setembro de 2020

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