Cansei da vã escrita
onde cada palavra a outra evita
e signos domesticados
cantam na garrafa
o último fado...
Cansei da vã fala que nada exala
senão a bala do cano enferrujado
do cérebro descebralizado,
cada poema um morto
em mal estado...
Cansei das bocas bocejando
palavras cheias de larvas inacabadas,
de versos que dizem que a mando
da inutilidade dizem do quase o nada...
Cansei de ser o poeta
que mal sustenta sua neta,
a poesia em fraldas,
que joga fácil o jogo da sorte
por saber que cada poeta
joga o jogo da morte...
Cansei de achar nos escombros
poetas que sofreram tombos
e nunca mais recuperaram a verve,
daqueles que nem os quesitos básicos
sabem soletrar e ainda assim se acham
poetas trágicos...
Cansei de me cansar
e em estado de cansaço arfo
e a adaga plena no coração no poema enfio,
como meu corpo também enfio
no rio de sangue morno e quente
da poesia fervente...
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