Tem dias que peço licença
e a palavra não sai do ninho;
então crio frases e sentenças
como a uva cria seu vinho...
Tem dias que canto
e o silêncio me pede psiu;
forja-me o espanto,
quieto sussurro: onde se viu?!?
Tem dias que durmo
e balanço meu berço;
o sonhar é meu prumo,
sem nenhum pesadelo...
Tem dias que ando na areia
e escrevo a palavra salgada;
sei que tenho na veia
a doce poesia sangrada...
Tem dias que meço palavras
e elas são mais do que digo;
estendo-as no varal, penduradas,
elas se secam ao sol, comigo...
Tem dias que vago em mundos
que crio para poder passear;
o raso é o mesmo profundo
dentro da terra, solto no ar...
Tem dias que pensando estar indo
volto ao mesmo lugar;
compreendo as ondas sentindo
como se sente o revolto mar...
Tem dias que faço perguntas,
n'outro procuro respostas:
nem quando elas se ajuntam
me mostram o que estou a procurar...
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