Às vezes me sinto uma folha caindo e tocando o chão,
n'outras é a brisa que me leva e me põe sobre a lama;
mesmo assim o que me conduz é a alma do meu coração,
seja em qualquer lugar dele sempre acesa está a chama...
Quantas objetos guardo para me lembrar do que fui,
quantas datas anotadas no rodapé do calendário;
quantos castelos ergui e um a um todo dia rui
e a paisagem está mais clara como um santuário...
Abro a janela e o mundo mudou sem que percebamos,
algo está mais velho e um novo pássaro voa;
por um instante, na viagem do mundo mudamos,
ao longe uma voz nos chama e no espaço ecoa...
Precisamos de abrigo para tantas tempestades,
de conforto quando nos fustiga das dúvidas os ciclones;
apanhamos migalhas que nos jogam as meias verdades,
não mais podemos andar como se fôssemos insones...
Preciso te ouvir mesmo em meio a tantos ruídos,
precisas me ouvir mesmo quando choro ou canto;
precisamos nos achar mesmo que tão distraídos,
n'algum lugar estamos, cantando ou aos prantos...
Sabes como eu que o ato de viver nos representa
quando estamos diante da multidão que algo de nós espera;
sei tanto como você que às vezes o outro lado da lua nos tenta,
nos tornamos anjos a distribuir afagos ou arranhados de fera...
Sei que posso contar com você quando a noite avançar,
sabes que pode contar comigo se em ti às vezes não confia;
estaremos juntos mesmo que redemoinhos invadam o ar,
mais juntos ainda nas palavras desta modesta poesia...
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