Por entre escarras vazas que baforam ofídicas da boca dos canos.
Por entre chaminés a fuligem que entre prédios se espalha pelo perímetro urbano.
Por entre vielas esburacadas, ruas, ladeiras, travessas, becos, corredores e vias desconhecidas, me deixei levar pelas marginais sujas.
Nunca havia atentado para o odor de aerossóis vencidos, o aroma do perfume barato e para o mal cheiro insuportável da ureia amônia.
Nunca havia reparado para a lama das sarjetas, o chorume, a podridão das fezes espalhadas pelas calçadas, e para o dióxido de enxofre e [CO2] carbono invasivo que entranha pelas narinas dos homens.
Nunca havia atentado para a rara fartura da ceia que sob aquele “leve” manto atmosférico, o "invisível" saciava a fome, num desjejum “pingado” com pão mofado de suor e cansaço, no apressado buzinar de um velho [chofer na boleia] FMN [fê/nê/mê] da boleia encarnada.
Nunca havia reparado para o cuscuz cortado no vapor dobrado, servido com bolinhos de arroz queimando, e para o barulho embrulhado de cem mil decibéis em ondas carregadas de papel picado pelo pálio central do mercado.
Vi, que:
Há cargas e descargas de terra e água, de fogo e ar na hora marcada.
Há cargas e descargas de frutas, plantas, leguminosas, secos e molhados.
Há cães pirados latindo no assédio ao "chocolate" da cadela do cio.
Há tragos, bebuns e vidros quebrados no pigarro dobrado da esquina.
Há pregões e pregoeiros à pé ligeiro,
E há peixeiros, açougueiros cheirando rapé no espirro do verdureiro.
Há o pífio, a puta, a ladra e o ladrão.
Há o ócio, o negócio e o divórcio.
E há o gigolô e o cafetão de conluio com a gang do "Alemão".
Vi a separação e as diferenças.
Sim, a “nata” de tudo e de todos os diferentes.
Uns movidos pela fé e a razão, outros pela dor de privar da ração que o “sustentam”.
O limite. O front. Os “muitos” sem que possam sustentar nem colonizar suas próprias vidas na construção de “pontes” como forma de descobrir e reconhecer em si mesmo O outro.
Lá para as cinco, jactos de luz irrompe com o sol da manhã,
Beijando-me a face e a retina refratados no ray-ban de laminado cristalino,
E eis que me vem à cônscia razão de que o Ser-homem é só uma imagem de luz impressa na substância.
Transpassado o portal do coração oferto-lhes em suaves porções por detrás do balcão, poemas em versos de amor e paixão.
Ah! Nenhum freguês? Não importa! Os poetas e os amantes são doidos mesmos!
Mas no meio do mercado andai como os Leões.
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