Seguindo seu chamado, Cristo não quebrará o caniço ferido, nem apagará o pavio fumegante, que tem mais significado do que o falado, pois não só quebrará nem apagará, mas tratará com carinho aqueles com quem assim ele lida.
Os médicos, ainda que levem seus pacientes a ter muita dor, não destruirão a natureza, mas a vivificarão gradualmente. Os cirurgiões lancetarão e cortarão, mas não desmembrarão. Uma mãe que tenha uma criança doente e teimosa, portanto, não a rejeitará. E não haverá mais misericórdia na torrente do que no manancial? Pensaremos que há mais misericórdia em nós mesmos do que em Deus, que planta esse sentimento em nós?
Mas, para favorecer a declaração da misericórdia de Cristo a todos os caniços feridos, considere as confortadoras relações de marido, pastor e irmão que tomou ele sobre si, as quais desempenhará por completo.
“Eis o meu servo, a quem sustenho; o meu eleito, em que a minha alma se deleita; pus o meu espírito sobre ele; produzirá juízo
entre os gentios. Não clamará, não se exaltará, nem fará com que a sua voz seja ouvida na rua. O caniço ferido não quebrará, nem apagará o pavio que fumega; produzirá julgamento em verdade” (Is 42.1-3). Tais palavras são afirmadas por Mateus como já cumpridas em Cristo (Mt 12.18-20).
Nelas são expostos, primeiro, o chamado de Cristo ao seu ofício; segundo, a maneira pela qual ele o leva a efeito.
Deus o chama aqui de seu servo. Cristo era o servo de Deus no melhor serviço que já teve, um servo escolhido e seleto que fez e sofreu tudo
por comissão do Pai. Nisso podemos ver o doce amor de Deus para conosco, em que ele reputa a obra de nossa salvação por Cristo seu maior serviço, e naquela ele porá seu amado Filho único para tal serviço. Ele bem pode ser
chamado de “Amado” para elevar nossos pensamentos ao mais alto grau de atenção e admiração. Na hora da tentação, as consciências apreensivas olham tanto para o problema presente em que estão, que precisam ser
incitadas para contemplar a ele, em quem podem encontrar repouso para suas almas aflitas. Nas tentações, é mais seguro olhar para coisa nenhuma, a não ser Cristo, a verdadeira serpente de bronze, o verdadeiro “Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1.29). Esse objeto salvífico tem uma especial influência consoladora para a alma, especialmente se olharmos atentamente não apenas para Cristo, mas para a autoridade do
Pai e seu amor nele. Pois em tudo que Cristo fez e sofreu como Mediador, devemos ver nele Deus reconciliando o mundo consigo (2 Co 5.19).
Que apoio esse para a nossa fé, que Deus Pai, a parte ofendida por nossos pecados, seja assim agradado com a obra de redenção! E que
conforto esse, que, vendo o amor de Deus repousar sobre Cristo, que tanto se apraz nele, podemos inferir que ele também se agrada conosco, se estivermos em Cristo! Pois seu amor repousa num Cristo inteiro, no Cristo místico, tanto quanto no Cristo natural, porque ele o ama e a nós com um amor. Que abracemos, portanto, Cristo, e nele o amor divino, e edifiquemos
nossa fé com segurança em um tal Salvador que foi provido com uma tão alta comissão.
Vejamos aqui, para nosso conforto, uma doce concordância de todas as três pessoas: o Pai dá uma comissão a Cristo; o Espírito o provê e o
santifica para isso, e Cristo mesmo executa o ofício de Mediador. Nossa redenção está fundamentada sobre a concordância conjunta de todas as três pessoas da Trindade.
Extraído de O Caniço Ferido, de Richard Sibbes.
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