Das poucas que não sei fazer é paixão
Pouca, porque não sei se existe,
E se existe às vezes passa longe
como um vento ameno que ruboriza a tez
Não sei alcançá-la porque ela é leve, mas atroz.
Leve como uma pluma que dança ao vento,
Atroz porque quando suas portas se abrem
Poucas lá são as saídas.
Tenho lá medo de suas garras,
medo de criança quando vê possíveis fantasmas,
medo de gente grande quando sente suas âncoras
ficarem em seu corpo numa paixão tão
coerente como a sombra da lua.
E pobre de você se nessa água
não souber ao menos gritar.
A paixão avança, como valentes guerreiros
imberbes, que se preparam à guerra volátil,
Prontos para invadir fortalezas,rompantes
de vidro que ao sopro ameno se estilhaça
e te faz escravo de alguma coisa e de alguém.
Paixão é coisa forte. Paixão foi feita para ser vivida
nunca para ser descrita. Não há palavras que a julguem.
Mas há sempre lágrimas a contar.
Mas demasiados sentimentos a atormentam
como um sol cáustico que queima
e faz adormecer os que não a esperam.
Não sei por isso falar de paixão,
É tão poderosa e tão frágil que
suas pontas se duelam numa batalha
que nunca termina.
Não sei falar de paixão porque tenho medo,
Não sei precisar exatamente onde fica
Na minha extremidade de dor
ou na ponta de minha angústia.
E se tudo nela é perigoso
depois de feita e composta
vira sonho e apanágio,
vovê vira guerreiro sem nunca
ter tocado numa frame espada;
Vira estrela formosa, se transforma em sóis perdidos
em vários mundos que no fundo,
bem lá no fundo, é apenas uma coisa:
você e ela.
E num tempo de cem anos
você vira uma criança de três ânsias.
Paixão é tão complicado como é simples
questão de ânsia particular.
Mas jamais registrada é
em qualquer cartório da vida. Pois
data não tem nem para nascer ou morrer;
seu único registro é quem nela viveu.
E tem uma certa hora, hora e meia, até
sem hora certa, que a paixão vira tema
de você mesmo: um retrato esfumaçado
na parede granil e
jamais você poderá descrevê-la, apenas ouvi-la,
ou por ela chorar.
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