Era uma casa grande, de paredes verdes, amarelas e brancas, janelas de madeira, pintadas de marrom, e um pequeno muro de grades vermelhas. O piso era composto por parquet, exceto no banheiro, que possuía azulejos amarelos em uma época. E brancos noutra.
Na sala, confortáveis sofás azuis recebiam as visitas. A estante recheada de porta-retratos e outros elementos decorativos como estátuas variadas chamava a atenção. Sob o rack, ficava a televisão Philco-Hitachi cinza de 14 polegadas, datada do início da década de 1990, e um telefone preto. Nas paredes, pinturas representativas de animais e paisagens e um quadro da Santa Ceia embelezavam sutilmente o ambiente.
Os aposentos dispunham de notável aconchego, com camas grandes, altos e espaçosos roupeiros, cômodas, criados-mudos e poltronas. Em um deles, havia um rádio-relógio — esse da década de 1980 — sempre sintonizado em uma já extinta rádio de Cachoeira do Sul.
Na porta do toalete, sempre havia dizeres animados ‘’alertando’’ sobre a utilização adequada daquele cômodo. Ao adentrar, sentia-se por vezes o cheiro característico de Pinho Sol, outrora o suave perfume de flores que a dona da casa usava.
Já na cozinha, predominavam as boas conversas sobre os mais variados assuntos — com um vocabulário muito peculiar — . Além disso, a esplêndida comida, com aroma de carinho, não podia faltar e consequentemente o ganho de indeterminados quilos.
Aos fundos, havia um galinheiro sempre cheio de aves amarelas e um galo nervoso com a presença de qualquer pessoa, um galpão cheia de ferramentas e objetos que remetiam ao passado, um quadro escolar da Quadrosul e uma gaiola de passarinhos. Uma delas se chamava Garibaldo, em homenagem à ave homônima e personagem do programa televisivo Vila Sésamo.
As cadelas Paloma e Bolinha proporcionavam momentos de alegria e descontração, cada uma do seu jeito. Assim como suas amigas caninas, o gato “Mico” fazia questão de impor seu território, fugia com a presença de estranhos, mas tinha manias atendidas como o ganho de pedaços de mortadela no café da manhã.
Entretanto, desde a morte do avô Waldomiro no finzinho de 2004, quem reinava absoluta neste lindo e acolhedor universo era ela, a segunda -mãe, a protetora, a inesquecível avó Clair.
Em 06 de julho de 2012, no começo da tarde de uma sexta-feira chuvosa, Deus decidiu que ela já havia prestado relevantes serviços aqui na Terra, cumprido sua missão com louvor e estendeu-lhe a mão.
Mesmo certa do quanto faria falta a todos com quem convivia — especialmente a mim — mas levando em conta tudo que fez e o poder das lições de amor, carinho, compreensão e alegria que transmitiu, Clair aceitou o chamado divino e partiu para o mais lindo dos jardins celestes. Realizada com seus feitos.
De igual modo, a saudade permanece viva na memória, assim como os incontáveis momentos dignos de nota de uma ligação forte entre avó e neto.
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