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A botija
Luiz Rodrigues

Naquele dia João já tinha certeza de onde ficava a botija, era no oitão da tapera que ficava perto do barreiro, do lado do juazeiro. Na noite anterior, conforme havia solicitado, a alma do finado Eufrásio havia-o munido. João sentiu a rede balançar, mexiam nos cordões, demorou um pouco para abrir os olhos, no sertão teme-se ao se mirar na escuridão ver malassombros. Quando abriu ali estava a alma penada, aguardando o desenterrar da botija para finalmente obter o descanso aguardado há 32 anos de morte.

Aquele tinha sido um ano difícil, a lavoura perdera-se quase por completo, choveu bem em Fevereiro e março, mas quando as plantas preparavam-se para frutificar faltou a água e atrofiou tudo. As poucas vacas estavam que era só ossos, somente as cabras conseguiam sobreviver em estado excelente, comiam de tudo, de folha de favela até a macambira que alcançavam em cima dos lajedos. E João jogou em cabra mas deu carneiro. Fez tudo quanto era mandinga para saber o bicho do dia seguinte e nunca acertou nada, de manhã não lembrava mais o sonho, depois que saía a certa era que lembrava.

Em Setembro a seca completou-se. O governo iniciou a emergência, cavou-se tudo que era chão, estradas que não serviam de nada, tijolos mais inúteis ainda, as casas eram de varas e barro, fez-se barreiros quando não havia chuva, mas recebia-se o que comer, embora em pouca quantidade. Enquanto havia encarregados do governo a fiscalizar as "obras" trabalhava-se, quando eles sumiam abandonava-se tudo.

A água que havia era em cacimbas ou no poço. Certa feita o compadre Antônio ao tirar água do poço deixou o carretel escorregar com o balde cheio, levou tamanha cacetada na testa que passou a tratar o instrumento improvisado para tirar água do fundo do cacimbão como possuído por algum capeta. Para seu Antônio havia espíritos em tudo, se uma porta ou janela batia empurrada pelo vento era algum espírito procurando alguém para entrar no corpo. Certa feita teve que mudar de casa, pois, uma calça sua foi parar em cima do telhado.

E foi junto com João escavar o local da botija, era um chão razoavelmente fácil de cavar, não os encaliçados que dominam a caatinga, mas aquele chão branco de várzea. Preveniram-os logo de não chamar nomes senão o chão virava ferro, ou poderia sair besouros do cão na tubiba deles. Cada um se benzeu 3 vezes. Começaram a cavar. O que será que havia enterrado? Moedas ou ouro puro. Era grande a agonia, tão grande que o velho Antônio acerto com o picarete no pé de João que soltou o berro: - Arra diabo!! -Ouviram um ronco subindo daquele chão, tamanha profusão de besouros pretos saltaram fora, de repente o caba que mal conseguia caminhar, devido um inchaço no calcanhar, desalinhou a andar. Correram até perto da serra. Não há mal que o mato não possa ser uma direção.

E os besouros quando caíam viram moedas de ouro. A vontade de pegá-las todas era muito grande, a de correr maior ainda. Até que sumiu-se tudo. A botija só rendeu correria. Como se há de aprumar num sertão seco que nem a mulesta desse? Voltaram pra casa pela vazante do açude, pegaram duas tamboeiras de melancia e comeram embaixo do juazeiro.


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Contos A botija Luiz Rodrigues


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