Já tive nas mãos a faca,
mas era para o pão;
a serra elétrica para a barba,
aparar o que sobra, ao chão...
Já tive a certeza de que amava,
a certeza se foi, veio a solidão;
encontrei a porta e sua trava
mas dava para o nada no chão...
Já tive a lua se deitando em meu colo,
fazendo ciúmes para o sol ao sul de mim,
cantei a canção desesperada e ao solo
deitei a palavra mais bela, o não do sim...
Já tive a pressa dos ricos e a urgência dos pobres,
o caos da geladeira vazia e o ouro da perdição,
comprei um casaco florido e me achei um sujeito nobre,
a medalha no peito era só ferro velho da fundição...
Já tive a pureza das crianças e a rudeza dos grandes,
nunca matei passarinho mas já roubei algumas moedas,
o mal?, se você deixar ele se torna orca no tanque,
tudo o que você ajunta pode se tornar grande perda...
Já tive a poesia escrita no papel a me olhar e gargalhar,
versos desconjuntados tentando andar com suas silábicas muletas,
pensei ser possível andar sobre as águas e me engoliu o mar,
hoje meus poemas dormem, serenos, bem lá no fundo da gaveta...
Se algo leres saiba que não sou eu, nunca fui e nem nunca serei,
palavras saltam os muros do Paraíso e caem sobre este fértil chão;
se receberes algo saiba que fostes presenteado por aquilo que sei
ser a devoção dos espíritos aos espíritos do bem aqui no chão...
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