Um dia quis uma estrada
com todas as direções que a vida pode dar;
e como parecesse que não quisesse mais nada
a vida deu-me um caminho e onde poderia chegar...
Neste caminho cada pedra era uma montanha,
cada rio um oceano, cada bosque uma floresta;
e por mais que parecesse perto era a estranha
a demora para chegar alegremente a essa festa...
E tantos anos se passaram nesta viagem quase sem fim
que acordei, um dia, e avistei ao longe uma cabana,
chaminé soltando fumaça, algo se moveu em mim,
cheguei, curioso, galgando ladeiras até a planície plana...
Bati levemente à porta, (como o sangue bate na aorta),
o medo é algo curioso: tem curiosidade sobre este jogo,
o rangido suave como se eu ouvisse uma música torta,
enfim, havia chegado sem tropeços e um único logro...
Semelhante à visão do Paraíso diante de anjos,
vi um rosto que, de tão belo, pus-me de imediato
a sorrir desmedidamente e quase cheguei ao pranto,
e então compreendi do que se compõe o amor, num ato...
Tantos anos levei para chegar à casa da vida completa,
passei pelas cinco portas mencionadas por Jung, o visionário,
a pressão desmedida se foi, chegou a paz à minha testa,
um homem se torna inteiro quando lê seu próprio dicionário...
Descansei da lida humana, do arado, da foice, do martelo,
desvesti-me de tantas filosofias que demorou algum tempo,
lavei as mãos e desfiz-me, orgulhosamente, do cutelo:
respirei e andou-me por dentro o suave e doce vento...
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