Não, não me diga adeus,
nunca diga essas palavras assim,
nunca diga a mim...
Lá fora o sol se abre
e aqui está tão frio,
lá fora as flores se abrem
e aqui nascem ferozes espinhos,
pareço gelado por dentro,
deve ser esse terrível vento
que varre meu deserto sem nenhuma beleza,
esse som agudo do trovão caindo,
esse silêncio aterrador que vem depois,
o abandono, o cão sem dono, a noite sem sono...
Seguro nas mãos o último poema que te escrevi,
o aperto, parece que caem gotas de sangue,
as palavras riem e choram por toda essa loucura,
o céu, outrora tão azul, se tinge de cinza,
a chuva que só viria amanhã chega, aflita,
não tenho como segurar as lágrimas,
nem quero morrer como um navio perdido,
me ajoelho e miro o chão e vejo o universo
dizer que sou um desertor do amor,
que não soube guardar em meu coração
essa tanto de amor que você trouxe,
tudo escapou-me por entre os dedos,
a areia, a razão, a loucura,
tudo retornou ao chão duro onde piso
sobre as pétalas das rosas que te dei
no seu aniversário,
que hoje comemoro sozinho,
no frio da noite que abraça
e que não me abandona...
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