Sonhei contigo.
E eu dormia em teus braços...
Depois de ter te feito o meu travesseiro, depois de ter levitado através de ti, depois de ter visto o teu sorriso me invadindo, pelo olhar, entendi aquela expressão de enxergar os olhos como uma boca de cílios.
Acordei com a sensação de te ter, ali, ao meu lado. Eu podia te sentir morando em mim. E, ainda de olhos fechados, eu sorria. No fundo, eu ainda sonhava, só que acordada. Como que prolongando tudo o que foi vivido... no sonho!
Dormi e acordei poeta para ti!
Acordei sentindo uma poesia em mim. Eras tu.
E tudo vibrava.
Uma epifania.
A minha alegria.
Toda a minha dissonância.
E em qualquer canto e circunstância.
Quando um súbito naufrágio me atingiu, fiz da palavra o meu amuleto e lancei a minha sorte. E mergulhei fundo em tudo o que era teu.
E eu te compus. Eu te compus... novamente.
Eu, ali, inerte. Te vendo, te enxergando, te consumindo, te devorando.
Em seguida, nos rabiscos da retina, nos escrevendo, te reescrevendo!
Todas as notas, para ti!
Todas as palavras, tuas!
Os meus versos, todos teus!
Em ti, a inspiração primeira!
A tua voz se fez música aos meus ouvidos, sim!
Que se dane o clichê! Aliás, eu amo clichês.
O teu timbre, os teus agudos e os teus graves, o teu silêncio, o tom harmonioso de cada coisa verbalizada, a coisa toda dita que entrou, e entra, pelos ouvidos e demais sentidos e que escorre pelas veias, por todas as vias, acelerando meu ritmo e me devolvendo o ar.
O meu coração pareceu sair de mim.
A boca seca, o nó na garganta, as pernas bambas.
E eu só tentava entender como era possível adolescer tanto e tanto, e sem fim.
Ahhhh... Depois de ti, toda coisa passou a ser qualquer coisa.
Vem, vem logo puxar as rédeas dessa saudade galopante que não cessa, não finda.
Vem pintar a tatuagem que deixaste em meu corpo, depois do último beijo!
Eu te espero, acordada, tela nua e crua!
Jullie Veiga | Eu Te Poetizei
|