“...:Não há segredo na / travessia da palavra.”
(Sonia Regina)
Travessia é a passagem que marca a nossa vida: trocamos experiências e incentivos. Milton Nascimento, em Travessia, “solta a voz” faz uma homenagem a Elis Regina, porque a considerava “a voz de todos nós”. Cruzamos etapas, por mais árduo que seja o caminho. As energias se adensam na liberdade de expressão, e assim encontramos uma nova travessia, como se fosse a paixão, dois pontos que se unem e se cruzam. Como cita Humberto Mello, “tem hora que a vida pesa / e murmúrios me atravessam / me deito e corto as veias / com a lâmina de um verso...”
Ao fazer a travessia, tentamos juntar os pontos do dia anterior. Atravessamos o olhar quando o Sol se põe e a Lua surge. Inauguramos em cada travessia uma vida de revolução, fazendo da poesia os sentimentos, como em Nídia Bolner Weingartner, “...a poesia chega primeiro à sensibilidade e à emoção. E chega para ficar, porque as mais das vezes, pelo prazer que nos proporciona...”
A travessia costura as forças: bem e mal; alegre e triste; bonito e feio; doce e amargo. É a ponte que leva os homens a viver o amor e ter atitudes. O amor nasce nas palavras em que cada travessia encontra o gesto e o caminho para viver. A ponte para amar é amar-se, quando conseguimos, estamos prontos para amar o outro: cruzamos sentimentos. Atravessar a vida amando é renovar-se com palavras em cada dia. Segundo Jurema Carpes do Valle, “Travessia // ...Luta / Avança / Divisa a praia à distância / E deseja apesar da sua finitude / Alcançá-la.” e, Lindolf Bell, “...Atravesso o avesso / E meu barco de travessias / é a palavra terra / cercada de água por todos os lados...”
A travessia é dúvida, certeza, ponto de interrogação e de exclamação. São as horas que esparramam pedaços em nossas vidas. Atravessamos o escuro e depois tudo começa a ficar colorido, mas sem definição. São várias as razões que nos levam a atravessar a passagem da vida, porque vivemos enquanto convivemos na diferença e cruzamos as ligações pessoais, como no poema Travessia Das Isabéis, de Geraldo Mello Mourão, e nas palavras de Max Martins, “Dados os laços / lançam-se os dedos / os dedos-dons, suas lanças / à travessia...”
Atravessar o mundo é descobrir o Brasil e espalhar o vento sem a poeira. É viver a travessia das distâncias, onde imaginamos o sonho, aspiramos o som do infinito e vamos ao encontro do tempo da conquista, como em Pedro Du Bois, “...Falo em não ousar / a travessia e ir sob a estrutura: molhar o corpo, / deixar cair o corpo , descorporizar. // Falo sobre pontes desnecessárias / unindo (ligando) travessias / ignoradas. Falo do bem-estar.”
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Biografia: Pedagoga. Articulista e cronista. Textos publicados em sites e blogs.Participante e colaboradora do Projeto Passo Fundo. Autora dos livros: Amantes nas Entrelinhas, O Exercício das Vozes, Autópsia do Invisível, Comércio de Ilusões, O Eco dos Objetos - cabides da memória , Arte em Movimento, Vidas Desamarradas, Entrelaços,Eles em Diferentes Dias e
A Linguagem da Diferença. |