Título original: The kindness of love
Extraído de: Christian Love, or the Influence of Religion upon Temper
Por John Angell James (1785-1859)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
Há uma prova decisiva e uma demonstração marcante da excelência da religião cristã, no fato de exibir não somente as excelências mais elevadas e mais rígidas do caráter humano, como também não somente prepara seu possuidor para ser um patriota no grande teatro de seu país, seja numa demonstração heroica de martírio a Deus, aos anjos e aos homens, como também sendo um amigo simpatizante nos círculos sociais e domésticos.
O amor pode expandir sua benevolência às reivindicações de toda a família humana, ou concentrar suas emoções, por um tempo, em um objeto individual de piedade ou afeto.
"O amor é gentil." Gentileza significa uma disposição para agradar; uma preocupação manifestada por nossa conduta para promover o conforto de nossa raça. A piedade se compadece de suas tristezas; a misericórdia alivia suas necessidades e atenua suas aflições, mas a gentileza é uma atenção geral ao seu conforto. É assim descrita e distinguida por um célebre escritor sobre sinônimos ingleses - "Os termos afetuosos e afeiçoados caracterizam sentimentos." Gentil, é um termo aplicado a ações externas, bem como a sentimentos internos; a disposição é carinhosa ou afetiva; o comportamento é gentil.
Uma pessoa afetuosa é aquela que tem o objeto de sua consideração fortemente em sua mente, que participa de seus prazeres, suas dores, e se agrada da sua companhia.
Uma pessoa gentil é aquela que expressa um terno sentimento, ou faz qualquer serviço de maneira agradável. Os parentes deveriam ser afetuosos mutuamente; deveríamos ser gentis com todos os que precisam de nossa gentileza. Logo, ela parece ser um comportamento afetuoso, e isto é o que o apóstolo quer dizer quando nos adverte a "ser gentilmente afeiçoados uns aos outros".
Vamos ver o HOMEM GENTIL em contraste com alguns outros caracteres.
Um homem gentil é o oposto da pessoa rígida, severa e crítica, que não terá consideração com as fraquezas ou inexperiência dos outros, mas que os julgará, repreenderá e falará severamente de todos os que não chegam ao seu padrão. A gentileza, pelo contrário, faz todas as concessões razoáveis; enquadra as melhores desculpas que pode, de acordo com a verdade e a santidade, fala do ofensor de uma forma de mitigada, e tem para com ele uma forma de compaixão - não publica, nem exagerando suas falhas - e procura descobrir algumas qualidades redentoras para compensar suas falhas.
Um homem gentil é o oposto de um orgulhoso e arrogante. Este último está sempre procurando uma oportunidade para mostrar sua superioridade, e fazer você sentir sua inferioridade; e não importa o quanto seus sentimentos sejam prejudicados por esta exibição ofensiva. A gentileza, se consciente, como às vezes deve ser, de sua superioridade, toma cuidado para que aqueles que estão abaixo dela não sintam um sentimento doloroso de sua inferioridade. Sem sacrificar sua dignidade, ela oculta tanto quanto possível a sua preeminência, ou a usa com grande afabilidade de modo que não se torne desagradável.
A gentileza se opõe à frieza e ao egoísmo da disposição. Há pessoas que, embora não sejam cruéis, nem prejudiciais, nem realmente de coração duro, mas são tão frias, distantes, e tão repulsivas que não podem ser abordadas nem movidas. Elas olham para as situações à sua volta, com olhar fixo e frio, pois não têm interesse nas preocupações do mundo. Mas, a gentileza é a expressão visível de um sentimento e um coração misericordioso; é a exteriorização de uma mente terna e suscetível, que se identifica com toda humanidade; é todo ouvidos para ouvir, todo coração para sentir, todo olho para examinar e chorar, todas as mãos e todos os pés para aliviar, recepciona o sofredor com palavras amáveis, e não o envia vazio.
A gentileza se opõe a uma liberalidade vã e ostensiva. "Quando você dá um presente a alguém em necessidade, não faz alarde sobre isso como os hipócritas fazem- tocando trombetas nas sinagogas e ruas para chamar a atenção dos seus atos de caridade! “Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa. Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita; para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.” (Mateus 6: 2-4).
Alguns serão caridosos se tiverem espectadores de suas boas obras, que irão proclamar sua caridade. Eles estragarão a ação pelo seu modo de realizá-la, pois da maneira mais indelicada farão com que o objeto de sua recompensa sinta um doloroso senso de obrigação; eles indicarão a quantidade exata, quase em valor monetário, dos favores que eles têm conferido, e depois de ir embora, dão tal publicidade às suas ações, que o beneficiário está quase certo de ouvir em toda parte o que foi feito por ele.
A gentileza, por outro lado, oculta tanto quanto possível, a quem está realmente conferindo um favor, fazendo tudo para que desça levemente sobre o espírito do destinatário; e se as circunstâncias permitissem, de bom grado estenderia a oferta por detrás de um véu que esconde o doador, bem como faz tudo para impedir que o sentimento de obrigação seja doloroso ou opressivo.
A gentileza se opõe à benevolência da parcialidade, ao preconceito e ao capricho. Não há poucos que são pródigos em seu afetos com as pessoas de sua própria família e amigos, ou para aqueles que são seus favoritos em certas ocasiões. Mas, para qualquer pessoa fora do seu círculo de familiares e seus amigos seletos, eles não têm qualquer afeto em relação a eles. Seus sentimentos benevolentes são puramente sectários ou absolutamente caprichosos. Mas, a verdadeira gentileza é uma fonte perene e clara, que surge de um coração repleto de filantropia universal, mantendo-se no caminho desimpedido por preconceitos ou parcialidades, e distribuindo seus benefícios para todos os que se encontrarem em seu curso.
Tendo assim contrastado a gentileza com algumas características que a ela se opõem, consideremos agora a maneira pela qual ela age.
A gentileza se expressa em PALAVRAS que são calculadas para agradar. E não apenas nossas palavras, mas os tons de nossa voz são indicativos de nossos pensamentos e sentimentos; é importante para nós ter cuidado quanto ao que dizemos e como dizemos. Metade das brigas que perturbam a paz da sociedade nascem de palavras indelicadas. Deveríamos evitar a todo custo usar um modo de falar amargo, mórbido e repreensivo, e adotar um estilo calmo, conciliatório e afetivo. Um tom grosseiro é expressado para ferir ou ofender, mas o amor que carrega a lei da gentileza em seus lábios, consequentemente o evitará.
Um discurso ríspido, petulante, repreensivo, é no mais alto grau repulsivo e dissonante na comunhão da sociedade. É verdade que podemos não ter a música do som em nosso discurso, mas é nossa própria culpa se não temos a música do amor. Não precisamos usar, lisonja aduladora, elogio vazio e sem sentido, mas podemos ser corteses e afetuosos, bem como devemos "deixar que o nosso discurso seja temperado com sal, para que possa ministrar graça aos ouvintes". Cada palavra e cada modulação da voz que é susceptível de ofender devem ser cuidadosamente evitados, e o será pela gentileza que se estende também a AÇÕES.
A gentileza está interessada em não ofender por qualquer coisa que faça; é delicadamente suave em referência aos sentimentos de seu objeto, e não esmaga desnecessariamente a asa de um inseto, e muito menos inflige uma ferida em uma mente racional. Há pessoas que num espírito de independência egoísta, não se importam com quem lhes agrada ou lhes ofenda, mas o amor está tão ansioso por não ofender, quanto é solícito em relação à sua própria gratificação.
O conforto do seu próximo lhe é tão caro quanto o seu próprio. Calcula, delibera, pesa a tendência das ações, e quando por motivo de imprudência, e involuntariamente ocasionar aflição a outros, se apressará por todos os meios praticáveis para curar a ferida.
A gentileza não só se abstém da ofensa real, mas é ativa na concessão de benefícios - procura uma oportunidade para agradar - está sempre pronta para pagar sua assistência quando solicitada - e não fica satisfeita a menos que possa fazer algo para aumentar o grau geral de conforto. A gentileza se acomoda aos hábitos, parcialidades ou preconceitos dos homens. A gentileza adapta-se nas coisas indiferentes e legalistas, aos seus modos de agir, e não se opõe aos seus desejos, quando tal resistência lhes causaria angústia.
Um comportamento rígido e inconciliável, que não consulta nada além de seus próprios desejos, e não sacrifica o menor pontinho de seus próprios hábitos para dar prazer, não tem uma partícula de beneficência sobre ele. Tal indivíduo é como uma pessoa na multidão, que vai andar com os braços estendidos, ou com armas provocativas na mão.
A gentileza se estende naturalmente às pequenas coisas, bem como às grandes. A felicidade ou a miséria da vida não consistem tanto no "transporte da alegria", nem na "angústia da aflição", como nos sentimentos de inferioridade, que embora menos violentos, são mais frequentes do que essas fortes emoções. Portanto está em nosso poder tornar os outros, miseráveis na vida; talvez não por atos de crueldade ou injustiça que não ousamos ou não podemos cometer, mas por entregar-nos a disposições desordenadas para com eles, por vexá-los com atos de maldade que não explodirão nossa reputação, nem colocarão em perigo nossa propriedade, liberdade, ou vida.
E também está em nosso poder fazê-los felizes, não tanto pelos serviços de caráter material, quanto pelos ofícios inferiores de pequenas benevolências. A reciprocidade diária e quase horária de pequenos atos de boa ou má vontade, que temos a oportunidade de realizar é uma ótima maneira de fazer o bem ou o mal ao nosso próximo.
Há aqueles que nas maiores expressões da misericórdia cristã, são realmente humanos, cuja benevolência, ao mesmo tempo não aprendeu a inclinar-se para pequenas coisas. Eles são compassivos, mas não têm gentileza; eles aliviariam um mendigo faminto, mas não se colocariam em um grau tão baixo, para se acomodarem em assuntos triviais em relação a um vizinho próximo.
A gentileza é universal em seus objetos. Conhecemos indivíduos que nunca poderiam fazer o suficiente para alguns objetos de sua consideração, mas eles não são de modo algum pessoas de gentileza difusiva. E talvez, se examinarmos, veremos que sua benevolência tem uma grande mistura de egoísmo, pois ela é exercida apenas para aqueles de quem esperam um retorno amplo. É a gentileza da troca; não do amor. É tanto o que eles dão para o próprio interesse, como aquilo que é dado aos necessitados. Eles tiveram, ou esperam ter retorno por tudo o que fazem. Mas o amor é universal em seu aspecto; está sempre pronto para fazer um ofício gentil para qualquer pessoa que solicite ou precise de sua assistência. Sua linguagem é: "Ai, todo aquele que tem sede, venha às águas". Tem um olhar, palavra, e ato gentis para todos. Nem negaram o auxílio de seus esforços aos seus inimigos.
Tal é o espírito generoso da religião cristã, como se depreende das passagens citadas em um capítulo precedente a I Coríntios 13. Tal é a refinada moralidade sublime do Novo Testamento.
Sim, estes são os princípios sobre os quais a gentileza age, pois estende sua beneficência ao homem que a tratou com ridicularização e desprezo, com crueldade, insulto e opressão. Este é o seu dever e a sua inclinação.
Em imitação do Salvador moribundo, que deu sua última oração aos assassinos, diz "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!"
Conhecemos muitos que suportarão qualquer dificuldade, farão qualquer esforço, suportarão qualquer sacrifício pela sua família e amigos, para os quais nunca poderão fazer o suficiente; mas para os seus inimigos, eles são indelicados, implacáveis e ressentidos. Eles nunca podem perdoar o homem que os feriu, porque não têm gentileza, mas o manterão em desprezo, aversão e negligência. Mas, o cristianismo exige uma virtude mais elevada e mais altruísta do que isso, pois nos ordena sermos gentis com os nossos inimigos.
Que pessoa fascinante é o homem de distinta gentileza! Ele é revestido de uma beleza indescritível; ele pode não ter a glória com que o patriota, o herói, ou o mártir é consagrado, mas é adornado em um grau elevado com as belezas da santidade. Ele carrega consigo a majestade da gentileza, se não o domínio da grandeza. A luz de seu semblante é o sol quente, sob o qual o entristecido e aflito espanta sua escuridão, ao se banhar sob os raios de luz deste sol.
Suas palavras gentis são como melodia suave para afugentar os maus pensamentos do seio da melancolia, e silenciar com paz os reflexos perturbados da mente destemperada. Ao percorrer sua carreira distribuindo as expressões graciosas e eficientes de seus cumprimentos, abençoando aqueles que estavam prontos para perecer, e motivou as notas tristes do coração da viúva, que eles transformaram em alegria.
Quando ele entra inesperadamente na companhia de seus amigos, cada rosto aparece como um deleite, e parece que uma pessoa benéfica havia vindo entre eles para abençoá-los; assim, quando ele olha ao redor do círculo com o sorriso de gentileza que tem encontrado um lugar permanente em sua fronte, ele apresenta a mais brilhante semelhança que pode ser encontrada em nosso mundo egoísta, da entrada do Salvador entre seus discípulos, quando disse: “Que a paz esteja com vocês!" E soprou sobre eles o Espírito Santo.
Embora ele não busque nem deseje algo em troca de seus muitos atos de benevolência, seu espírito gentil recebe de volta, em plena maré, as correntes de consolação que haviam diminuído de seu próprio coração para preencher os canais vazios da felicidade do próximo. Quem pode ser indelicado com aquele que é gentil com todos? Qual coração é tão duro, que mente é tão cruel, que espírito é tão diabólico para ferir a quem nunca aparece entre sua raça, senão como um anjo ministrante? Há um encanto em suas lágrimas para derreter com simpatia a alma teimosa da crueldade em si mesma, que não tem uma lágrima para ninguém mais. Não há menos encanto em seus sorrisos, para relaxar e suavizar os traços duros da inveja, como para refletir por um momento o sol de sua alegria.
Enquanto ele vive, cada homem é seu admirador, e quando ele morre, cada homem é seu pranteador. Enquanto ele está na terra, seu nome tem um lar em cada coração; e quando se foi, ele tem um monumento em cada memória. Esta é a descrição de seu caráter, o registro de seu louvor - o amor é gentil!
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