Porque se inventou o exílio
o homem já não é mais grão,
nem espiga, nem milho,
apenas aparição em Gogh,
a sentença da loucura,
pintura de corvos nobres,
pinceladas apressadas,
cruas, no campo, sobre...
Porque se inventou o silêncio
o homem já não mais fala,
que por ele mente o televisor,
ele a si mesmo cala,
indócil e sem se saber por
em situação de acentuada decisão,
circunscrito está à sala vazia da solidão...
Porque se criou um Deus em pedra-sabão
o homem já não esculpe o espírito do sol,
fez do indígena dentro de si o nauta sem rumo,
e miúdo e temeroso tão que procura na ciência o vão
por onde se vê o Paraíso, mente sem um único nó,
abrupta poesia que abre fendas na loucura e na razão...
Porque se criou o espelho
o homem nem repara no outro em constante espera,
que a mão que se estende é parte da rede do flagelo
que a raça tanto temeu e que chegou a este tempo,
que nos envolve, a todos, do baixo pé ao alto cabelo...
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