ADEUS MNEMOSINE! SALVE AS NOVE MUSAS!
Dizer adeus a algo ao que se dedicou com amor e devoção
É difícil e doloroso
A perda, a mudança, o não mais pertencer...
Não viria sem lágrimas, luto, dor e o necessário sepultamento
Depois mais choro, até que se sequem as lágrimas
O obrigatório consolo, o desapego, o reerguer-se e depois a saudade...
Mas, assim quis o destino
O término de tudo isso
E a exaustão da última humilhação e do sem fim de decepções
Tudo por Mnemosine
Para poder apenas servir a Mnemosine
Mas, não pude mais minha amada deusa Mnemosi
Cansada, vencida, excluída e recrutada para outras lutas
Que qualquer outro poderia fazer
Se houvesse respeito e o mesmo reconhecimento
Que por ti me dei em sacerdócio
Mnemosine
Quando, por um acaso do destino, sorte ou loteria
Eu a conheci, logo me apaixonei e amei Mnemosine
Mas, nunca realmente pareceu deixar-me servir e cumprir
O sacerdócio à Deusa que despertou a magia, o amor dedicado, leal e especial
Pois se assim fosse, jamais nos separaríamos
Amada Deusa Mnemosine
Mesmo assim, eu lutei, insisti e até briguei
Por amor e louvor a Mnemosine
Poucos consideravam o quanto isso era importante para a mulher iniciada nos mistérios da Deusa
Não era apenas um mero trabalho, mas um honra, um sacerdócio
Quantas vezes, morri e renasci por Mnemosine
De tempos em tempos havia a paz
Embora me fosse apenas permitido
Tocar em uma ou outra parte dos seus domínios
Mas, por algumas vezes, Mnemosine
Eu sempre soube que jamais pertenceria a mim
Por não haver a possibilidade de uma Deusa pertencer a nada e a ninguém
Seja humano ou desumano
Apenas em sonhos e falsas juras ambíguas
Desonrosamente descumpridas, em palavra de duvidosa valia
Foi assim, que por caprichos e egos
Eu perdia e recuperava, Mnemosine
E de ti cuidei, protegi e seus mistérios desvendei
Por ti, Mnemosine, quantas vezes clamei
Quanto tempo me dediquei
Quantas decepções enfrentei
E "Sabia", eu "Queria" mas era impedida de "Ousar", tendo então que me "Calar"
Viver por você e para você
Saiba que eu fiz de tudo
Tentei, lutei em até no exíliom a ti me dediquei
Mas, amada Mnemosine, eu consegui a ti me dedicar
E, quando você me foi afastada, negada, retirada, devolvida
Me levando a loucura e ao desespero
E, para a minha própria sanidade,
Quando levada ao limite da tortura
A espada apontada para a garganta
Chorei e morri,
Naquele dia, eu senti que era impossível
Insistir...
E finalmente, a venda negra que vendava meus olhos
E as cordas que amarravam minhas mãos
Foram por ti retiradas
E eu recebi a absolvição e a sua iniciação
Mas, uma deusa não pode ser de ninguém!
Nem seus domínios centralizados
Nem juramentos que se não cumpridos
Despertam a sua fúria...
E quando se chega ao limite
É melhor, para aquele que sofre, ama e perde
Recolher-se e recobrar-se da sofrida e compulsória despedida
E agora, Mnemosine, o que me resta...
É seguir o meu destino, desta vida de términos e novos começos
Incertos e, provavelmente, mais do mesmo
De mal a pior como sempre
Tendo que esquecer o amor e o ardor que nutri por ti
Mas, eu sei minha senhora Mnemosine
Que lamentas e entendes
Pois é Deusa da Memória
E sabe quão honrado e dedicado foi a ti meu sacerdócio
Ou quem sabe, a magia e o milagre finalmente aconteçam
Que assim seja e assim se faça, Mnemosine!
Mnemosine, amada
Gratidão pelo nosso tempo
Mesmo não tendo sido do nosso jeito
Aquilo que eu e você pretendemos
E, se podes algo, e sei que podes, Deusa imortal
Deusa da Memória, mãe das nove musas
Olhe por mim, adorada Mãe Mnemosine
Nesse caminho desconhecido que trilharei
Sem a alegria dos nossos dias
Possam a senhora e as suas nove filhas me abençoarem
E me concederem a felicidade, a prosperidade, o sucesso
O respeito, a paz e o reconhecimento
Mnemosine, Deusa Mãe das Nove Musas
Sou merecedora de seus dons e o de suas filhas
Me faça, agora, sacerdotisa iniciada perfeita e escolhida
Para fazer pela Cultura e pela Arte o que deve ser feito
Mnemosine, para sempre, em minha memória
Grande Deusa, Grande Mãe Mnemosine
Que jamais esquece quem tão bem lhe serviu e lhe ama
Seu ofício e memória
Guardadas no fundo do meu coração
Tudo passa, Cronos o senhor do tempo a todos devoram
Menos a Memória e a História
Dádivas sagradas de Mnemosine
Ora por mim deusa Mnemosine
Para que nossa repentina e dolorosa separação
Me compense, de alguma maneira
Por uma questão de mérito e de sua benevolente justiça divina
Da certeza de sempre ter plantado bons frutos em sua honra
De quem a amou e serviu com dedicação e louvor
Sacerdotisa de Mnemosine
Talvez Mnemosine, esse sofrimento que experimento
Indique uma luz no fim do túnel:
A hora da boa, respeitada e justa colheita
Seus presentes, seus dons e sua glória!
Que me tornam feito Deusa, feito as nove Musas
Guardiã mistérica de seus poderes e dons
Fênix de fogo, inspiração e Artes.
Com amor devocional e eterno,
Simoni Dimilatrov
Santos, 27 de novembro de 2016
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A deusa Mnemósine, personificação da "Memória" , irmã de Cronos e Oceanos, é a mãe das Musas. Ela é omnisciente: segundo Hesíodo (Teogonia, 32, 38), ela sabe " tudo aquilo que foi, tudo aquilo que é, tudo aquilo que será." Quando possuído pelas Musas, o poeta inspira-se directamente na ciência de Mnemósine, isto é, no seu conhecimento das "origens", dos "primórdios", das genealogias. " "Com efeito, as Musas cantam - ex arkes - (Teogonia, 45, 115) - o aparecimento do mundo, a génese dos deuses, o nascimento da humanidade. O passado assim desvendado é mais que o antecedente do presente: é a sua fonte. Recuando até ele, a rememoração procura, não situar os acontecimentos num quadro temporal, mas atingir o fundo do ser, descobrir o original, a realidade primordial de onde proveio e que permite compreender o devir no seu conjunto."
(Mircea Eliade)
Mnemosine - A memória personificada, filha de Urano (o Céu) e de Gaia (a Terra), é uma das seis Titanides. Durante nove noites seguidas Zeus a possuiu na Pieria e dessa união nasceram as nove Musas.
Titanides - Seis filhas de Urano (o Céu) e de Gaia (a Terra), chamadas Febe, Mnemosine, Rea, Téia ou Tia, Têmis e Tetis.
Musas - As nove filhas de Mnemosine (a Memória) e Zeus. Além de inspirar os poetas e os literatos em geral, os músicos e os dançarinos e mais tarde os astrônomos e os filósofos, elas também cantavam e dançavam nas festas dos Deuses olímpicos, conduzidas pelo próprio Apolo. Na época romana elas ganharam atribuições específicas: Calíope era a musa da poesia épica, Clio da História, Euterpe da música das flautas, Erato da poesia lírica, Terpsícore da dança, Melpomene da tragédia, Talia da comédia, Polímnia dos hinos sagrados e Urânia da astronomia.
Kury, Mário da Gama. (1990). Dicionário de Mitologia Grega e Romana. Jorge Zahar Editor Ltda. Rio de Janeiro, RJ. pp. 405.
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