Mais Estranho Que A Ficção
A Juliana, Ricardo Reis e José Saramago
“Ninguém suspeita da Inquisição Espanhola” Michael Palin
“SRA. MARTIN – Que curioso! É bem possível, meu caro senhor.” Eugéne Ionesco
I
Essa é a história do meu relógio de pulso,
Sou personagem de um romance sem enredo,
Já tentei fugir da trama, me quis expulso
Do elenco, mas fui vencido por meus medos!
Onde está você? Não fuja assim, caro Crick!
O tempo é matemático, mas a vida é
Literatura, só existe, - e sem chiliques!
Só existe para acabar num livro qualquer!
Mas qual é o gênero de minha história?
Caro professor Hilbert, que tipo eu sou?
Essa voz que fala, atordoa-me a memória!
De vez em quando ouço “O Sonho acabou!”
Passarei como um coadjuvante sem glória?
E tudo o que fiz, nada foi o que se sonhou?
II
Se eu tivesse sido qual um grande herói...
Aquiles imortal com duro calcanhar!
Ulisses amigo de Poseidon mulói!
Ou Vasco descobridor do Brasil ao mar!
Se eu tivesse sido personagem romântico...
Um Álvares de Azevedo de meia idade!
Lord Byron atravessando feliz o Atlântico!
Fausto fazendo pactos com mil divindades!
Serei acaso, talvez, quem sabe, um vilão?
Ou um Brás Cubas audaz? Um Fabiano letrado!?
Um Sal Paradise abstêmio, um Corção pagão?!
Tem horas que sinto, cara Karen, o fado!
Ter meu nome na Torre Eiffel por razão
De meus poemas em vida realizado!
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