Dificilmente uma pessoa comum percebe que estar agindo de modo condicionado. Condicionamento é uma característica comum a todo ser vivente. O biótipo de cada ser, nossos valores culturais, nossa fé, nosso habitat e outros fatores internos contribuem para nosso condicionamento.
Raramente as pessoas ao perceber que estão agindo de modo condicionado têm autonomia para se libertar do condicionamento. Um peso esmagador, como a de várias toneladas vem sobre ti no dia em quem percebes que você é um mero repetidor de padrões de comportamentos sociais pré-estabelecidos e tidos como verdade absoluta no ambiente em que você vive ou foi inserido. Então você percebe que não é o seu corpo que estar preso, mas sua mente, sua consciência, a essência do seu ser, aquilo que tu realmente és ou poderia ser. Percebes que a maior prisão é a dos sentidos. Percebes que essa prisão não precisa de guardas ou vigias, pois todos eles foram adormecidos pelo sistema. Seus vigias internos.
Sistemas políticos, religiosos, financeiros, militares e educacionais são os principais opressores que nós mesmos ajudamos a construir. Medo, culpa, obediência, recompensa e punições são as ferramentas usadas por esses sistemas. Elas são inseridas em nós, ou somos incentivados a usá-las contra nós mesmo e contra outros sem que percebamos.
Certo ou errado. Bom ou ruim. Grande ou pequeno. Amargo ou doce. Feio ou bonito. Sagrado ou profano. Santo ou pecador. Amando ou odiando. Amigo ou inimigo...Com essas dualidades fomos ensinados a ver a vida, recebendo tudo sem questionar sobre o que aceitamos, e recusando tudo sem questionar sobre o que rejeitamos. Costumamos acreditar que todos que não concordam conosco são ou estão contra nós e por isso devem ser perseguidos ou eliminados, quando na verdade estes poderiam servir como ponte para alcançarmos outro estagio de nosso ser e nos libertamos de padrões anteriores.
Usamos sempre adjetivos para definir um ser e quando definimos esse ser, excluímos todas as outras as qualidades que aquele ser poderia ter. Quando dizemos que um sujeito é católico, judeu, protestante, petista, açougueiro, burocrata ou seja lá o que for, estamos excluindo do nosso ponto de vista todas as outras coisas que aquele ser poderia ser ou fazer no ambiente em que ele estar inserido.
Fomos acostumados a ver apenas a situação, esquecendo que toda situação é uma reação de uma ação feita anteriormente. Julgamos o que finalizou um ato considerado criminoso, mas esquecemos que para que esse mesmo ato fosse finalizado, várias outras pessoas ou situações foram favoráveis para que esse ato fosse concluído.
Fomos ensinados a ver tudo por compartimentos e não como um todo. Isolamos, excluímos, odiamos, aborrecemos, desprezamos, recebemos ou entregamos. A ciência, política e religião terão sempre respostas diferentes para o mesmo ponto de vista. Estaremos em uma dessas. Cada um escolhe a sua e a torna real em si. Ao escolhermos nossas “verdades” desprezamos e demonizamos a dos outros, para recorrê-las a estas somente quando for no intuito de nos unirmos para derrubar um inimigo maior, e então voltar a desunirmos outra vez.
O que faz tudo isso funcionar, operar secretamente sem que percebamos estar bem dentro de nós...Sentimentos e emoções é quem faz o mundo físico e as pessoas ser quem são.
Sentimentos e emoções desprovidos de pensamentos crítico fazem com que sejamos apenas corpos ambulantes, desprovidos de alma, esperando apenas o toque de despertar ou de recolher dos nossos lideres religiosos, políticos ou econômicos. Seremos nesses casos, como a carne no açougue: uns podem ir parar em um bom e fino churrasco de uma mesa chique, e outros podem virar apenas comida de cachorro, mas no final, ambos serão como merda depois de serem digeridos pelo sistema.
Sentimentos e emoções apenas como reação instantânea faz com sejamos como o mais duro dos metais, que pode ser moldado pelo escultor, apenas usando frio e calor.
Sentimentos e emoções acompanhados de pensamentos críticos ou reflexivos faz com que nos assemelhemos aos deuses que hora construímos. Então não devemos sentir nem deixar fluir nossas emoções? Não é bem assim também. É necessário acima de tudo estarmos conscientes de nossas emoções. Somente assim iniciamos a fase de sairmos do condicionamento comum a todos.
Sentimos raiva quando estamos presos no transito. Então percebemos que o automóvel em que estamos inserido também contribui para que o transito fique tenso. Sentimos raiva quando estamos numa fila para sermos atendidos. Então percebemos que nossa presença faz crescer aquela fila e que todos tem o mesmo direito de ser atendidos. Ficamos tristes quando sabemos que a empresa em que trabalhamos está prestes a falir, ou que nossa vaga de emprego será substituída por alguém mais competente. Então percebemos que nossas faltas intencionais no trabalho, nosso descuido em auto-melhoramento profissional e nosso mau atendimento com a clientela contribuiu para a falência daquela empresa ou substituição de nossa vaga.
Sentir-perceber-reagir-reorganizar. Assim construímos a base sermos indivíduos e deixarmos de ser como boiada. Se não pararmos para pensar no que estamos fazendo, só no final perceberemos que a vida nos escorreu pelas mãos, que passamos vida vivendo como que em um curral, apenas sendo engordado por nossos “senhores”, “ pastores” ,governantes e outros lideres, sendo criados para produzir “lã”, “couro” e “carne” para esses “fazendeiros”. Pior que o opressor também é um mero oprimido que tem a falsa ilusão de estar liderando.
O que acontece quando um membro de uma igreja começa a questionar os padrões de comportamento do seu grupo, quando descaradamente esse vai de encontro ao que diz sua própria fé? Chamam ele de rebelde, diz que o diabo estar do lado dele, e que Deus vai castigá-lo, e no dia que este estiver tendo um dia ruim como qualquer pessoa “prove” a igreja que é a mão de Deus agindo contra esse rebelde. Pronto! Isso basta para fazer centenas se calarem e não questionar mais nada. Apenas obedecer e ter fé! Essa é a lei áurea de toda igreja comum.
O que acontece quando um membro de um partido político questiona os princípios éticos e morais dos próprios membros perante a sociedade, ou quando questiona a intenção do próprio partido em relação aos atos recém praticados por seus membro? Chame ele de esquerdista, fascista, nazista, autoritário, que ele é contra o progresso, ou publique mentiras a cerca deste e pronto! Fará com que todo o restante fique “pianinho” e apenas siga. Em muitos casos dão um “sumiço” nesse individuo e assim evita a possibilidade dele criar um grupo mais forte para fazer a coisa direito.
Nessas duas ações o individuo age no coletivo, enquanto o coletivo influi o individuo. Como um círculo vicioso todo mundo policiando todo mundo para manter a “salvação” do grupo.
Quando olhamos na historia, percebemos que graças aos que tiveram coragem de “pensar” fora da caixinha, conseguimos algumas conquistas e progresso coletivo.
Conhece-te a ti mesmo! Já dizia um certo sábio. Assim poderemos alcançar um estado maior do nosso ser.
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