O que você diria se de repente encontrasse na rua uma pessoa aflita, preocupada, depressiva e sem forças pra viver, simplesmente por que em sua cabeça criou uma divida qual não existe e não tem obrigação de pagar? Chamaria essa pessoa de louco certamente. Você conversaria com essa pessoa, e depois de várias explicações, a pessoa diria que nunca comprou nada fiado, nem a prazo, nem em cartão, cheque, financiamento, hipoteca, crediário ou coisa parecida. Não deve absolutamente nada! O pouco que ela precisa pra sobreviver, compra e paga tudo a vista, inclusive tem reserva financeira em bancos um pouco patrimônio acumulado, o suficiente pra uma década de invalidez se necessário, e mesmo assim essa pessoa insiste em dizer que tem medo de ser presa a qualquer instante por ser um mal pagador, caloteiro e desonesto. Você certamente chegaria a conclusão que essa pessoa precisa de acompanhamento médico, e que esse senso de divida foi embutido em sua cabeça vem lhe roubando sua paz diária.
Pois bem...nosso modelo de cristianismo faz isso todo dia e nem nos damos conta.
Existe uma geração de loucos e desequilibrados que ajudamos a formar, pessoas que julgam ser a autocomiseração, a autopunição, o auto flagelo, e auto culpa sinônimos de espiritualidade e santidade. Dizem coisas estúpidas e absurdas sobre si próprias, como se isso fosse algo bonito de se dizer, ou aproximasse o criador de si mesmas.
Veja essa cena que se repete diariamente nos círculos de fé crista e que se reflete no cotidiano das pessoas: o sujeito estar na dele, emocionalmente equilibrado, vive em paz consigo e com todos, tem controle sobre si próprio e qualquer tipo de vício, tem boa desenvoltura verbal e apesar de ser bem comunicativo sabe onde o seu limite termina e o do outro começa, não se rende a culto de ídolos ou a outros tipos de culto de pouco sentido, respeita a vida em todas as suas formas, busca paz entre todos mesmo não estando ligando a nenhum tipo de denominação religiosa e por isso também vive em paz. De repente, esse cidadão é convencido a ir a uma igreja e “aceitar Jesus”. Na igreja, o convencem que mesmo ele tendo um estilo de vida superior a qualquer membro que ali esteja, ainda assim ele é um pecador, miserável, imprestável e que se Jesus vier ele vai pra o inferno e que por isso precisa aceitar Jesus naquela igreja. Ok então. Baseado no medo, na pressão do povo, e pra não ser indelicado, o sujeito levanta a mão e “ aceita a Jesus”. Toda igreja ora, diz que todos os seus pecados foram lançados no mar do esquecimento, que a partir dali ele é nova criatura, e que todo pecado Jesus já levou sobre si quando morreu na cruz e tal e tal.
A partir daquele momento, o sujeito passa a freqüentar aquele ambiente, e nas orações coletivas e individuais, nos modelos de pregações a nas relações diárias de um para com os outros, ele percebe que os membros daquele grupo religioso usa sempre expressões como: “sou pó e cinza”, “sou um miserável pecador”, “sou um lixo”, “se não fosse a tua graça”, “sou o pior dos piores”, “não sou digno de nada mas tua graça me basta”, “sou insignificante, mas seu espírito me enche”...São dezenas de frases como essas, que vários “igrejeiros” usam diariamente em suas orações e em suas pregações para declarar humildade.
Aquele sujeito que antes era livre, tinha paz de espírito, e vivia feliz, agora se sente culpado, um lixo, um farrapo, com um medo enorme do inferno e vê somente em Jesus (não seria na igreja?) o único meio de se salvar. Como um adolescente que foi enganado por um traficante a usar apenas o primeiro trago com o intuito de causar vício, aquele sujeito também foi incentivado a viver aquele estilo de vida, e repetir constantemente aquelas palavras, coisa que lhe fará ficar em um circulo vicioso do pequei/perdão, pequei/perdão, pequei/perdão.....Eternamente assim! Foi-se a paz interna, foi-se a harmonia, foi-se a vontade de viver. Resta agora implorar para ser salvo e poupado no grande dia do juízo, apesar de o sujeito ainda manter um estilo de vida exemplar mediante toda sociedade.
Alguém se indentifica com esse tipo citação? Conhece alguém que “aceito a Jesus” e passou de um ser pacífico a um pertubado mental? Conhece alguém que foi convencido que Deus é o ser mais irado e impiedoso do universo, que estar apenas esperando que erremos pra ele nos punir? Quase todo mundo já viu ou já fez isso.
Quase metade do globo atualmente se declara de fé cristã. Entre o cristianismo católico, protestante, grego e outros modelos de menor número de seguidores, na grande maioria permanece nos últimos 1600 anos a idéia errada que devemos convencer a Deus que somos miseráveis para que ele nos alcance. Palavras vãs, discursos tolos, vida mal vivida, gente deprimida e deprimente serão o resultado desse modelo de cristianismo. Viver bem e de modo equilibrado é crime! Ser louco é tudo.
O cristianismo prático, como estilo de vida baseado na pratica da partilha dos recursos, da tolerância, da misericórdia, do perdão, da busca pela justiça, do amor e paz entre todos, é o que deveria ser ensinado, mas infelizmente esse modelo de cristianismo gera pessoas livres da opressão do clero, enquanto o modelo que cultua a culpa, será uma fonte de renda inesgotável para pastores e lideres religiosos de qualquer tino, pois faz com que o ser livre se julgue culpado, que ele próprio se ponha na prisão, e que ainda pague ao carcereiro o preço da estadia naquela prisão eterna. Ele será um prisioneiro voluntário, mas fará a propaganda de ser servos livros, libertos pela fé, cidadão dos céus e filho do rei. Alguns são mais objetivos e patéticos que se autodenominam escravos de cristo, como se Cristo viesse fazer escravos. Mera herança dos césares.
Como um papagaio de pirata, cada cristão que aceita a Jesus, de modo involuntário tem de aceitar, todo conceito pré-concebido pelo líder local do grupo como sendo verdade absoluta. Se há um crime hediondo que se possa cometer contra outrem, é o crime de roubar sua personalidade, travar seus pensamentos, proibir o seu raciocínio e fazer com que a pessoa aceite a imposição do líder como suprema e de quebra ainda convidar o povo a ser libertos por Cristo.
Os grandes mestres e sábios da humanidade não agiam assim. O que eles mais recomendavam era pra pessoas pensarem em suas ações, pois elas, é quem levaria a um estado melhor ou pior do ser. “Os líderes mais imbecis de hoje dizem: “receba”, “aceite”, “ é pão quentinho dos céus”, “quando você chegou aqui essa igreja já existia”, “não podemos mudar o que já estar em andamento e com costumes e doutrinas não se meche”, essa é a vontade de Deus”, blá, blá, blá.
Sou a favor da liberdade de expressão religiosa. Acredito que as pessoas têm o direito de cultuar a quem quiser e como quiser. Mas sou contra os que vendem gato por lebre, que convidam as pessoas a “aceitarem Jesus”, mas que no outro dia já começa forçar as pessoas a seguirem uma lista sem fim e sem fins de podes e não podes da própria igreja, como se isso fosse seguir a Jesus e seus ensinamentos. Isso não é Jesus, isso não é igreja, isso não é cristianismo. Isso é fraude! Os maiores fraudadores conscientes ou inconscientes vestem roupas de santidade e ensinam o que nunca aprenderam. Pelo achismo, comodismo e falso moralismo vendem um Cristo adulterado.
Essas frases e jargões que de falsa humildade muito utilizadas por ordens católicas em mais de um milênio, deixo sua marca registrada em todos os grupos que dela saíram. Nosso modelo de cristo e cristianismo ocidental vem de tais ordens. Beneditinos, Franciscanos, Jesuítas, Carmelitas, etc. Foi nos conventos, nos concílios, nos mosteiros e nos locais mais isolados que nosso modelo de santidade foi construído.
Enquanto Cristo, segundo o que se diz ao seu respeito convivia e se comunicava com todos em todos os níveis, os que construíram nosso modelo de santidade se isolavam, faziam votos de silencio, de castidade, de pobreza, e de desapego a vida coletiva. Como podemos inserir numa sociedade turbolenta, agitada e dinâmica um modelo de santidade que foi construída por pessoas que resolveram se isolar de tudo e de todos? Este modelo de santidade só funciona com eles! Gente que se reprime sexualmente, que considera a vida e a própria existência como um pecado e as relações pessoais como uma blasfêmia ao próprio Deus. È nesse modelo de santidade que a igreja evangélica foi batizada. É na vida monástica que ela se inspira, não nos ensinamentos de Cristo. Seria o mesmo que construir o um navio transatlântico, não colocar asas ou propulsores nele e desejar que ele voasse. Não funciona! Um modelo santidade criada em mosteiros jamais funcionará bem numa vida comunitária. Só faz com que as pessoas sejam internamente doentias e que se oprimam umas as outras em nome de Cristo.
Para quem considera a OPUS DEI e outras do tipo como excêntricas, exageradas e que destroem a alma humana, melhor que não conheçam igrejas evangélicas onde o cuidar da higiene corporal, beber refrigerante, ir a uma praia, praticar esportes e viver de bem com a vida se constitui um crime mortal, um pecado gravíssimo. Os crentes desse modelo de igreja não são ensinados a viver a própria vida, mas a vigiar a vida de outros membros e delatar aos seus líderes para conseguir mais créditos com estes. São ensinados a ver o que há de pior na vida e no mundo e fazer propaganda do diabo, ao invés de procurar a bondade e a beleza nos próprios seres que eles dizem ser criados por Deus.
Todo aquele que consegue domínio próprio e sobre os vícios sejam em que ordem for, sobre o consumo compulsivo, sobre a ira, a inveja, a preguiça e a raiva, certamente alcançará uma paz interior e exterior independente do lugar de onde esteja. Não é por estar aqui ou ali que a pessoa será isso ou aquilo, mas por entender quem é, como o mundo funciona, e como dominar suas emoções que essa pessoa terá uma vida melhor vivida. Nenhum líder que se preza desejará manter as pessoas em seus currais com medo da solidão ou por falta de lucro. Todos os líderes que respeitam a si próprio e aos outros, entendem que a vida é dinâmica, e aquele que um dia foi seu aluno, poderá mais tarde se tornar seu mestre, trazendo benefícios para si próprio, para o que lhe ensinou e para toda comunidade. É saudável e prazeroso ver que alguém alcançou um estado maior de consciência igual ou alem do nosso. A luz que passamos a outrem nos será devolvida em dobro! Líderes pobres entendem a evolução de pensamento como perca de domínio e lucros. Por isso usam discursos repetidos, falas prontas e frases de efeitos como sendo verdade universal, com o mero intuito de não perder sua fonte de renda. Eles levam as pessoas acreditarem que são cegas, aleijadas, surdas e mudas e que sem eles, jamais as mesmas encontrão a felicidade. Amputam os membros, cortam a língua e apagam o cérebro das pessoas. É o pagamento que eles dão, para quem compra o Cristo que eles vendem.
Um verdadeiro líder, assumirá que toda é questionável, que ele próprio pode estar errado em algo, que alguém entres os liderados pode ter uma visão melhor sobre algum assunto, e que isso não será uma ofensa para ele. Todo bom líder sabe que o conhecimento é cíclico, que dependemos da tecnologia e dos nossos cincos sentidos para entendermos o mundo e suas verdades e quanto mais aprendemos, mais avançamos. Proibir a busca do conhecimento com medo de ficar obsoleto é o mesmo que cometer um aborto, com medo que aquele filho lhe roube o trono. Proibir o conhecimento é estagnar a própria vida. É viver em estado vegetativo. É um veto a evolução.
Um brinde a sanidade! Abaixo a loucura! Um salve a liberdade! Que da escuridão do nosso ser encontremos a luz pela razão! Que a falsa humildade a falsa santidade ensinada nos locais religiosos possam ser substituída por ensinamentos úteis ,práticos e aplicáveis. Uma santidade que só nos embute culpa e medo não é santidade nem humildade. É suicídio.
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