Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Alterego
Tanny Tarquínio

Ele tentou me ler desde o primeiro contato. “Você é esquentadinha, questionadora de tudo e se defende demais”. Eu até quis reivindicar, mas ele estava certo. Minha cara amarrada, meu costume de ter resposta pra tudo e as formas que eu criava pra não cair em armadilhas passionais intimidavam, e ainda assim ele tinha mania de me taxar. “Você finge se apaixonar, que cinismo!; Você é cheia de caprichos e não sossega até realizar!; Você chora por birra quando não consegue o que quer, chora por ego ferido!; Você é fria, não vive o luto dos fins nem por dois dias!”. Tenho que admitir que ele até tem razão na maior parte das acusações. Qualquer relação que exigisse de mim entrega e profundidade, na atual conjuntura, não vingaria. Ser profundo custa caro e acarreta em uma sobrecarga que eu não estava disposta a levar nas costas. Ao longo dos anos e experiências vividas eu havia elaborado uma série de exigências e sintonias que se não fossem totalmente atendidas eu jamais seria profunda. Superficialmente, eu usava e me permitia ser usada quando era conveniente e tudo girava mesmo em torno das minhas vontades. Levava algum tempo pra me relacionar, pois minha impaciência não tolerava ninguém pegando no meu pé, ou indisponível quando eu solicitasse, optava pelo ‘antes só que com gostos mal saciados’. Ele me passava sermão: “O mundo não gira em torno de você e as pessoas não vivem em sua função”. Outra vez ele tinha razão. Mas eu havia levado muito tempo construindo os filtros sentimentais, não poderia desprezá-los assim por qualquer caso. No dia daquela festa, entre um som bastante alto, uma taça de vinho e eu contando o quanto me identificava com os filmes do solitário, incompreendido e auto-questionador, Woody Allen, ele me interrompeu, quase em tom de desabafo: “Você se diz incompreendida pra justificar sua covardia de não se entregar…”. Nem as palavras mais pesadas me intimidariam naquela noite, no auge da minha segurança. A escolha de olhar pra mim apenas, nunca seria entendida por todos, por enquanto eu só estava preparada pra ser ímpar, penosa era a saga de quem tentasse ser meu par. Eu me fiz desafio sem mistério, ele atacava querendo vencer. No fim das contas, ele também vivia em minha função, querendo me modificar. Ele acertou em alguns trechos a leitura, mas esqueceu que por mais que ele me leia - superficial, covarde, egoísta e cheia de vontades - quem me escreve sou eu.


Biografia:
Escrever, pois o que não cabe na gente escorre em palavras.
Número de vezes que este texto foi lido: 64197


Outros títulos do mesmo autor

Contos Não insista em mim Tanny Tarquínio
Contos Vilã! Tanny Tarquínio
Contos Alterego Tanny Tarquínio
Contos Antônimo Tanny Tarquínio
Contos Ainda pensa Tanny Tarquínio
Poesias Montanha russa Tanny Tarquínio
Poesias Porta Tanny Tarquínio
Poesias Desenvolvendo conclusões Tanny Tarquínio
Contos Sem volta e voltando Tanny Tarquínio
Contos - Não, gato! Tanny Tarquínio


Publicações de número 1 até 10 de um total de 10.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
CENA de RUA: livro de imagens - Tânia Du Bois 64268 Visitas
Faça alguém feliz - 64265 Visitas
Menino de rua - Condorcet Aranha 64264 Visitas
Porque ler POSTIGOS - Tânia Du Bois 64261 Visitas
Linda Mulher - valmir viana 64261 Visitas
Oração de São Cipriano para amarrar alguém - Fernanda Pucca 64259 Visitas
O “stress” pode ser uma escolha... - jecer de souza brito 64258 Visitas
Amores! - 64257 Visitas
viramundo vai a frança - 64256 Visitas
O Senhor dos Sonhos - Sérgio Vale 64256 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última