Náuseas, dores e morfina.
Uma avassaladora paixão tomou a minha consciência, e a minha razão perde o seu sentido para a cegueira, e para uma utopia chamada esperança, que por muitas vezes pode ser o começo de um fim que está sempre próximo. O frio incisivo das madrugadas me obriga a buscar a companhia da solidão, da impossibilidade de sobreviver, embriagado pela tristeza e cambaleando de desespero procuro abrigo na escuridão. De agora em diante o mundo cristão me assombra com os seus padrões morais e éticos, com isso me torno um boneco de engonço de Deus, o mesmo que ataca os nãos hebreus, que justifica o sofrimento como um caminho para o paraíso é o mesmo que dita que a minha paixão é pecaminosa, portanto sou um criminoso privado da piedade divina. O amor também é dor, e causa delírios que costumeiramente são chamados de benevolência. A impossibilidade de viver o real é um caminho para a utilização do imaginário, que como a morfina traz alivio, e sorrateiramente cria um mundo imaginário, que conforta e protege. Paixão e amor são fundamentados por mentiras, por impossibilidades e exageros e algumas verdades. Fiz uma autopsia da minha consciência, que delirante me apontava para um universo saudosista, e tardiamente descobri que o tempo é impiedoso e traduz sabiamente os malefícios do envelhecimento, o que me deixa longe da edificação de um mundo feliz, e distante de ser afagado pelo desejo do tão afortunado abraço, da tua boca o sabor do profano, o teu corpo um deleite um convite para a insanidade, tuas madeixas macias e sedosas exalavam um perfume que só existe no Olimpo, e teus sussurros entoavam no meu ouvido um feitiço no qual o meu fardo seria morrer, tal qual como uma habilidosa sereia que fascina e afoga o desavisado marinheiro . Os grandes poetas extasiados de amor tomaram a língua formal para descrever a tamanha estupidez chamada de amor, geralmente com grandes doses etílicas, com risos e lágrimas e um quinhão de insônia, depois de muita labuta os delírios poéticos estão prontos, agora friamente postos sobre o papel para que possam tomar o inconsciente coletivo. Há séculos grandes histórias de amor são contadas, talvez tentando transformá-las em verdades absolutas, quem sabe afagar os mais aflitos, se possível transformar a esperança em uma terapia para os solitários.
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