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Ontem sai da minha casa, mas esqueci de dizer aos meus pais o quanto os amava. Apenas saí como sempre fazia em um dia normal de domingo. Revi alguns amigos, conversamos como sempre acontece, mas também me esqueci de dizer para eles o quanto os amava, e o quanto eles foram importantes para mim em cada momento da minha vida.
Brinquei com a minha filha, dei risadas, aprendi e ensinei coisas novas para ela, fui passear com ela e infelizmente também não disse o quanto ela era importante em minha vida, o quanto eu a amava. Enquanto passeava, passei por alguns lugares, mas não reparei como a natureza é bela, nem notei alguns detalhes que passaram despercebidos por mim.
Ontem, talvez, eu tenha esquecido de ouvir a minha música preferida. Talvez eu tenha esquecido de mandar mensagens para aqueles que são especiais e essenciais para mim, talvez eu não tenha me divertido o bastante e não dei carinho suficiente para minha filha, nem para os meus pais, as minhas irmãs e aos meus amigos, mas é que na verdade...
Eu só queria que ontem fosse um dia normal, mas não. Não foi. É que enquanto eu voltava para a minha casa, na minha moto, com pessoas queridas do meu cotidiano, alguém bateu em direção a minha moto. E essa pessoa só não tomou a minha vida, mas tomou o meu sorriso, tomou tão somente... O meu tudo.
Esse alguém, cujo nome não faço ideia, tomou a felicidade dos meus pais, a alegria dos meus amigos, tirou de perto de mim meu grande amor que é a minha filha, com apenas oito meses de idade. Eu havia feito planos para o futuro dela, a bebê que Deus trouxe ao meu mundo para eu cuidar, proteger e amar. Tomou o meu futuro, os sorrisos que faziam bem para todos os quais viviam comigo, levou as minhas lágrimas, as minhas dores; e acredite, eu costumava adorar elas, pois me faziam crescer...
Ele tomou os dias que eu ainda tinha para viver, as conquistas que eu ainda tinha pela frente, o amor que eu iria dar para um ser tão pequeno que nasceu de dentro de mim.
Desculpa pai, desculpa mãe, minha filha, familiares e amigos, mas se eu soubesse que ontem naquela hora na qual estava voltando para casa, aconteceria isso comigo, eu teria amado mais cada um de vocês, teria demostrado mais o quanto vocês são importantes e, se eu pudesse escolher, eu teria mudado a hora e a rota que eu fiz ao voltar pra casa.
Mais que tudo, eu só queria voltar para casa com total segurança, na minha motinha, para os meus pais, para a minha família e para os meus amigos, com a minha filha.
E para pessoa que vinha em direção a mim, eu te peço mais cuidado, atenção, quero te desejar muita saúde e também te desejo amor... Muito amor. Todo amor que eu ainda poderia dar ao próximo eu desejo a ti. Quem sabe assim, enfim exista um talo de flor ao invés de acidentes e descuidados que destroem sonhos.
Terminando, eu quero pedir para a minha mãe e para a minha família que cuide bem de minha menina, meu maior tesouro deixado na terra. Cuide bem dela assim como cuidou de mim. Deus colocou seu manto sobre ela e a protegeu. Ela está bem, vai ficar bem. Deus ama vocês. Faz isso para mim. Eu vou ficar olhando, protegendo e cuidando de vocês daqui de cima e nenhum mal vai chegar até vocês!
Tenham força, Deus irá confortar a todos vocês, eu agora estou nos braços do Senhor, não precisam se preocupar.
Vou sentir saudades, eu amo vocês e até breve.
Meus sentimentos a toda família de Gaby! Descanse em paz, princesa, o Céu ganhou mais uma estrela que vai brilhar por toda nossa vida! Vai dar tudo certo.
Crônica escrita por Mayne Palhares, aluna do 9° ano da Escola Municipal Querubina Silveira, publicada depois do acidente que vitimou Gabriela Santos no último domingo (21-08-2016) em Cerro Corá, RN.
Revisão por Débora Oliveira, Mestra em Estudos da Linguagem, PPgEL̸UFRN.
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