Desde já digo e desdigo
tudo o que foi escrito e dito
pelo que sou e pelo antigo
que em mim morava em passado ido...
Desde já estou em nova nau ou escuna,
confundo-me com garoa ou então bruma,
sei-me passageiro com algumas lacunas:
único, não me confundo com chusmas...
Andei, deveras, por terras estranhas,
levei à bordo d'alma almas tacanhas,
fiz-me inseto em teia de famintas aranhas,
carvalho ou outra madeira, nada me lanha...
Desde já me arvoro dono do meu processo,
não como um Kafka instantâneo e incorreto:
elevo-me à arte de viver sob meus auspícios
mesmo que desfiladeiros, abismos, precipícios...
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