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Pa-la-vras...Pala-vras... Palavras
Blá-blá-blá
Heleno Reis

Pa-la-vras... Pala-vras... Palavras:
O que são palavras diante de tamanha treva e nojo?

Sem voz e sem vez, e à mercê de tanto descalabro político, o povo catatônico jaz preso à inação estupefata própria dos consternados, dos desesperançados e dos exasperados sociais.

Pa-la-vras... Pala-vras... Palavras:
O que são palavras diante da surdez e da cegueira sociais travestidas da decantada pacificidade verde-amarelenta de um povo desagregado, infantilmente submetido à política alienante e engabeladora do pão e circo (panis et circenses), institucionalizada pelas oligarquias cleptocratas e pelas elites financistas egocêntricas?

Pa-la-vras... Pala-vras... Palavras:
Palavras eruditas, rebuscadas e ininteligíveis à grande maioria do povo de cangalha, lançadas das tribunas e das cátedras tais quais perdigotos infectados de presunção e vaidade, ironia e deboche, tão vãs e inócuas que melhor serventia elas teriam se ditas não fossem.

Sem norte, o povo acabrunhado vacila entre o oriente dos seus sonhos sempre roubados ou negados e o ocidente da sua realidade, sofrível para uns, miserável para a maioria.

Pa-la-vras... Pala-vras... Palavras:
Palavras CUNHADAS de mentira, engodo e capciosidade, cujo o único objetivo é fazer perdurar o status-quo concupiscente de políticos corruptos e servidores públicos concussionários.

Sem o brio próprio dos cidadãos cônscios dos seus direitos e da força quem têm, o povo enfurna-se na vala comum da pusilanimidade, enquanto os cleptocratas, em êxtase de messalina, tripudiam a justiça e se locupletam com o sangue, com as lágrimas e com o suor alheios.

Pa-la-vras... Pala-vras... Palavras:
Palavras lançadas ao vento do faz de conta, requintadas e requentadas, cheias de substâncias, mas sem nenhum propósito plausível, empastadas de bazófia e hipocrisia que só fazem aumentar a perplexidade, a confusão, o medo e a paralisia social;
Palavras que não avivam a alma tíbia e acanhada do povo simples porque não é este o objetivo precípuo das elites chupistas;
Palavras que não justificam os porquês, que não fundamentam uma resposta porque não convém à grande mídia, mancomunada com os poderosos cleptocratas, pavimentar o caminho para uma justa e legítima reação popular.

Contudo, animemo-nos esperançosos:

Sim, no fundo, bem no fundo do coração mole e contristado do povo arde, ainda que de forma incipiente e oculta, o desejo de justiça;
Sim, no fundo, bem no fundo da garganta afônica do povo arde, como se em brasa viva, a sede de justiça.

Até lá, chafurdando na lama infecta da corrupção, segue vangloriando-se das tribunas e das cátedras os cleptocratas e seus asseclas a desdenhar dissimuladamente a ética, a moral e a justiça.
Seres de caráter disforme; criminosos fadados à reprovação histórica em vida e à ignominia além-túmulo, cujos pecados hão de achá-los e submetê-los à prova no tempo devido.

Quem há de predizer qual no porvir será o dia da redenção e da justa vitória do povo aviltado em seus direitos mais elementares? Amanhã.... Quem sabe?

Afora a morte, nada é inelutável na vida. Tudo é questão de tempo e saturação.

Pa-la-vras... Pala-vras... Palavras:
Oxalá não sejam vãs, pelo menos amanhã, estas minhas palavras.

Heleno Reis
MG, 16-06-2016


Biografia:
Poeta, cronista e ficcionista desde os dezessete anos.
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