Aborto
Entreabre ela as carnes pudicas
E dele nela outra carne entra... Gozos...
Vidas que se fundem lúbricas,
Gametas que se unem viscosos.
Célere o tempo avança e fecundo
O ventre a fêmea odeia histérica
O que ala chama de azar imundo,
Algoz do ócio e da sua estética.
Rasgar-lhe-á ele as entranhas
Sanguíneo, placentoso e feio?
Sugar-lhe-á ele esfomeado o seio?
Não! Vilipendiado por diabólicas sanhas,
Um serzinho inocente, vítima de aborto,
Amanhece em uma lata de lixo... MORTO!!!
Heleno Reis
São Paulo, SP, maio de 1978
“Se aceitarmos que uma mãe mate seu filho dentro do próprio ventre, como poderemos impedir que as pessoas matem umas às outras???”
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