Queria palavras com asas,
que voassem sobre as casas
onde dormem aqueles que nada tem,
nada, nem ninguém
para dar-lhes uma palavra de amor,
um risco da mais pura cor,
um naco de sentimento,
de bem, de calor...
Queria palavras como furadeiras,
que varassem as trincheiras
onde estão os que impedem o caminho,
que lhes sangrassem os corações
como água transformada em vinho...
Queria me desmanchar como faz o corpo do ar,
segurar a mão de quem parte para o além,
devolver a quem tudo perdeu uma gota do mar
das coisas separadas do direito de quem
não pode nem ao menos reclamar...
Queria ser o juiz do juízo final,
no alto do mais alto que possa existir,
sem ouvir reclamações e nem pedidos do mal
e nem do bem, julgar por saber poder exigir
o último ato da consciência de toda
a humanidade,
saber perdoar mesmo depois do já feito,
nada ocultar, nem fora e nem dentro do peito,
escancarar, se existir, toda a verdade...
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