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5 CONTRA 1
Cleber Inacio


5 contra 1


Karina estava deitada , as pernas abertas e o rosto coberto com uma fronha . Aguardava pelo grande momento , pela estocada , pelo coito animal prometido . Então pensei : tem algo errado. Você espera que até os cinquenta a canção seja tocada de acordo com a regência do maestro , que os tambores rugirão ao seu comando como trovões e todos os atos poderão ser reescritos na última hora soando como uma bela alegoria espontânea . Quando as coisas começam a dar errado muito cedo , quando seu corpo para de responder a estímulos naturais a sensação de mortalidade se apresenta na fragilidade da carne ...
A primeira vez de uma broxada é como a sua primeira vez no sexo . Digo , é confuso e você não sabe como prosseguir . Eu sabia que um dia todas as drogas , as bebidas e o cigarros tudo temperado com uma má alimentação cobraria seu preço . Mas não tão cedo . Karina aguardava o próximo passo .
- Vamos lá , faça seu home rum , campeão !
Droga , eu pensei .
- Estou fora .
Ela tirou a fronha que cobria seu rosto e suas lentes azuis me acertaram .
- Oque ? O que está fora ?
- Não consigo , não vai rolar . Acho que finalmente chegou minha vez , acho que todo vigor físico começou a me abandonar . Esse deve ser o sinal que deus dá para avisar que você está ficando velho .
Ela se sentou no colchão posto no chão , pegou a garrafa de vinho e tomou um trago . Seus seios me encaravam e eu pensei : o que tem de errado comigo ?
- E o que vai querer fazer ?
Perguntou ela , pegando um dos meus cigarros .
- Podemos sentar , conversar e terminar o vinho . Podemos assistir a um filme , você pode cozinhar , pintar as unhas dos pés …
Karina começou a se vestir , colocou o sutiã e me pediu a calcinha .
- Você ainda me deve 100 pratas , garanhão .
Lhe entreguei a calcinha vermelha de renda marcada com uma fina mancha de merda . Por mais assustadoras que possam parecer , as mulheres ainda são humanas .
Fui até a cozinha com os pés descalços , apanhei a carteira sobre a mesa . Na pia uma semana de louça para lavar , abri a geladeira e apanhei uma cerveja . Karina surgiu com seu vestido preto de festa e sandálias com brilho .
- Tome , 50 pratas .
Falei .
- Nada disso , o trato era 100.
- Mas você não fez nada ! É grana fácil !
- Foi você quem não fez nada . Eu estava lá , pronta , e você negou fogo . Acho que é uma bichona , mas isso não é da minha conta . Só me interessa as 100 pratas que me deve !
Ela ameaçou ligar para seu cafetão . Era um negro de metro e noventa com duas toras no lugar das pernas .
- Você não ousaria .
Desdenhei . Ela foi até o telefone na sala e discou os números .
- Fuminho – Falou ao telefone – tem um engraçadinho aqui , tá dizendo que não vai pagar porque não deu conta de me comer .
Então ficou em silêncio ouvindo , e depois repetiu o que ouviu para mim .
- Fuminho disse : ou você paga com grana ou com sangue .
Lhe entreguei a grana .
- Fuminho , o viadínho me pagou . Aborte a missão .
Então , mais uma vez ela repetiu o que ouviu de Fuminho :
- Fuminho lhe desejou boa noite . E nunca mais me procure .
Karina saiu e parou na garagem , meu carro estava parado na calçada . Eu estava na porta esperando ela dar o fora .
- Hey , tem que me devolver ao meu ponto .
Mandei ela se foder . Tranquei a porta e pude ouvi la praguejando . Pude ouvir quando pegou um tijolo e acertou meu para-brisa . Disse que cagaria e esfregaria a merda no capo . Minha vizinha ouvindo a bagunça saiu e disse que chamaria a policia .
- Vai se foder , perua .
Disse Karina , depois saiu andando . Esperei alguns minutos para sair ver o estrago . O para-brisa tinha um trinco , parecia um raio que cortava de ponta a ponta . A vizinha apareceu no portão novamente , me perguntou quem era aquela .
- Minha terapeuta .
Eu falei .
- Aquela ali ? Parece que é ela quem precisa de uma terapeuta .
- Foi isso que eu lhe disse . Não digeriu bem as palavras .
Nos ficamos parados ali , nos encarando . A vizinha tinha um sorriso bonito , era o que eu mais gostava nela , era sabido que era uma fofoqueira de primeira e que logo o bairro , a cidade , o país saberia daquele pequeno incidente . Mas sempre que ela sorria era mágico , você se sentia engraçado e importante . Imaginei que não seria tão ruim acordar ao lado de algo tão belo todas as manhas, vestir a roupa e escovar os dentes , sabendo que quando a jornada do dia acabasse em casa seria recebido com um sorriso de boas vindas , e eu imaginei um plus , ela me perguntando : - como foi seu dia , amor ? E eu lhe respondendo : - foi um inferno , haviam pessoas e chefes e gente achando que mandava em alguma coisa e pessoas que acreditavam ter a razão de tudo , mas agora está tudo bem . Seu sorriso é a única coisa realmente bela que faz tudo valer a pena . E tudo bem que eu jamais fosse dizer uma coisa dessas , porém no fundo , era o que eu sentiria .
Na manha seguinte o telefone tocou , estava na minha mesa no trabalho, procrastinando o tempo , tentando vencer no jogo de paciência . Fechei a tela depois de alguns toques .
-Alo ?
Fiquei em silêncio .
- Alo ?
Continuei em silêncio .
- Posso ouvir sua respiração .
Desliguei o telefone .
Esperei algo acontecer , esperei alguém entrar na sala com um discurso pronto .
'' Qual o seu problema ? Porque age assim ? ''
E não demorou muito , ela veio , era Samanta .
- Seu idiota , não sabe usar o telefone ?
Samanta usava vestidos que deixavam suas pernas a mostra . Eram pernas roliças e brancas ,começavam grossas desde as canelas , se movia com destreza , sabia que homens a desejavam , falava de modo provocativo e sempre que falava , para ter certeza de que seria ouvia , mantinha uma distância não maior que 30 centímetros do seu corpo . Samanta cheirava a framboesa , seus cílios postiços beiravam o cômico e a maquiagem pesada nos olhos não acrescentava em nada para seus olhos castanhos . Mesmo assim era capaz de deixar um palhaço sem graça .
- Escuta aqui . Você está atrasado , ainda não entregou o que o chefe lhe pediu na semana passada , e se você se fode , eu me fodo , porque sou em quem corrijo seu material de merda . Então acho bom você dar um jeito ainda hoje e resolver essa merda toda ! Se isso não acontecer , vou te foder direitinho . Seu esnobe de merda .
Então ela se virou , e quando fez a volta sua mão bateu no meu pau , e foi uma mão pesada , senti os calafrios subindo da ponta dos pés, correrem pelas pernas e saltarem para barriga até gelar o rosto .
- droga !
Eu disse por impulso . Samanta se virou , me viu com a mão pressionando minha piça e disse :
- seu tarado de merda !
Tentou me acertar uma cusparada , desviei e ele caiu sobre algumas folhas na minha mesa. Eram o trabalho da semana passada . Decidi que ele ficaria para semana que vem .
Na hora do almoço o velho ford deu trabalho . Manhoso , refugou a partida por algumas vezes. O motor girava e logo parava , me certifiquei de que havia combustível , abri o tanque de coloquei o ouvindo no buraco da bomba depois de balançar o carro , então pude ouvir a gasolina ali dentro se mexendo . Voltei para dentro , virei a chave mais algumas vezes , então houve um estouro no escapamento , uma nuvem de fumaça preta subiu e o motor começou a girar e não parou mais . Engatei a primeira , soltei a embreagem , o carro saltou para frente , as rodas patinaram e logo ganhei a rodovia .
Encontrei alguns caras no almoço , alguns conhecidos , vagabundos , me abordaram logo que sai do carro me pedindo dinheiro .Achavam que eu era rico , bem de vida , simplesmente porque dirigia um carro velho e não precisava esmolar .
- Vamos lá , cara , só uma ajuda para a garrafa ..
Disse o que fedia a mijo . Seus cabelos eram oleosos e o hálito exalava a vinagre . Outro se aproximou , reclamou de fome , usava cadarço como cinta , os cotovelos ralados e um olho roxo .
- Eu só preciso de um pão , depois posso voltar a beber .
Ele me disse . Eu não lembrava dos nomes , mas ambos haviam estudado comigo . Os dois eram os caras que as meninas grudavam como carrapatas , e eles catavam todas , jogavam bola , eram artilheiros , tinham bikes legais , fumavam e agiam como babacas , mas o tipo de babaca que você quer ser quando se tem 12 anos . Onde foi parar todo aquele potencial que até mesmo os professores achavam que eles tinham ? La estavam os dois , padrões selecionados de um futuro que nunca chegou . Lhes entreguei algumas moedas que tinha nos bolsos , e o do hálito de vinagre contou ali na minha frente o que tinha acabado de receber .
- Isso não dá para uma dose !
Protestou .
- Lute , mereça , faça por você e por ninguém mais .
Falei , ele me encarou ,a pontou seu dedo na minha cara e disse :
- Eu sei que você tem mais ai . Sei que tem mais dinheiro .
- Com certeza tenho .
Falei .
- Na escola eu poderia ter arrebentado sua cara , mas nunca o fiz , tinha pena de você , agora deveria retribuir esse favor .
O sol estava realmente forte , tinha suor na minha testa e começava a sentir fome .
- Escuta aqui , na escola você era o rei , aqui perdeu sua coroa , aqui é um merda como todos aqueles que te seguiam . Talvez um e outro tenha se salvado , sido resgatado a tempo . E não estou falando de deus , estou falando da ignorância . VOCÊS DOIS SÃO UMA VERGONHA PARA SEU PAIS!
Os dois sentiram minhas palavras . Ouviram de cabeça baixa . Me virei e comecei a seguir meu caminho , mas depois de alguns passos me voltei para decretar :
- Talvez vocês estejam caminhando por ai para manter o equilíbrio das coisas . Enquanto pensam nisso , podem começar a cavar suas covas . Dizem que o petróleo está acabando . Sirvam de algo !
Me senti bem com aquilo , entrei no restaurante e falei para mim mesmo que merecia a tarde de folga .
Era um restaurante self service . Logo a fila era um tanto quanto grande , mas estava bom para mim , teria a tarde de folga e os ventiladores estavam ligados , o lugar estava tomado por cheiro de comida fresca . Fiz meu prato . Nada de arroz ou feijão . Coloquei peixe, bolinhos de queijo , carne de porco , empanados de frango e duas fatias de tomate . Procurei por uma mesa livre , todas estavam cheias , mas havia uma ao fundo ao lado dos banheiros . Aquela sempre ficava livre , era o meu lugar . Era uma mesa para dois , me sentei , estiquei as pernas e as apoiei na outra cadeira . Bebi um pouco do suco de melancia . Tinha um ventilador que me acertava em cheio ali . O melhor lugar da casa . Sozinho e fresco . Ataquei os empanados e o peixe . Comi sem pressa , degustando o sabor . Encontrei uma espinha nos files de peixe-frito . A coloquei sobre a mesa .
Observava os tipos que me cercavam. Homens de terno barato , mulheres de saias apertadas e salto alto , uma mãe com seus dois filhos , dois moleques de aproximadamente 10 anos, ela aguardava que comecem com os cotovelos apoiados na mesa . Um típico morador das ruas fazia seu prato usando chinelo de dedo e barba de um mês . Enfiei outro bolinho de queijo na boca quando vi essa garota se aproximando , ela vinha na minha direção com seu prato na frente do rosto , usava vestido de cores gritantes e tênis all star . Baixei a cabeça e me concentrei nos empanados de frango. Enfiei uma fatia de tomate na boa .
- Hey ! Posso me sentar aqui ?
Não precisei olhar para saber que era a garota . Seu prato e seu copo de refrigerante já estavam sobre a mesa . Duda , era Duda, nos conhecíamos , eramos conhecidos , não amigos .Duda era uma pessoa de altos conflitos pessoais . De uma hora para outra seu sorriso se transformava num ranger de dentes e seus olhos brilhosos ganhavam uma cor escura e sombria , Puxei meus pés das cadeiras a frente e ela se sentar .
-Que dia, hen ?
Disse ela . Tinha fones nos ouvidos , colocou o celular sobre a mesa e apertamos as mãos .
- Olha , estou sem tempo , preciso comer rápido , ainda tenho que ir no banco , preciso abastecer o carro , tenho tantas coisas para fazer e nenhum tempo . Os dias poderiam ter vinte e seis horas , quem sabe trinta .
- Eu não suportaria um dia com trinta horas . Vinte e quatro me parecem o bastante . Pense , com trinta horas pessoas transariam mais , nasceriam mais crianças que se tornariam adultos rancorosos e consumiríamos ainda mais depressa os recursos da terra . Em pouco tempo estaríamos caçando uns aos outros , comendo a carne do traseiro do cara que entrega o leite e caçando os carteiros com arpão . Seriamos como aqueles jogadores de rúgbi nos Andes .
Duda riu .
- Mas que coisa horrível . Você não mudou nada .
Uma loira saiu do banheiro enxugando as mãos num bolo de papel toalha . Acompanhei seu rebolado , a calça de ginástica parecia que estouraria as pregas de tão apertada .
- Hei , hei … estou aqui , estou vendo você secando o traseiro daquela mulher .
- Você viu a calça daquela mulher ? Parecia que as pregas saltariam a qualquer momento .
Duda fez um sinal de reprovação com a cabeça .
- Vocês homens são todos iguais ..
- Todos iguais ?
- E não ?
- Não acho . Cada homem tem sua maneira diferente de fazer merda .
- Credo . Melhor calar a boca e comer .
Foi o que fiz . Duda começou a comer , tinha muita salada no seu prato , comia de vagar e bebia o refrigerante em goles pequenos . O movimento era grande , era como se ninguém se sentasse para comer , ainda sim todas as mesas estavam lotadas . Era dia de pagamento , todos indo pra desforra com o bolso cheio antes de distribuir o pouco que tem nas lojas de crediário . O telefone de Duda vibrou , ela o pegou e leu algo . Sorriu , olhou para mim e perguntou se eu estava solteiro .
- Sim .
Respondi .
- Eu estou namorando um cara ai . Estou saindo com ele . Mas acho que já posso chamar de namoro . Ele é tão doce e gentil . Trabalha numa concessionaria .
- É mecânico ?
- Não ! Credo . É vendedor . Está estudando contabilidade .
- Então é bom com os números …
- Vai montar seu próprio escritório e ganhar muito dinheiro .
Duda também sonhava acordada .
Seu telefone vibra novamente , ela olha e lê a mensagem . Responde com um sorrisinho no rosto , espera um pouco e outra mensagem chega . Ela deixa escapar uma espécie de espirro feliz . Outra mensagem chega . Ela não percebe quando vou até o caixa e pago minha conta , volto para ir ao banheiro , lavo minhas mãos , molho o rosto . Quando volto para me despedir Duda está com o celular no ouvido , parece chorar , apoia os cotovelos na mesa , chego para perguntar o que aconteceu , e antes que eu consiga ela solta :
- Seu porco cretino ! Vou queimar a sua casa e vou fazer isso com você amarrado na cama com essa piranha !
As mesas ao lado ouvem tudo , mas fingem não ter ouvido nada , ainda sim prestam atenção na conversa .
- Não me interessa se ela é sua irma ! Você nunca me disse que tinha uma irma , e ela não se parece nada com você ! Aposto que está trepando com ela , aposto que vão ter um filho com um braço na testa e se isso acontecer vou vender essa criatura fruto do pecado para um circo Horror Show !
Fui até o caixa , deixei Duda exaltar sua fúria , paguei sua conta e fui embora .
Resolvi passar na casa de Fábio . Toquei a campainha , eram duas da tarde e encontrei a porta aberta . Toquei a campainha novamente , o cadeado estava fora , entrei e chamei na porta , ninguém atendeu . Entrei na sua sala , não percebi nada diferente. Uma casa bem organizada , Fábio era do tipo organizado , pagava uma faxineira que aparecia uma vez por semana e tirava o pó de tudo , inclusive do lustre de cristais falsos que ostentava sobre a mesa da cozinha .Na mesa uma fruteira com frutas frescas ; bananas e maças , as maças nem pareciam ser de verdade de tão brilhantes . Na pia nenhuma gota de água , o fogão parecia nunca ter sido usado . Abri a geladeira , nada de água de torneira, garrafas e mais garrafas de água mineral e leite desnatado . A comida selada a vácuo , o congelador sem crostas de gelo . Bati palma na cozinha na esperança de Fábio aparecer , nada . Fui até o banheiro ; seco e cheirando a lavanda . Ergui a tampa da privada e dei uma boa mijada , senti vontade de cagar . O lugar pedia isso , os rejuntes dos azulejos brancos , o sol entrava pela janela e enchia a banheira com controle de temperatura . Um bom banho ? Fazia calor la fora, um dia quente , cada dia mais quente que o outro . Ouvi passos no corredor , fechei o zipper e dei a descarga , um vulto correu para dentro de um dos quartos , apanhei o rodo no banheiro e pensei que se fosse um ladrão , um tarado , o atacaria com seu cabo como um esgrimista faz . Segui cautelosamente na direção do quarto , ouvi passos e uma porta batendo .
- Fábio ?
Chamei .
Enchi me de coragem , acelerei os passos e ganhei o cômodo . Encontrei Fábio amordaçado e algemado a cama ,ele me olhava com espanto , estava nu de costas para cima . Tentou dizer alguma coisa . Atrapalhado pela mordaça ele disse algo como : não que estivesse no banheiro pudesse ouvir , vou mutilar esse animal que fez isso com você , parceiro .
Avancei na direção do banheiro do quarto enquanto Fábio esperneava e se debatia . Quando estava para atravessar a porta um sujeito de metro e noventa surge , enrolado numa toalha com as mãos para o ato . Era todo músculo , careca e sua pele tinha um tom laranja de bronzeado artificialmente .
- Eu não tenho dinheiro – falou o grandalhão – o cara do dinheiro e ele .
Apontou para Fábio .
- Mas que merda é essa ? Quem diabos é você ?
Perguntei .
- Só faço isso para ganhar a vida .
Fiquei confuso , fui até meu parceiro e tirei a amarra de sua boa , mantendo o cabo da vassoura apontado para o grandalhão laranja . Ele , por sua vez , permaneceu de mãos para o alto .
- Isso não pode sair daqui !
Foram as primeiras palavras de Fábio .
O grandalhão então disse :
- De minha grana , eu quero dar o fora logo .
Mandei ele calar a boca .
- Se disser mais uma palavra arrebento esse cabo de vassoura na sua cabeça !
Num movimento rápido e inesperado , arrancou a pseudo arma de minhas mãos a dobrou como palitos de dentes , jogou as duas partes no chão e ficou me encarando .
- O que vai fazer agora ?
Só tinha uma coisa a ser feita: Era preciso me impor . Fechei os punhos e num salto tentei lhe acertar um soco na face , ele desviou de me encheu o estômago com uma joelhada , depois com o cotovelo me acertou as costas . Caído no chão vendo suas unhas dos pés bem feitas ouvi Fábio tentar dizer mais algo , e o grandalhão foi até ele , tentei agarrar suas pernas , mas ele se desvencilhou , me acertou o calcanhar na boa e o sangue logo começou a escorrer .
Inferno , ele estupraria Fábio bem ali na minha frente !
- A grana está na carteira …
Ouvi meu parceiro dizer .
- A carteira está nas minhas calças .
O grandalhão encontrou a calça sobre uma poltrona no quarto e procurou pela carteira . Pegou algum dinheiro e devolveu a carteira na calça .
Passou por mim , entrou no banheiro , pegou suas roupas , se vestiu ali na nossa frente enquanto tentava estancar o sangramento com a mão .
- Não me ligue mais .
Disse o grandalhão antes de dar o fora .
Ouvi a porta da sala bater , o portão abrir e o click do cadeado .
Fábio me encarava , ambos nos encarávamos esperando alguém dizer alguma coisa. Eu já tinha sacado : Fábio dava a bunda .
Ele estava sem a mordaça , e com os olhos suplicantes pediu :
- Cara , ninguém pode saber disso . É o nosso segredo . Me promete , o nosso segredo !
Me levantei , joguei um lençol sobre seu rabo branco , depilado e arrombado . Com uma de suas camisetas de seda que tirei do armário estanquei o sangue do lábio . Ele pareceu não gostar de ver uma de suas camisetas caras sendo manchada com meu sangue , mas não disse nada .
O soltei , a chave das algemas estavam sobre a mesinha de cabeceira . Ele mesmo soltou seus pés .
- Você não tinha que ver isso , cara . Não era pra ninguém saber ..
No espelho do banheiro olhava o estrago no meu lábio . Não era grande coisa. Um pequeno corte .
Fábio apareceu na porta vestindo uma bermuda .
- Não conte isso a ninguém , prometa !
- Vai te fude ! Pensa que sou oque ? Uma velha fofoqueira ? Isso não é da minha conta . Seja feliz enchendo a bunda , e me convide para o casamento quando acontecer .
Passei por ele , suas mãos agarraram meu braço .
- Não fique chateado comigo , cara. Continuamos de boa , somos amigos ?
Pensei que o desgraçado iria me beijar .
- O que eu vi aqui não muda nada . Grandes homens são gays . Oscar Wild adorava isso aqui que você gosta . Mas também existem grandes homens héteros . Contanto que você não queira me alistar no seu exército ,nada muda .
Apertamos as mãos . E como sempre , ele parecia querer esfarelar meus os ossos .
Já passavam das onze da noite . A banda tocava no palco uma musica autoral . Não muito boa , a todo momento as pessoas , o publico , pediam covers , e a banda nunca tocavam . As pessoas com seus copos e cigarros não queriam ouvir , queriam puxar pela memória grandes sucessos e não ter de se preocupar com armazenar algo novo . Dei uma volta próximo ao palco , garotas de roupas rasgadas e mechas rosas nos fios descoloridos , vestindo preto e desfilando com um copo de bebida nas mãos .Garotos de olhos pintados , com mais maquiagem que minha mãe , agarrados a garotas tão lindas quando o maior pecado de Deus . Aquilo me deprimia , eu estava velho demais para isso , velho demais para encher a cara e me acotovelar numa roda punk . Aos poucos me tornava o terror de Peter Pan .
Paguei a conta e sai . Dirigi algumas quadras sem saber para onde estava indo .
Havia sido um dia horrível , as pessoas e suas loucuras pareciam me seguir . Um carro a minha frente parou , uma pessoa desceu . Estávamos de frente para uma farmácia vinte quatro horas . Uma garota saiu e o carro permaneceu parado , atravancando todo o caminho ,ocupando metade da rua sem se importar . Era um carro modelo novo , toda branco , o pisca alerta desligado . Numa manobra para seguir viagem um carro e uma , ouvi um :
- Filho da puta , mova essa carroça dai !
O cara deveria ser surdo , porque não deu a miníma , e a garota que saiu e foi até a farmácia retornou quase 5 minutos depois rindo com um vidro de álcool nas mãos . Entrou no carro e os dois partiram naturalmente , como se tivessem acabado de sair do cinema . Os carros então começaram a se mover cada um para seu destino , eu segui o meu , incerto , guiei mais alguns quarteirões parando em faróis vermelhos na escuridão , parei nas faixas de pedestres , desviei de buracos , me vi perdido até que me localizei , a rua começou a ser poluída por pessoas , em algum lugar tomei alguma esquerda que me trouxe a uma festa de rua , música bebida , bêbados , tive de parar , não havia como seguir em frente , era como nadar contra a onda . Desci do carro , o estacionei bem atrás de outro com porta-malas aberto destilando som e fúria . O velho Ford tremeu todos os seus parafusos com as pancadas do incrível equipamento de som que gritava para uma multidão que se aglomerava entorno junkebox motorizada .
Segui em diante , me infiltrei na massa , me acotovelei até chegar a uma barraquinha que vendia cerveja e conhaque com gengibre . Pedi um de cada , a cerveja veio num copo plástico ,estava gelada e matei o primeiro logo ali em frente a barraca , novamente entrei numa fila e busquei espaço até conseguir outro copo , encontrei um lugar livre para sentar , era uma praça , uma fonte desligada servia de assento e um coreto era tomado por tipos hippies de violão e baseado na boca .
O banco estava quebrado , o encosto inexistia . O encontrei jogado no canteiro a alguns metros . Tentei ficar confortável e tomei um trago do conhaque , desceu quente e aqueceu o estômago . Foi quando notei que o tempo esfriava . Matei o copo de conhaque e fui até o carro buscar uma blusa , no caminho avistei de longe meu antigo chefe . Meu ex chefe era magro , alto , cabelos grisalhos e sempre usava camisa branca de manga longa   e calças jeans . Caminhava nervoso , gesticulando e falando consigo mesmo , quando você se aproximava para uma conversa seus olhos jamais encontravam os seus. Era um homem temido dentro dos muros da empresa , jamais visto fora deles , devia ser uma espécie de fantasma que assombrava os funcionários , um arroto de maldade ; pelo menos era o boato que rolava nos banheiros e nas escapadas para o cigarro . Foi um choque para mim encontrar com ele ali , caminhando entre os vivos de mãos dadas com uma cinquentona oriental . Tentei ignorar sua presença , desviei o olhar , e pelas costas ouvi uma voz dizer :
- Hey , Oliver !
O sotaque do sul penetrou e se destacou em meio ao burburinho acretando meus ouvidos .
Ignorei , segui em frente depois do choque , mas sua mão pousou no meu ombro , mãos delicadas que nunca trabalharam de verdade .
- Ola !
Eu disse , olhando para sua garota cinquentona oriental . Ela tinha os cabelos louros e muita maquiagem nos olhos . Estava escrito na sua cara , na forma como mascava chiclete : prostituta . Olhei para meu ex chefe e lhe dei uma piscadela . Ele ficou sem jeito .
- Bom , essa é Pandora .
- Ola , Pandora .
Lhe estiquei a mão , ela fez o mesmo movimento . Suas unhas postiças vermelhas estavam mal coladas . Não tinha classe , se equilibrava sobre o salto agarrada ao meu ex chefe .
- Onde vocês se conheceram ? Formam um lindo casal .
O homem corou , sempre fora um tipo reservado , mas agora , depois de tanto tempo , notava alguma coisa diferente nele . O simples fato de o encontrar infiltrado numa multidão já era algo assustador .
- Bom , temos amigos em comum …
Falou a oriental .
Com meu ex chefe visivelmente desconfortável , achei que era a hora de caminhar por cima .
- Não estou vendo aliança , garanhão – lhe dei um tapinha nas costas – quando vai pedi la em casamento ? Se demorar muito pode perder a chance . Mulheres bonitas assim devem ter listas de pretendentes . Não marque bobeira , não seja idiota .
Há … e como foi bom dizer aquilo : idiota . Fazia anos guardava isso entalado na garganta . E agora na rua ele não era nada , qualquer palavra errada sua e eu esfolaria seu rosto no asfalto .
O homem me encarou , senti que diria alguma coisa , que ameaçaria me demitir .
- Pandora , esse cara foi meu chefe , um verdadeiro cafajeste , um abutre . Torço para que seja esperta o suficiente e cobre o valor do serviço adiantado .
Me sentia muito bem a cada palavra que saia da minha boca . O homem me encarava , já tentava se afastar da garota oriental como se sentisse vergonha de estar ao seu lado . Ele era um resumo do que fora um dia : era um trapo velho e usado , nada de magnânimo , nenhum brilho leitoso . E quando se afastava cambaleante servindo de encosto para sua garota de programa , tive a certeza : estava desempregado . Velho e acabado , fora expulso de seu castelo .Fiquei feliz ao sacar isso , mas a felicidade foi logo se desmantelando , no final das contas isso me ajudava em que ? Me senti deprimido , voltei do meu carro com a blusa no ombro , esqueci do frio enquanto me acotovelava com outras pessoas tentando encontrar uma saída . Retornei ao meu banco sem encosto , debaixo de uma árvore que parecia chorar , pesada com seus galhos cheios .
Ela segurava um copo de caipirinha , se mostrava bastante simpática com o sujeito que com papinhos ao pé do ouvido buscava algo mais que seu sorriso . Para a maioria dos homens basta a garota sorrir de uma piada boba que saiu de sua boca , e esse é o sinal para cair matando . Essa cena me tomou a atenção . Fiquei pensando como esses caras conseguem , fazem parecer tão fácil agir como animais desprovidos de raciocínio . Carência , vejo carência em todos os lugares , todos querendo chamar a atenção para si . O sujeito tentou um beijo , ela se afastou , mantinha o sorriso simpático , uma simpatia incomoda . Ela tinha um cigarro nas mãos , o cara um isqueiro . Provavelmente tudo começou com ela pedindo fogo , e o babaca não conseguiu entender que era apenas fogo ! Matei minha cerveja , já começava a esquentar , puxei um cigarro e fui ate os dois. A garota viu que me aproximava enquanto o cara continuava matracando tentando ganhar terreno . Parei ao lado dos dois sem dizer nada , a garota me fitou de canto de olho , o sujeito continuou a matracar . Levei o cigarro boca .
- Boa noite – eu falei – alguém tem um fósforo ?
Percebi o cara levar seu isqueiro para o bolso .
A garota da de ombros .
- Sinto muito .
- Oh , tudo bem . Meu dia já não começou bem mesmo . Talvez essa seja a melhor coisa que me aconteceu até agora , nada de cigarros , preciso parar com essa porcaria .




**

São como baratas saindo do esgoto . É uma profusão de pessoas carentes buscando relacionamentos vazios para ocuparem um espaço sem sentido nas suas vidas .
A garota bebia a caipirinha em goles pequenos . Eu me sentia bastante confortável ao seu lado com meu copo de conhaque com gengibre . Ela bebeu um pouco e não gostou .
- Obrigada por me salvar daquele sujeito . Ele era simpático , mas sei lá , tava com uns papos estranhos .
O cara agora tinha outra vítima , de alguma forma conseguiu usar o mesmo truque , mantinha o isqueiro nas mãos e a garota o cigarro . A maldita vontade de fumar a fazia aturar o papo furado . Então saquei um cigarro e meu isqueiro . Acendi e entreguei o fumo a garota . Ela olhou pro prego em chamas e depois apontou.
- Safado ! Você tinha fogo !
- É o mínimo que um fumante tem de carregar . Cigarros e fogo.
Ela deu um bom trago , soltou a fumaça pelo nariz e o restante pela boca .
- Eu não sou fumante .
- Esses não são cigarros de chocolate .
- Eu quis dizer que não sou uma fumante compulsiva . Fumo as vezes , quando saio , quando me sinto deprimida , quando estou nervosa …
- Ok , fuma para aliviar a tensão, certo ?
- Exato .
A garota era tímida e bom papo . Olhei para os seus dedos e não vi nenhuma algema .Em certos momentos quando o silêncio entre nos predominava e papos alheios preenchiam o espaço , sons de isqueiros e arrotos , eu simplesmente me contentava em estar ali sentado , esperando ela dizer alguma coisa . Um cão passou por nos , amarelo e pelo encardido , cheirou a mão da garota , ela lhe correu as pontas dos dedos em sua cabeça , ele mostrou satisfação , fechou os olhos e balançou o rabo freneticamente. Mas logo ergueu as orelhas , como se alguém o tivesse chamado e saiu correndo trançando entre pernas humanas . A garota cheirou as pontas dos dedos .
- Éca , fedido .
- Olha , estou indo pegar outra bebida , quer algo ?
- Ah , eu acho que vou querer outra capirinha .
Ela se levantou , suas pernas dançaram e fraquejaram . Agarrei-a pelos braços .
- Droga , acho que estou bêbada .
- E tem certeza que quer beber mais ?
- Hun , prefiro ficar aqui sentada tomando algo com você a ser assediada por caras estranhos .
Ela tomou seu equilíbrio , apoiou a mão esquerda no meu ombro direito .
- Desculpa, não se importa que eu me apoie em você , né ? Pode dizer se eu estiver te enchendo o saco .
- Não encana .
- Ah , legal , então você vai ser meu porto seguro essa noite . Até se cansar , claro .
A barraquinha de bebidas estava lotada , como antes , pessoas apoiavam os cotovelos no balcão sem saber oque pedir . Olhavam a cartolina com os preços sobre o freezer e se mostravam indecisas e confusas . Outras contavam as moedas e torciam para encontrar algo que pudesse ser colocado no copo .
- droga – eu disse – qual o problema desse povo ? É tão difícil assim se embebedar ?
A garota estremeceu , perguntei o que era .
- Acho que estou com frio .
- Como pode ter dúvida se sente com frio ?
- Ué , só não tenho certeza .
Desamarrei a blusa que carregava na cintura e lhe ofereci .
- Legal , mas quando sentir frio me diga que eu te devolvo .
Depois de algum tempo chegou a nossa vez . O rapaz que nos atendeu estava visivelmente alcoolizado , mantinha um copo de qualquer coisa ao lado da chapa onde eram feitos os lanches .
- E ai , o que vai querer ?
Até aquele momento eu tinha certeza do que pedir . Era cerveja e conhaque com gengibre .
Mas como uma onda que lave as conchas e traz outras , fiquei confuso , indeciso , me lembrei que não carregava grana o suficiente para cerveja e conhaque . Eram tantas opções na cartolina escrita a mão !
- Impossível – eu falei me virando para a garota que se agarrava ao meu braço – não sei o que pedir !
- Porque não dividimos uma caipirinha . Não to a fim de beber uma toda sozinha .
- Uma caipirinha !
Falei ao cara , que se virou , tirou suco de limão pre espremido de uma jarra e colocou no copo junto com pinga e açúcar . Em menos de 15 segundos preparou o drink e levou nossa grana . Sedemos nosso lugar para outras pessoas .
- Sabe de uma coisa , acho que te conheço …
Me disse a garota enquanto eu bebia um trago . Estava horrível , não parecia caipirinha , não lembrava pinga e era doce como mel . Notei que no fundo do copo se acumulava uma quantidade enorme de açúcar . E claro , não havia gelo .
- É como se eu te conhecesse a muito tempo …
- Tenho um rosto comum e tento agir como qualquer outro ser humano normal .
Paramos , ou , ela parou , me segurou , olhou para meu rosto como se procurasse algo familiar nele .
- Não é estranho , como as vezes estamos com pessoas que nunca vimos antes e parece que a conhecemos a tempo ?
- Você acredita em reencarnação ?
- Eu não , bolas , sou ateia .
- E o que isso tem a ver ?
- Só não acredito nisso .
- Então morreu esta acabado , os vermes te comem e é fim de papo ?
- Exatamente .
- Porra , no final das contas é o que sabemos , o resto é história não ocular ou coisa que o valha .
Nos sentamos no nosso banco , a garota se afastou um pouco com o copo na mão , cerrou os olhos e disse :
- Você não é nenhum tarado pervertido , é ?
- Só nos meus sonhos .
- Hun , você não parece ser tão ruim .
- Baby , eu sou o mal em pessoa .
- Duvido .Prove .
- Seus dentes , qual o problema com seus dentes da frente , são abertos , consigo ver sua amígdala por entre eles .
Ela tapou a boca rapidamente .
- Seu estúpido , você é mal !
- Eu te falei que era .
Um tipo esfarrapado se aproximou , veio com a mão aberta , os olhos lacrimejantes e começou a contar uma história de que sentia fome , não comia a dois dias , usava chinelos e calça jeans rota , magro e alto . A garota abriu a bolsa , lhe entregou algumas moedas e eu um cigarro .
- Muito obrigado , senhor . Qual o nome da sua bela namorada ?
- Eu ainda não sei .
- Não sabe ?
- Não , ainda não chegamos a esse nível de relacionamento . Não se diz o nome para um estranho .
O homem se afastou , deve ter me achado louco , agradeceu e se foi , foi direto para a barraca de bebidas afastar a fome .
- Então , não se diz o nome para um estranho ?
- Acho pouco seguro .
Tomei um gole da caipirinha .
Ela esticou a mão .
- Me diga seu nome , vamos deixar de ser estranhos...
As vezes as coisas estão mal , fedidas , as pessoas te encaram buscando briga ou esperando que você as surpreenda . Tem dias que o sol nasce só para rir da sua cara . Mas a vida é sacana. Sempre te colocando diante de situações constrangedoras só pra te ver rebolando enquanto tenta sair dela.
- Oliver – eu digo – meu nome é Oliver …





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Se você ouviu é porque está perto , cada vez mais perto ...
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Contos 5 CONTRA 1 Cleber Inacio


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