Se você encostar os ouvidos à parede de qualquer um desses prédios em que se amontoam pessoas de gravata, máquinas de café e impressoras, certamente essa parede não dirá nada. O asfalto, os faróis, os manequins e os outdoors também não dirão. A cidade, assim como a conhecemos, é muda. Não por deficiência, mas por uma ignorância da qual somos herdeiros: A fatídica crença de que a vida dura mais que uma pilha alcalina. A cidade apenas assiste, absorta, nossa hipnose vampiresca rumo ao amanhã: Um lugar opaco onde depositamos nossas poucas fichas. Tontos, deixamos o amor e outras alegrias cozinhando em fogo baixo. Mais tarde pode ser útil, se pensa. Só que mais tarde nós terminamos, e a cidade continuará quieta, indiferente, imprimindo relatórios no interior de seus prédios cinzentos.
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