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Maria e seu adeus ao mundo
mgpmelo

Era uma noite fria de um mês qualquer a única coisa que ela sabia era que a estação não condizia com o clima ao qual tudo se encontrava, a cidade se perpetuava em um silêncio quase mortal, algumas finas e frias gotículas insistiam em cair do céu, como um pequeno e calmo choro, como se adivinhasse o que estava prestes a acontecer, a garota da sacada do prédio olhou para o céu embora o chão fosse o seu alvo a mente mais leve do que jamais esteve durante todo aquele tempo, um vento soprou e ela quase conseguiu entendê-lo, fechou os olhos cansados já acostumada aquela escuridão logo tornou a abri-lo e olhou para dentro do apartamento ao longe notou que luz da cozinha ainda estava acessa ao se pendurar na sacada esquecera-se completamente de desligar, quando a mãe ao acordar notasse que a luz dormirá acessa provavelmente ficaria brava, entretanto por algum motivo a garota não se importou com aquela ideia fugaz.
Um pingo mais grosso de chuva tombou pelo seu rosto e morreu quase parecendo uma lágrima e a garota tornou a olhar o céu escuro novamente, mas não havia nada para se observar ali as estrelas se escondiam por baixo de nuvens espessa, a lua se recusou a mostrar sua face, mas a menina da sacada não se importava, ela sempre gostou mais de uma noite chuvosa e triste do que uma estrelada, aquela noite parecia combinar mais com ela, ela queria uma tempestade, mas se aquela pequena e calma chuva era o que o mundo iria lhe proporcionar no seu fim, aceitaria de bom grado.
Ela tornou a olhar para dentro do apartamento novamente e para o céu, aquelas ações se repetiu algumas vezes até a menina notar o que fazia e perguntou-se o que esperava e quando repetiu aquela ação talvez pela décima vez, ela não sabia que naquele momento o pai se remexeu sobre a cama talvez sentindo o que estava prestes a acontecer uma morte que estava a um pé da sacada faltava apenas uma vontade, entretanto vontade era tudo o que sempre veio arrecadando ao longo dos anos, mas a menina era tão jovem, entretanto tão cheia de cicatrizes, tão cheia de solidão e tão cheia de si mesma.
Naquele momento o chão pareceu mais tentador, mas novamente ela olhou para o céu e quase viu um pesar sobre a chuva que caia sobre a cidade, a menina se perguntou se depois de algumas horas ainda estaria chovendo, quando enfim a encontrasse estirada no chão se aquela chuva seria algo que lembraria sua morte, se quando o seu pai e sua mãe descobrisse o que tinha acontecido quando a olhasse para baixo na janela do quinto andar e a visse ali sem vida, não sendo a menina que eles conheciam. O que eles sentiriam?
Ela não sabia e também não quis entender, talvez se alguém a visse ali falaria que não valeria a pena se jogar, mas ela não queria saber se valeria a pena ou não, a garota só queria ir não importando para onde fosse, provavelmente também diriam que ela deveria valorizar mais sua vida entretanto havia tantas pessoas como ela no mundo, tantas Marias, tantas com quinze anos, tantas que se sentem solitárias e perdidas, tantas que não se encaixam em lugar nenhum, deve haver tantas que não sabem para onde fugir, o mundo não sentiria falta dela, apenas resta criar uma outra Maria, apenas desta vez uma menos perdida, menos solitária e menos imunda e pela Maria que um dia vai nascer a outra desejou-lhe boa sorte, bons pais, bons amigos, bons irmãos, uma boa vida, não uma cheia de ganância, não uma vida cheia de aparência, não uma vida com cofre em casa e que sequer pode proteger a vida frágil da filha, ela desejou lhe apenas uma vida, com algo real, com sentimentos mais verdadeiros do que a própria tristeza, ela poderia continuar a viver se fosse a Maria que está por vir, mas aquela...
- Não, não. Eu não quero ser essa Maria... - Ela sussurrou.
Por que Maria era nome de santo e ela sentia-se tudo menos o que aquele nome parecia significar, ela era suja demais e cheia de cicatrizes tanto no corpo como na alma e a garota se perguntou o que diabos a mãe pensava ao colocar aquele nome nela, talvez desejasse uma filha abençoada, mas tudo que fez foi colocá-la para fora e jogá-la no mundo -simplesmente sozinha, e embora sua casa estivesse sempre cheia, mas cheia de pessoas desconhecidas depois de um tempo a garota parou de se preocupar com isso, afinal ela também sempre esteve cheia e não era de si mesma era de algo que ela acabou arrecadando dos catorze para os quinze anos e na mudança de um numero ela achava que acabou se perdendo e se enchendo de algo que não era ela, pobre garota, mal sabia que ela sempre estivera ali, bem no cantinho escondida esperando apenas ser achada em um sacada numa noite fria de uma semana qualquer, mal ela sabia que aquela era a Maria que o mundo queria que vivesse, mas ela não se importava por que o mundo nunca lhe proporcionou nada sequer uma pista para ela notar.
- O mundo não me deve nada...
Sussurrou e o vento pareceu entendê-la, ele soprou de forma forte e vigorosa assim como a voz de seu pai, os olhos da menina se encheram de lágrimas por que pela primeira vez em sua vida algo ou alguém havia concordado e a entendido, aquele talvez fosse o entendimento ao qual sempre esteve procurando em seu pai, ela só precisava de palavras muito simples e um pouco de atenção, mas ela nunca teve e jamais teria.
Ela olhou para o chão e mais uma vez a mente se esvaziou, o coração que sempre pareceu carregar uma tristeza sem fim tornou-se leve, uma lágrima desceu pelos olhos de Maria e ela sorriu, o mundo parecia querer lhe dá uma abraço e ela saltou em direção a morte por que simplesmente teve vontade e vinha carregando dores demais, se além lhe perguntasse o por que provavelmente diria que o problema era ela que simplesmente estava cansada demais e o vento continuou a sussurrar palavras de entendimento em seus ouvidos, dizendo que tudo iria ficar bem e ela acreditou mantinha os olhos fechados e uma das coisas que chegou em sua mente foi sua mãe lhe chamando para o café da manhã que não viria e pela última vez o vento lhe trouxe nitidamente a voz do seu pai gritando seu nome, agora sua voz não transparecia raiva ou desprezo, a voz do homem era diferente parecia está com medo e com dor, talvez quase desesperado e ela pensou em olhar para cima e ver pela última vez o rosto sério e provavelmente os olhos cheio de tristeza do pai, mas não havia tempo, não havia tempo para mais nada além da morte que se aproximava, enquanto o chão preparava-se para lhe dá uma abraço terno, o carinho que sempre veio esperando de sua família e que nunca chegou e o chão lhe abraçou e tudo que a garota viu foi apenas a escuridão ao qual já estava habituada, mas o que restou não era sentimento algum, era apenas um corpo vazio...
Era apenas uma Maria caída no chão...
Era apenas mais uma garota de quinze anos inerte e sem vida...
Era apenas um pai que chorava na sacada do quinto andar enquanto o céu também chorava finas e silenciosas lágrimas.
Era apenas mais uma história acabada cheia de arrependimentos e de um pai não sabia o por que daquilo ter acontecido por que não dera atenção o suficiente...
Era apenas mais uma Maria morta, elas se suicidam todos os dias cheias de solidão e tristeza e sobretudo...
Era apenas tarde demais.

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